Chuvas devem perder intensidade no Agreste e Sertão de Pernambuco nesta quarta (4), diz Apac

Segundo a instituição, forte precipitação foi provocada pelo sistema de Zonas de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS)
JC
Publicado em 03/11/2020 às 12:51
Sanharó foi uma das cidades mais afetadas pelas chuvas Foto: CORTESIA


Cidades do Agreste e do Sertão de Pernambuco foram alvos de fortes chuvas na noite dessa segunda-feira (2). A mais afetada foi Sanharó, que contabilizou 289 milímetros de precipitação, segundo monitoramento da Agência Pernambucana de Águas e Climas (Apac). Para alívio da população, a instituição informou que o sistema climático responsável pelo fenômeno está se deslocando e, já nesta quarta-feira (3), deverá diminuir de intensidade.

"No Agreste não tem mais e no Sertão ainda tem [chuvas], mas só no extremo Oeste. O sistema está indo embora, em direção ao Piauí. Ele chegou no Agreste, agora (pela manhã) está entre o Moxotó e o Pajéu, à tarde vai para o Sertão Central, e na madrugada e amanhã de manhã vai estar em Petrolina, só", explicou o meteorologista Roni Guedes nesta terça-feira (3).

Segundo o especialista, as chuvas foram provocadas pelo sistema de Zonas de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), que normalmente só chega em Pernambuco no mês de dezembro. "A previsão da Apac já vinha apontando, desde o final de semana, para a mudança do padrão do Sertão, que vinha com umidade baixa e temperaturas muito altas desde outubro. Diagnosticamos que um sistema iria mudar o comportamento [do clima] na região. É comum que esse sistema se forme ao sul do Nordeste, provocando chuvas no Sul da Bahia e no Sudeste no mês de outubro ou novembro. Ele só chega [em Pernambuco] em dezembro, porém, o La Niña ajudou a deslocar esse sistema mais para norte e provocou essa chuva atípica para esse período", disse.

A autônoma Elenilda de Barros, 42 anos, moradora de Sanharó, no Agreste de Pernambuco, passou a noite dessa segunda-feira, 2 de novembro, retirando a água de dentro da quitanda e da casa onde mora, que fica no primeiro andar, acima do comércio. "Alagou tudo, nunca tinha visto uma situação dessa, chegou a mais de um metro na minha quitanda, e, na minha casa, entrou tanta água pelo teto que cobriu os pés", relata. Residente da cidade há quase vinte anos, a comerciante foi apenas uma das centenas de pessoas afetadas pela precipitação no município, que deixou duas famílias desabrigadas e cerca de outras 300 temporariamente desalojadas.

Mesmo após a trégua das chuvas, duas famílias não têm condições de voltar para suas casas nesta terça-feira. Por isso, a Prefeitura vai direcioná-las a um abrigo público. As outras 300 famílias que ficaram desalojadas vão voltar e recuperar o que for possível. "Sanharó foi pega de surpresa com um cinturão que formou e chegou a 289 milímetros. Estou contabilizando os estragos, fazendo levantamento de quantas pessoas vão ficar desabrigadas. Sei que já passam mais de 300 desalojadas. Perderam tudo dessa vez", contou o coordenador da Defesa Civil de Sanharó, Lisboa Júnior.

Para Elenilda de Barros, a perda foi incalculável. "Não tenho nem como calcular, estamos tentando organizar, limpar, ver o que dá para salvar", disse a autônoma, que mora com o marido, a filha e uma neta. na cidade, o clima é "desolador". "São caminhões saindo carregados com coisas para jogar fora, é um absurdo, inacreditável, mesmo", conta.

A situação já causou grande comoção na região do Agreste, e doações chegam a todo momento em Sanharó, segundo o Padre Marcílio, pároco da cidade. "Graças a Deus, está acabando de chegar [doações] aqui, o pessoal não para. Às 1h já tinha chegado doações", conta. A prefeitura de Sanharó decretou estado de emergência e solicita doações de colchões, lençóis, comida não perecível, água mineral e roupas para as vítimas. O material deve entregue no Iralzão ou na Escola Amaro Soares.

A Defesa Civil de Pernambuco (Codecipe) enviou uma equipe até Sanharó para dimensionar os danos. "Nossa equipe que está em campo agora está fazendo uma avaliação para ajudar o município a fazer todo o processo e dimensionar quais meios o Governo do Estado poderá ofertar de forma suplementar ao esforço que o município está empreendendo", explicou o Secretário Executivo de Defesa Civil do Estado de Pernambuco, Coronel Lamartine Barbosa.

O coronel conta que será feita uma notificação para que o Governo Federal auxilie o município a superar os danos das chuvas. "A partir do momento em que se identifica a magnitude do impacto dos prejuízos provocados, o município faz a declaração de situação de emergência, que é postulada no sistema de informações sobre resposta aos desastres do Ministério de Desenvolvimento Regional. A partir dessa inserção, existe reconhecimento federal da situação de emergência por conta das limitações do município em superar essa magnitude de desastre sozinho", disse.

Por nota, a Prefeitura de Sanharó afirma que "não está medindo esforços para minimizar os prejuízos e ajudar todas as vítimas das chuvas registra na cidade, ao mesmo tempo que conclama todos as pessoas a se solidarizarem e fazerem doações para ajudar os desabrigados."

Alerta de chuvas

A Defesa Civil de Pernambuco afirmou que apenas Sanharó registrou dano humano, com as famílias que ficaram desalojadas. No entanto, em várias cidades do Agreste e do Sertão, a precipitação seguiu a previsão da Apac, que, nessa segunda, renovou alerta de chuvas entre moderadas e fortes para as regiões. Os municípios de Afogados da Ingazeira, no Sertão, Palmeirinha Calçado, no Agreste, também registraram mais de 100 milímetros de chuva nas últimas 24 horas, cada uma com 143.18mm, 142.89mm e 122,79mm, respectivamente. No Sertão do Pajéu, foram registrados relâmpagos e trovões.

A chuva também foi forte nas cidades de CorrentesBuíqueIatiLagoa do OuroLajedo, todas no Agreste, e em ParnamirimCustódiaSertâniaPetrolinaFloresta, no Sertão. Em Petrolina, inclusive, uma parte do teto de lona do hospital de campanha para tratamento de pacientes com covid-19 rompeu na madrugada da segunda por causa do temporal. No momento do incidente havia 10 doentes, sendo três em UTI e sete em enfermarias.

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