A União dos Transportadores Escolares de Pernambuco (UTEPE), formada pela Associação de Transporte Escolar e Fretamento de Pernambuco (ATESF-PE), Sindicato do Transporte Escolar de Pernambuco (SINTESPE) e pela Cooperativa de Transporte Escolar do Estado de Pernambuco (Cooperativa Transnortesul), realizará um protesto no Segundo Jardim da Avenida Boa Viagem, na Zona Sul do Recife, nesta quarta-feira (30), a partir das 4h30. A manifestação é alinhada com outros movimentos nacionais da categoria e tem a finalidade de chamar a atenção de autoridades locais e nacionais para as dificuldades que os donos de transporte escolar estão enfrentando por causa da paralisação das atividades devido à pandemia do novo coronavírus. Segundo a UTEPE, várias manifestações como esta acontecerão simultaneamente em outras cidades do país.
Segundo Augusto Noblat, presidente do SINTESPE, com a suspensão das aulas presenciais, muitos motoristas e proprietários de transportes escolares ficaram sem renda. "A finalidade é chamar a atenção da imprensa, da sociedade e dos governantes. Infelizmente fomos os primeiros a parar e seremos os últimos a voltar. Não estamos pedindo o retorno das aulas, quem tem que determinar isso é o Ministério da Saúde. Mas muitos condutores estão sem renda nenhuma, se encontram com nome negativado, não conseguem tirar empréstimo e não temos perspectiva de retorno. O governo até liberou linha de crédito, mas [quando isso aconteceu] muitos já estavam com o nome negativado e não conseguiram mais tirar esse empréstimo. Tem condutor sobrevivendo de doações, sem renda alguma, precisando de remédio, alimentação e não tem de onde tirar", disse.
Como muitos motoristas e proprietários de transportes escolares tem renda anual acima do mínimo permitido para receber o Auxílio Emergencial, benefício concedido pelo governo federal durante a pandemia, essa iniciativa não contempla a categoria. De acordo com o SINTESPE, a Região Metropolitana do Recife tem cerca de 1.400 condutores de transporte escolar.
"Mês passado tivemos reunião com o Ministério da Economia e estamos nos mobilizando a nível nacional, pleiteando um auxílio emergencial para o condutor escolar porque não se enquadram no auxílio que já está sendo pago. O problema é que desde que a pandemia chegou ficamos sem recurso algum. "Estamos pleiteando também a isenção das taxas de recadastramento. Trabalhamos menos de 30 dias este ano e ano que vem vamos ter que pagar [as taxas] novamente?", acrescentou.
A concentração dos condutores de transporte escolar acontecerá em um horário incomum para um protesto. A concentração será às 4h30 para, segundo Augusto, não atrapalhar o trânsito. A manifestação também não se deslocará e ficará no local até por volta das 11h. "É um grito de socorro que os condutores escolares estão dando. Não temos mais como suportar e não sabemos o que fazer mais. Não temos intenção de parar trânsito, criar transtorno, vamos chegar nesse horário para ter vaga de estacionamento neste horário", disse.
Um decreto do governo de Pernambuco determina o retorno das aulas presenciais para as turmas do 3º ano do Ensino Médio a partir do dia 6 de outubro e, gradualmente, das outras séries. Entretanto, os professores da rede estadual decretaram greve e os da rede privada se reúnem nesta quarta-feira (30) para deliberar sobre o mesmo tema - a categoria se opõe ao retorno. Além disso, mesmo com o retorno, as aulas online serão mantidas e os alunos poderão optar por continuar assistindo aulas remotamente.
"Nosso trabalho é fechado no começo do ano para um serviço que será prestado o ano inteiro. Como as aulas são opcionais, não vamos conseguir continuar com o contrato. A gente trabalha com serviço de transporte, não é um carro particular. O dinheiro para levar apenas um aluno, por exemplo, não paga nem o combustível, não vai ser vantagem", disse Augusto Noblat.
Em entrevista ao Jornal do Commercio, o presidente do SINTESPE lembrou ainda que, no início da pandemia, a orientação do Procon para pais e responsáveis de alunos era de que os contratos e mensalidades não precisariam ser comprados já que o serviço não estaria sendo prestado. Agora, os condutores estão do lado oposto. Sem renda, não têm condições de arcar com despesas que estão sendo cobradas.
"Estamos solicitando também que o governo federal nos ajude junto a Febraban [Federação Brasileira de Bancos], em relação ao financiamento dos veículos. Sem renda não temos como pagar. Os bancos estão querendo acrescentar juros absurdos. Nós não estamos pagando porque não queremos, mas porque a situação não está deixando. No começo da pandemia tivemos contratos cancelados pelos pais de alunos e Procon fez uma nota técnica afirmando que os contratos poderia ser quebrados. Hoje muitos estão vendo os carros entrar em busca e apreensão porque não conseguem pagar. Estamos na posição que os pais estavam e os bancos na posição que nós estávamos. Quem vai intervir?", questionou.