Um estudo realizado por pesquisadores do Centro Integrado de Estudos Georreferenciados para a Pesquisa Social (Cieg) da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) nos 185 municípios de Pernambuco aponta que apenas a cidade de Manari, localizada no Sertão do Estado e tem 21.434 habitantes, está livre da pandemia do novo coronavírus. A pesquisa também revela que a covid-19 chegou a quase totalidade dos municípios em apenas 103 dias. No entanto, segundo a Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE), o único município que não apresentou casos da covid-19 foi Mirandiba, também no Sertão.
Com o primeiro caso confirmado no Recife em 12 de março, os pesquisadores passaram a acompanhar os casos do novo coronavírus junto aos boletins epidemiológico divulgados pela SES-PE e os das prefeituras pernambucanas e encontraram, segundo eles, uma considerável defasagem entre os dados dos órgãos. Com isso, eles mapearam e analisaram a situação específica de 12 municípios que ainda apareciam como não contaminados nos dados estaduais.
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Após a elaboração do mapa, procederam para a atualização do número de casos confirmados a partir da verificação nos sites das respectivas prefeituras. Desse levantamento foi constatado que, dos 12 municípios, 10 já tinham casos confirmados. Portanto, apenas dois municípios não contaminados: Manari e Mirandiba.
Para realizar a pesquisa nesses municípios, os estudiosos buscaram informações por telefone junto às respectivas prefeituras e secretarias municipais de saúde nesta segunda-feira (22). A partir desses contatos, foi constatado, então, que Manari tem casos sob investigação e Mirandiba já apresenta uma morte suspeita em decorrência da covid-19. Com isso, Manari é o único município, até o momento, sem casos confirmados do coronavírus em Pernambuco.
O site da Fundaj conta com um mapa da doença atualizado. A última atualização dele mostra como a pandemia se disseminou em quase todos os 185 municípios pernambucanos em pouco mais de 3 meses. De acordo com a Fundaj, o mapeamento de casos começou a ser feito no dia 17 de maio, com atualização constante desde então.
Naquela data o mapa apontava 16 casos. O número subiu para 82 no dia 31 de março, pulou para 6.860 em 30 de abril e subiu novamente para 34.401 no dia 31 de maio. Assim, atingiu 52.025 casos confirmados e 4.234 óbitos, nesta segunda-feira (22). Números divergentes aos divulgados pela SES-PE nesta segunda, quando o órgão informou que Pernambuco totaliza 52.494 casos e 4.252 mortes.
Os últimos municípios a serem contaminados pelo coronavírus em Pernambuco foram: Belém de Maria, Calçado, Dormentes, Granito, Iati, Moreilândia, Santa Cruz da Baixa Verde, Santa Filomena, Santa Maria da Boa Vista e Solidão e Mirandiba. Essas cidades possuem populações que variam de 6.007 habitantes (Solidão) até 41.931 habitantes (Santa Maria da Boa Vista). Se comparados aos demais municípios do estado, todos eles estão em alta vulnerabilidade social. Isso em relação aos indicadores de renda, acesso a água e esgoto, e a inadequação de coleta de lixo domiciliar.
Por meio de uma análise do mapeamento temporal do avanço do coronavírus no Estado, os pesquisadores concluíram que a pandemia apresentou, até o momento, quatro fases distintas.
A primeira delas foi no início da pandemia, que se caracterizou por uma difusão do novo coronavírus de forma mais lenta e gradual, localizando-se, principalmente, nos bairros de classes média e alta da capital, eles eram chamados de 'casos importados', por se tratar de pessoas que vindas do exterior.
Já a segunda fase, ocorreu entre meados de março e início de abril e se caracterizou por uma maior velocidade de difusão do vírus, marcado pelos casos chamados de “transmissão comunitária”. Nessa segunda fase, a pandemia atingiu toda a Região Metropolitana do Recife (RMR).
A partir da segunda quinzena de abril o Agreste de Pernambuco e as matas Norte e Sul foram afetadas pelo vírus e tiveram os eixos rodoviários como vetores de transmissão (especialmente as BR-232 e BR-101), o que caracterizou a terceira fase da pandemia em Pernambuco.
Por fim, a quarta fase observada até o momento se refere ao avanço da pandemia em direção às pequenas e médias cidades do semiárido pernambucano. Nesse aspecto, a Nota Técnica, publicada pelo Cieg no dia 26 de maio, fez o mapeamento e analisou as 20 últimas cidades ainda não contaminadas até aquela data, a maioria localizada no sertão.
Essas cidades se caracterizavam pelo isolamento geográfico, baixa densidade populacional e adoção de medidas preventivas, tais como: a instalação de barreiras sanitárias nas entradas das cidades e os decretos de isolamento social e fechamento de comércio não essencial e escolas. Foram as cidades mais resistentes à pandemia no estado.