O condomínio do Edifício São Cristóvão, localizado na Rua da Aurora, bairro da Boa Vista, área central do Recife, tem até quinta-feira (11) para colocar telas de proteção e bandejas (equipamento que apara a queda de objetos, entulhos ou outros materiais) nas fachadas. Caso o condomínio descumpra a determinação, pagará multa de R$ 5 mil. A exigência é da Secretaria Executiva de Controle Urbano (Secon), depois que uma mulher morreu na manhã desta segunda-feira (08), vítima de uma pedra que possivelmente caiu do imóvel. A cuidadora de idosos Célia Cesária de Barros, 60 anos, passava pela calçada do prédio, por volta das 9h50, quando foi atingida na cabeça, morrendo na hora.
A notificação da prefeitura foi entregue na tarde de hoje ao condomínio, com prazo de 72h para ser cumprida. Vencido esse período, se as telas e bandejas não forem instaladas, a multa passa para R$ 10 mil. Os equipamentos devem ser colocados na parte da frente do prédio, voltado para a Rua da Aurora; na outra entrada que fica na Rua da União e também numa das laterais. O prédio tem 44 anos e possui 16 andares, com 17 apartamentos em cada andar e de uso misto, ou seja, residencial e comercial. O trecho da calçada onde houve o acidente foi isolado com cones e fitas.
Falta de manutenção
"Percebemos que o prédio não passou recentemente por manutenção pois há pontos de desprendimento da fachada. Não há necessidade de interdição nem desocupação do imóvel, mas precisa que seja feita a manutenção. Acidentes como o que aconteceu hoje (ontem) podem ser evitados se houver cuidado periódico", ressaltou a gerente geral de engenharia da Secretaria Executiva de Defesa Civil, Elaine Hawson.
Uma equipe do órgão realizou uma vistoria à tarde e deve concluir um parecer com recomendações técnicas em até 15 dias. A exigência de colocação de tela e de bandejas é justamente para proteger as pessoas que passam pelo local.
A prefeitura destacou que segundo a lei 13.032, de 14 de junho de 2006, é de responsabilidade do proprietário do imóvel e condomínio realizar a cada três anos a vistoria das condições físicas do conjunto estrutural do prédio e atestar a segurança da edificação.
O advogado do Edifício São Cristóvão, Anderson Lourenço, assegurou que o prédio passa por frequente manutenção, mas não soube informar quando foi feita a última vez que houve alguma intervenção. "O condomínio está verificando junto às autoridades o que ocasionou esse acidente. Não se sabe ainda o que provocou. Estamos analisando a estrutura do prédio, algo que sempre foi feito, para identificar o que mais pode ser adotado como medida de precaução", explicou Anderson.
"A manutenção preventiva sempre aconteceu, independente do que houve hoje (ontem). É um prédio antigo, que sofre com a maresia e por isso a administração, junto com engenheiros, está atenta às fachadas e às caixas de ar condicionado", complementou.
Polícia Civil instaurou inquérito
A Polícia Civil instaurou inquérito para investigar o caso, sob responsabilidade da delegada da Boa Vista, Euricélia Nogueira. "Tivemos acesso a uma imagem que mostra o exato momento que a vítima foi atingida pela pedra. Tentamos identificar de onde essa pedra foi desprendida, mas não conseguimos. Por enquanto não há elementos para imputar conduta criminosa de ninguém. Vamos aguardar o resultados das perícias", informou a delegada, que esteve no local de manhã. À tarde ela ouviu o depoimento da síndica do Edifício São Cristóvão.
Vítima será sepultada nesta terça-feira
Célia havia largado do trabalho. Cuidava de um idoso, há cerca de dois anos, que reside na Boa Vista. Estava caminhado para pegar o metrô na Estação Central, no bairro de São José, para sua casa, no Coque. O enterro do seu corpo será na manhã desta terça-feira, no Cemitério de Santo Amaro, também na área central do Recife. Ela tinha três filhos.
"Estamos inconformados com o que aconteceu com minha tia. Ela era como uma mãe para mim, era tia e mãe pois foi ela que me criou. Tinha terminado de largar o trabalho e todos os dias era o caminho dela até pegar o metrô", relatou uma sobrinha de Célia que pediu para não ser identificada.
"Um prédio desse todo acabado e dizer que não é responsável? São culpados sim. Queremos Justiça para que outras pessoas não passem pelo que a nossa família está passando", comentou a sobrinha.
A esteticista Valéria Rodrigues, 50, também passa diariamente pela frente do Edifício São Cristóvão. "Trabalho ao lado do Cinema São Luís e moro perto do Parque Treze de Maio. É um absurdo o que aconteceu. Eu andava por essa calçada, mas agora vou preferir ir pelo lado do rio", afirmou.