Onze gigantes do setor empresarial comunicaram nesta segunda-feira (23), em suas redes sociais, um compromisso pela equidade racial. A iniciativa da Nestlé, Coca-Cola, Heineken, BRF, Danone, General Mills, Kellogg’s, L’Oreal, Mars, Mondelez e Pepsico é uma reação à morte de João Alberto Farias, que foi espancado e morto por dois seguranças na última quinta-feira (19), em uma loja do Carrefour, em Porto Alegre. Algumas dessas empresas já participam da Iniciativa Empresarial pela Igualdade Racial, do qual também fazia parte o Carrefour e foi desligado. A pergunta do movimento negro no País é se o compromisso vai efetivamente contribuir para diminuir as diferenças raciais ou se será mais uma ação que gera valor e reputação às companhias. Nas redes sociais houve quem aplaudisse a iniciativa e quem esperasse por ações concretas.
Ver essa foto no Instagram
"Nós, empresas do setor de bens de consumo, nos solidarizamos com a dor de familiares e amigos de João Alberto Silveira Freitas. Juntos, somamos quase 235 mil colaboradores no Brasil. Acreditamos que devemos ser agentes de transformação e evoluir coletivamente na jornada que iniciamos individualmente, em cada uma de nossas companhias, na luta pela equidade racial. O primeiro passo é assumirmos a realidade do racismo e admitirmos que ainda ocorrem diariamente atitudes que perpetuam o preconceito, a exclusão, as desigualdades e a violência. E, por isso, precisamos fazer mais. Propomos usar o potencial das nossas empresas para acelerar mudanças efetivas em nossa sociedade. Estamos assumindo hoje o compromisso público de trabalhar de forma conjunta e propositiva com toda a nossa cadeia de valor", publicou a BRF.
Na última quarta-feira (18), a Iniciativa Empresarial pela Igualdade Racial - movimento de empresas e instituições contra o racismo, em parceria com a Faculdade Zumbi dos Palmares e a ONG Afrobras, divulgou o resultado do IIRE (Índice de Inclusão Racial Empresarial). O relatório mostrou que, por enquanto, o discurso ainda se sobrepõe às iniciativas. De 76 companhias signatárias, apenas 23 responderam temas como conscientização racial, engajamento em ações afirmativas, recenseamento de funcionários, recrutamento e políticas de ascensão para profissionais negros.
O Índice revelou que negros e pardos são maioria apenas em funções como aprendizes (57%) e trainees (58%) do total. Em conselhos de administração, os pretos representam 4,9%, em quadros executivos, 4,7%, enquanto em cargos de gerência avança um pouco mais (6,3%). Das 23 empresas que responderam o questionário, apenas 12 afirmaram manter ações permanentes sobre igualdade racial.
O Carrefour era uma das empresas signatárias do grupo e foi desligada após a morte de João Alberto. Vinte quatro horas antes da morte do homem negro em uma loja da rede, o gerente de Diversidade e Inclusão do Carrefour, Kaleb Machado, participava de uma live na 8ª edição das Jornadas da Diversidade, que este ano foi virtual. Ele disse que desde 2012 a companhia mantém uma plataforma empenhada em discutir o tema.
"Diversidade e inclusão no Carrefour é DNA, não tem como retroceder. Mantemos o Garu - Grupo de Afinidade Racial Ubuntu, como forma de criar ações afirmativas para avançar com a pauta da diversidade racial", disse.
Mesmo afirmando manter uma política de combate ao racismo desde 2012, o Carrefour coleciona uma série de caos de violência racial em suas lojas, tanto com clientes quanto com funcionários. Teve que pagar R$ 100 mil por xingar uma funcionária de "macaca", uma cliente abriu representação criminal contra a rede depois de sofrer ameaça de agressão de um segurança: "negra desgraçada, vou quebrar sua cara".
No Estado, onde a desigualdade racial ainda chega a ser maior do que a média nacional, as ações ainda estão no plano das ideias. A Fecomércio diz não manter plano de igualdade racial para discutir com as empresas, enquanto a Federação das Indústrias de Pernambuco (Fiepe) entende a importância de avançar com a pauta no setor industrial, mas não mantém um comitê nem ações concretas.
Na avaliação das Fiepe, as principais frentes seriam a qualificação de jovens e adultos e a capacitação das empresas. “Qualquer iniciativa que venha diminuir a desigualdade – seja racial, social, de gênero ou qualquer outra – são muito bem-vindas. É verdade que ainda temos um longo caminho a ser percorrido para conquistar uma sociedade mais justa, mas só conseguiremos avançar se a caminhada for feito de mãos dadas entre sociedade, poder público e setor empresarial. Da nossa parte, faremos o possível para promover a igualdade por meio, sobretudo, da educação de jovens e adultos e da capacitação das empresas que compõem o setor produtivo, como forma de mostrar a urgente necessidade de combater essas diferenças. É fazendo a nossa parte que mudaremos o cenário atual e promoveremos ações catalisadoras de igualdade", diz a superintendente da Fiepe, Fernanda Minniti Mançano.