A suspeita de que duas irmãs que foram internadas no Recife e outras três pessoas podiam estar com a Síndrome de Haff no Estado, conhecida como 'doença da urina preta', despertou a curiosidade sobre essa enfermidade até então desconhecida por grande parte dos pernambucanos. E não é para menos: entre 2017 e 2021, foram registrados apenas 15 casos no Estado, segundo a secretaria de Saúde.
A empresária Flávia Andrade, 36 anos, deixou o Hospital Português, no Derby, na manhã dessa quarta-feira (24). Já a irmã dela, a médica veterinária Pryscila Andrade, 31, permanece internada nesta quinta (25) na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), mas voltou a movimentar os braços.
A doença é causada, segundo os médicos, pela contaminação com uma toxina que se desenvolve em peixes que não são bem armazenados em temperaturas adequadas. A substância não altera o sabor e nem a aparência do alimento.
Apesar das duas irmãs terem comido peixe do tipo Arabaiana, outras espécies já estão relacionadas com casos descritos de Síndrome de Haff. É o caso do tambaqui. Na Bahia, a doença já foi relacionada com o consumo do Badejo (Mycteroperca) e, no Amazonas, com o consumo do Pacu Manteiga (Mylossoma).
Assim, a toxina vai para os músculos, provocando dores musculares e afetando os rins. Entre os sintomas estão dor e rigidez muscular, dormência, falta de ar e urina preta, semelhante à café. A urina escura é uma consequência da necrose muscular, provocada pela síndrome.
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“O que chama atenção? O peixe não foi armazenado de forma adequada nem tratado de forma adequada. Aí ele vai produzir uma toxina. Você come o peixe, não nota que tem essa toxina, o gosto não tem alteração, mas, poucos dias depois, você começa a ter a dor muscular intensa e a urina ficando preta, devendo procurar de imediato uma unidade hospitalar, quando isso acontecer”, analisou o médico infectologista Filipe Prohaska, em entrevista à TV Jornal.
Os sintomas costumam aparecer entre quatro e seis horas após a ingestão do peixe, ou em alguns dias depois do consumo. Cada organismo reage de uma forma a quantidade de toxina ingerida.
Confira outros sintomas que a doença pode causar:
- Náusea;
- Vômito;
- Diarreia;
- Febre;
- Vermelhidão na pele;
- Falta de ar;
- Dormência no corpo;
- Insuficiência renal.
Na presença desses sintomas, principalmente se for notado escurecimento da urina, é importante que a pessoa consulte um clínico geral para que seja possível avaliar os sintomas e realizar exames que ajudem a confirmar o diagnóstico.
O especialista explica que para evitar este tipo de contaminação, é necessário ter cuidado com o local onde se compra o peixe. “Muito cuidado onde você compra o peixe. Muito cuidado em checar como aquele peixe chegou ali e como ele está sendo armazenado no momento da venda. O mais importante é comprar em lugares onde você tenha garantia da segurança”, explicou Filipe Prohaska.
O médico detalhou que o ideal é que o peixe seja transportado e armazenado em temperaturas entre -2º e 8ºC, e que, caso o produto seja adquirido na feira, é necessário identificar se o peixe está sendo mantido no gelo (para preservar a temperatura ideal).
Caso a pessoa contraia a Síndrome de Haff, o tratamento indica a ingestão de bastante água, para o corpo se manter hidratado, e analgésicos, para aliviar as dores. "O tratamento basicamente é hidratação, para poder proteger o rim e retirar a toxina mais rápido do organismo. Em algumas situações, o rim pode parar de funcionar e [o tratamento] parte para a hemodialise", disse Prohaska.
Segundo o especialista, a gravidade da doença vai depender da quantidade de toxina que o paciente ingerir. "É diretamente proporcional ao quadro clinico que vai ter. Pode ser de leve a grave", afirmou.