Estátua de Ariano Suassuna não é a única vandalizada; veja como estão as esculturas do Circuito da Poesia

Sofrendo com a ação do tempo ou com depredações como o que ocorreu com a de Ariano, algumas esculturas apresentam rachaduras, pichações, fezes de animais e placas de identificação ilegíveis
Mayra Cavalcanti
Publicado em 21/09/2020 às 15:48
A obra, do artista plástico Demétrio Albuquerque, foi danificada após ato de vandalismo Foto: BETO DLC/JC IMAGEM


No dia em que a escultura do escritor Ariano Suassuna, que fica na Rua da Aurora, no Centro da capital pernambucana, amanheceu no chão, após ser alvo de vandalismo na madrugada desta segunda-feira (21), a reportagem do Jornal do Commercio percorreu todo o Circuito da Poesia do Recife. Com 17 obras em tamanho real assinadas pelo artista plástico Demétrio Albuquerque, o percurso homenageia grandes nomes da música e da literatura, como Clarice Lispector, Manuel Bandeira, Luiz Gonzaga e Chico Science. Sofrendo com a ação do tempo ou com depredações como o que ocorreu com a de Ariano, algumas esculturas apresentavam rachaduras, pichações, fezes de animais e placas de identificação ilegíveis.

De todas as obras, a do autor paraibano, com 1,80 m e inaugurada em 2017, foi a que apresentou o ato de vandalismo mais brusco. Depois de ser retirada do local por uma equipe da Prefeitura do Recife, ainda na manhã desta segunda-feira, sobrou no lugar da estátua apenas os pés, plantados em frente ao antigo Teatro do Arraial, desde 2004 batizado de Teatro Ariano Suassuna. O comerciante José Ferreira, de 46 anos, vende água e pipoca no semáforo próximo de onde estava a escultura e se surpreendeu ao chegar para trabalhar.

"Isso não pode acontecer. É nosso patrimônio, nossa cultura. A estátua não faz mal a ninguém. As pessoas chegam, tiram fotos, aí a pessoa fazer um negócio desse? É muito errado", diz o rapaz, indignado. Além dele, diversas pessoas que passavam pelo local paravam para tirar fotos do que, até esse domingo (20), era uma obra de arte. O também comerciante Luis Severino Pereira, de 67 anos, trabalha há 30 anos no lugar. "Já aconteceu muito esse vandalismo, não de derrubar, mas de quebrar partes. No sábado eu trabalhei e a estátua estava aqui normal", relata.

Ao percorrer o Circuito da Poesia, foi possível observar outras depredações ao patrimônio, principalmente nas placas de identificação. Diversas encontravam-se com os plásticos quebrados, arranhadas e pichadas. Outras, além dos atos de vandalismo, sofriam com a ação do tempo, que as tornaram ilegíveis. As placas que estavam mais danificadas eram as de Ascenso Ferreira (Cais da Alfândega), Capiba (Rua do Sol), Manuel Bandeira (Rua da Aurora), Carlos Pena Filho (Praça do Diario) e Liêdo Maranhão (Mercado de São José).

Além da placa, a escultura de Ascenso Ferreira era a que se apresentava em pior estado de conservação, com rachaduras e várias partes danificadas, sendo possível ver os ferros que compõem sua estrutura. Outras obras que apresentavam rachaduras foram as de Mauro Mota (Praça do Sebo), de Carlos Pena Filho, de Liêdo Maranhão, de Luiz Gonzaga (Museu do Trem) e de Celina de Holanda Cavalcanti (Avenida Beira Rio). Já a de Solano Trindade (Pátio de São Pedro), além das rachaduras, tinha pichações em sua base e pedaços descascando.

O guia de turismo Pedro Morais, de 57 anos, faz o City Tour com os visitantes do Recife pelo menos três vezes por semana. Devido à pandemia do novo coronavírus, passou o período dos últimos seis meses sem ir ao Centro da capital. "Eu não sei agora, mas antes da pandemia algumas das esculturas tinham muitas pichações, não eram tão cuidadas. A de Naná, por exemplo, já chegaram a tirar peças. Faltam alguns cuidados, atenção e conservação", afirma.

Na Praça Maciel Pinheiro, onde está localizada a escultura em homenagem à escritora Clarice Lispector, o cenário é de abandono. Cercada de pombos no momento em que a reportagem chegou ao local, a obra e a placa de identificação estavam tomadas por fezes dos animais. As esculturas começaram a ser produzidas no ano de 2005 e, até 2007, o Circuito da Poesia contava com 12 estátuas. Em 2017, ela ganhou mais quatro obras, incluindo a de Ariano Suassuna. No mesmo ano, foi a vez de Naná Vasconcelos ser homenageado, com uma obra no Marco Zero, última inaugurada pelo projeto.

O Circuito da Poesia é composto pelas seguintes obras: Manuel Bandeira (Rua da Aurora); João Cabral de Melo Neto (Rua da Aurora); Capiba (Rua do Sol); Carlos Pena Filho (Praça do Diário); Clarice Lispector (Praça Maciel Pinheiro); Antônio Maria (Rua do Bom Jesus); Ascenso Ferreira (Cais da Alfândega); Chico Science (Rua da Moeda); Solano Trindade (Pátio de São Pedro); Luiz Gonzaga (Praça Mauá); Mauro Mota (Pátio do Sebo), Joaquim Cardozo (Ponte Maurício de Nassau), Ariano Suassuna (Rua da Aurora); Alberto da Cunha Melo (Parque 13 de Maio), Celina de Holanda (Avenida Beira Rio) e Liêdo Maranhão (Praça Dom Vital).

Por nota, a Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana (Emlurb) afirmou que o órgão "realiza periodicamente vistorias e ações de reparos nas obras que compõem o Circuito da Poesia". A autarquia afirmou, ainda, que os "atos de vandalismo são contínuos" e que está "fazendo um levantamento das ações necessárias à recuperação das obras". A nota completa pode ser conferida no fim da matéria.

Sobre a escultura de Ariano Suassuna, a Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana Emlurb informou que a depredação e vandalismo são problemas que atingem monumentos, pontes e edificações pública o ano inteiro. "A Prefeitura chega a gastar aproximadamente R$ 2 milhões por ano. Para se ter ideia da gravidade do comportamento destrutivo e irresponsável para toda a sociedade, esse montante seria o suficiente para construir duas Upinhas por ano", disse. A gestão ainda disponibiliza um número para denúncias e sugestões, que é o 156.

Em nota, a Polícia Civil declarou que instaurou um inquérito para apurar o caso, que ficará sob responsabilidade da delegada Alessandra Ramos, titular da delegacia da Boa Vista. A corporação não se pronunciará sobre o assunto no momento. A reportagem também questionou sobre a situação das outras obras e aguarda retorno da Emlurb.

Nota da Emlurb na íntegra:

"A Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife (Emlurb) informa que realiza periodicamente vistorias e ações de reparos nas obras que compõem o Circuito da Poesia. Porém, os atos de vandalismo são contínuos, gerando prejuízos e a destruição do patrimônio público cultural da cidade. Quando o dano é maior, a restauração da obra é mais onerosa e demorada. A Emlurb está fazendo um levantamento das ações necessárias à recuperação das obras e monumentos que necessitam de reparos para verificar os custos e elaborar uma programação para as intervenções."

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