Magiluth lança 'Todas as Histórias Possíveis', seu segundo experimento sensorial

CORONAVÍRUS Estudo registra, pela primeira vez, dois pacientes do Recife que apresentaram um segundo quadro de covid com exames positivos
Cinthya Leite
Publicado em 03/10/2020 às 2:00
EXAMES Depois do feriadão de Natal, número de infectados aumentou Foto: BOBBY FABISAK/JC IMAGEM


A publicação de dois casos que despontam como evidência de reinfecção pelo novo coronavírus no Recife tem provocado reações diversas na classe médica. O trabalho, divulgado em revista científica na quinta-feira (1º), documenta pela primeira vez dois pacientes da cidade que apresentaram um segundo quadro da doença com resultados positivos de RT-PCR (teste que faz a detecção direta do vírus em secreção respiratória e é o padrão-ouro para diagnóstico da infecção aguda). O autor principal do estudo, o médico Carlos Brito, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), defende a hipótese que levanta: "são reinfecções". Desde a publicação do estudo, ele tem dito que um segundo adoecimento por covid-19 não é frequente, mas esse achado é importante do ponto de vista epidemiológico porque as pessoas que já tiveram a doença podem se achar protegidas e relaxar na prevenção.

Para o pneumologista Murilo Guimarães, não existe consistência para se afirmar que são casos de reinfecção. "Há pessoas que permanecem mais tempo com o RT-PCR positivo. Tive um paciente que, passado um tempo, ficou assintomático, mas só negativou no 41º dia após o início dos sintomas. O ideal seria termos conhecimento do resultado de um teste RT-PCR entre os dois episódios de sintomas, a fim de saber se, nesse meio tempo, o exame negativou", acredita Murilo. Ele acrescenta que, sem esse exame intermediário, não dá para saber se o paciente se infectou novamente ou se o vírus, detectado no primeiro quadro sintomático, permanece no organismo.

Os casos do estudo coordenado por Carlos Brito são dois médicos: um homem e uma mulher. Após a primeira infecção detectada pelo RT-PCR, ele fez o teste sorológico (verifica a resposta imunológica em relação ao vírus), que deu negativo. "Isso sugere que o paciente não produziu anticorpos, na primeira infecção, para evitar a segunda. E só após essa, a sorologia foi positiva", afirma. A mulher também passou pelo sorológico, que detectou anticorpos. "Certamente eles não foram o suficiente para eliminar o vírus e, assim, evitar a segunda infecção. O fato de ter anticorpos não garante que o indivíduo está completamente protegido contra o coronavírus, que pode ter sofrido alterações. Outra situação é que o título de anticorpos pode cair após a doença."

O médico virologista Ernesto Marques, professor de doenças infecciosas da Universidade de Pittsburgh (EUA) e pesquisador da Fiocruz Pernambuco, reconhece como adequado o protocolo seguido no estudo em questão para relatar o segundo episódio de covid-19. "Estou certo de que é possível a reinfecção, e estes não seriam os únicos casos. A questão é que provar uma nova infecção pelo novo coronavírus é bem difícil, mas se tornará fácil demonstrá-la daqui a um ou dois anos, quando se imagina que mais pessoas que já adoeceram tenham queda no título de anticorpos", diz.

Em artigo publicado hoje, na página de Opiniões deste JC, o médico Sérgio Gondim escreve que, "em relação à reinfecção, existem critérios para defini-la, exatamente para não permitir que um falso-positivo ou negativo em testes tão problemáticos, resultem em conclusão errada". Ele complementa que, para afirmar que houve reinfecção, não basta ter duas gripes nem dois testes positivos em tempos diferentes. "O sequenciamento genético, demonstrando cepas diferentes é exigência fundamental para comprovar a reinfecção."

Já para Ernesto Marques, não há necessidade de sequenciamento. "A reinfecção não ocorre porque há mutação, e não há demonstração de sorotipo de covid-19. Até agora, as reinfecções demonstradas foram homotípicas (ou seja, mesma cepa causadora da primeira infecção). Por isso, é irrelevante essa questão de sequenciamento. O detalhe é demonstrar a infecção por RT-PCR e, em seguida, caracterizar a resposta imune (pela sorologia). Depois, se o mesmo paciente apresentar sintoma, e o vírus for detectado, creio em reinfecção."

A Secretaria de Saúde de Pernambuco (SES), que havia optado por não se pronunciar sobre o trabalho publicado na quinta-feira (1º), divulgou ontem nota em que informa que "é preciso analisar com cautela, e sem precipitar conclusões, os estudos sobre a reinfecção pela covid-19. Nesse sentido, ainda não existe protocolo definido no Brasil para análise de casos de reinfecção pelo novo coronavírus". A SES acrescenta que "dois testes RT-PCR positivos de uma mesma pessoa não são suficientes para afirmar que se trata de um caso de reinfecção".

 

TAGS
cultura artes cênicas teatro
Veja também
últimas
Mais Lidas
Webstory