As praias do litoral pernambucano estão, gradualmente, voltando a receber os banhistas em meio à pandemia do novo coronavírus. Entretanto, há outro perigo que precisa ser observado por quem vai aproveitar um banho de mar. Além de obedecer o distanciamento social, é preciso estar atento à presença de caravelas. Recentemente foi percebido um aumento da presença desses animais de coloração arroxeada, e que parecem uma simples bolha, na costa do Estado.
As caravelas, apesar de parecerem inofensivas, são perigosas. Podem causar lesões na pele que se assemelham à queimaduras e transtorno para quem entra em contato com elas. Caso aconteça o contato acidental, saber o que pode ou não fazer é decisivo. Uma escolha errada pode aumentar ainda mais o sofrimento de quem se queimou em uma caravela.
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A caravela-portuguesa é um cnidário invertebrado que vive em colônias flutuantes, pendurados por tentáculos que possuem várias células urticantes e podem chegar até 10 metros de comprimento. O aumento da ocorrência desses animais no litoral pernambucano é normal nesta época do ano. "Entre julho e agosto há mais ventos fortes, chuvas, tormentas e, como elas não conseguem nadar, são arrastadas para a costa. Aparecem várias colônias onde não deveriam estar por isso. Nessa época, quando tem fortes ventos, é normal. Geralmente aparecem bastante, algumas são bem pequenas, outras são maiores e tem que ter muito cuidado porque são muito tóxicas, mesmo depois de mortas", explicou Carlos Perez, professor da pós-graduação em Biologia Animal da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Por se tratar de um animal que vive em colônia, é importante sair do local onde houve o contato acidental com a caravela pois podem haver outras por perto. "A primeira coisa que a pessoa deve fazer é tirar (a pessoa machucada) do local porque devem ter outras por perto", alerta Emmanuel França, médico dermatologista e membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
Quem tem o hábito de frequentar as praias provavelmente já está familiarizado com a aparência e presença das caravelas e às vezes até com as consequências de entrar em contato acidental com elas - as caravelas provocam queimaduras na pele humana. "São animais peçonhentos e injetam veneno ao ter contato com a pele humana. Elas tem cápsulas de veneno ao longo dos tentáculos que ficam ativas por até 48 horas, por isso é preciso ter cuidado para manusear porque mesmo depois de mortas, continuam sendo perigosas. Ao encontra-las na areia, não adianta joga-las de volta no mar porque elas não nadam, são arrastadas pelo vento e podem acabar voltando para a costa. É como se a gente pegasse uma boia e jogasse no mar, com o vento ela acaba voltando", acrescentou Perez.
Mesmo na areia, aparentemente mortas, as cápsulas continuam ativas e, caso pise em algum tentáculo, o banhista pode se queimar. "Neste tentáculo há milhões de cápsulas que tem toxinas, um coquetel de toxinas neurotóxicas muito fortes. Quando há contato dessas substâncias com a pele humana, injeta toxina na corrente sanguínea e, dependendo de quanto contato houver, da dose de veneno, pode causar dermatite ou até mesmo um choque anafilático, chegando ao óbito", disse o professor.
Ao ter contato com a toxina, que é uma substância de ph básico, o ideal é enfrenta-la com um ph ácido, que pode ser a própria água do mar ou vinagre, por exemplo. "Tem gente que fala que também pode colocar urina (ácido úrico) no local da queimadura, mas não é recomendado porque se trata de uma substância suja. Não se deve também jogar água doce ou areia e raspar, por exemplo. Usar substâncias abrasivas pode fazer descarregar no corpo as toxinas de mais cápsulas dos tentáculos da caravela", detalhou. Do ponto de vista médico, França também não recomenda a tentativa de colocar urina na região lesionada.
"Normalmente o que acontece é que a caravela tem umas células chamadas de cnidoblastos que liberam substâncias que causam uma reação semelhante a uma urticária naquele contato, então vai coçar, ficar vermelho, inchar. Se a lesão for pequena, pode tentar tratar com um corticoide tópico (em pomada), se a lesão for muito extensa, um corticoide via oral ou até ir a um serviço de emergência - principalmente se for uma criança. Para a criança, dependendo da extensão, a lesão é muito violenta", acrescentou o médico dermatologista.
Também não é recomendado o uso de água ou compressa quente porque aumentar a circulação do corpo. O recomendável é lavar com água do mar e fazer compressa fria para estancar a corrente sanguínea. "Depois, tomar um anti histamínico porque muita gente é alérgica. Cada organismo reage de uma forma diferente, mas normalmente não passa de uma lesão cutânea", lembrou Carlos Perez.
Reforçando o que o professor da UFPE afirmou, o dermatologista Emmanuel França também lembrou que não se deve colocar álcool em cima da lesão. "Lave a região para afastar os antígenos daquele local. A água do mar ajuda com certeza", disse.