O cardiologista André Longo, 49 anos, é um dos nomes que está à frente, em Pernambuco, das ações de enfrentamento à pandemia de covid-19, que completa um ano de declarada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) nesta quinta-feira (11).
Secretário estadual de Saúde, ele acompanha, domingo a domingo, o avanço da doença. Trabalho que começou antes mesmo do coronavírus virar pandemia. Já em janeiro de 2020, o governo de Pernambuco começou a organizar a rede para quando os casos começassem a surgir no Estado.
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Nesta quinta-feira foram registrados 1.669 novos casos da covid-19. Entre os confirmados hoje, 67 (4%) são casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) e 1.602 (96%) são leves. Agora, Pernambuco totaliza 313.227 casos confirmados da doença, sendo 33.257 graves e 279.970 leves.
Também foram confirmados 23 óbitos. Com isso, o Estado totaliza 11.269 mortes provocadas pela doença.
Nesta conversa, André Longo analisa o cenário em Pernambuco e no Brasil e mostra preocupação em relação ao lento processo de vacinação.
COMO O SENHOR AVALIA O ATUAL CENÁRIO DA PANDEMIA DE COVID-19 EM PE?
André Longo - No Brasil inteiro a atual situação da pandemia é de alerta pela gravidade. Mesmo Estados que não tiveram forte impacto da doença no ano passado, estão sendo gravemente atingidos agora. E esta realidade também chegou a Pernambuco. Nós estamos em um momento muito preocupante da pandemia, com um cenário de rápida aceleração da doença, que tem gerado uma grande demanda sobre a rede hospitalar.
O QUE MAIS PREOCUPA - ABERTURA DE LEITOS; PESSOAL PARA ATUAR NOS HOSPITAIS; DESCUMPRIMENTO, PELA POPULAÇÃO, DO ISOLAMENTO SOCIAL ou OUTRAS QUESTÕES?
André - Nós estamos abrindo, novos leitos exclusivos para Covid-19 em velocidade recorde, com uma média de, no mínimo, 10 de UTI por dia. No entanto, a velocidade da doença está assumindo um ritmo muito forte
Neste momento, não temos escolha: ou a sociedade se engaja no enfrentamento da pandemia, ou vai haver grande escassez de vagas nos hospitais e teremos ainda mais mortes. Adotar o cuidado e respeitar as regras de prevenção precisa ser compromissos de todos.
Sei que não está sendo fácil para ninguém e compreendo que, passado um ano de pandemia, muitos estejam cansados das medidas de contenção ao novo coronavírus. Mas precisamos ter um pouco de empatia e adotar medidas que gerem proteção para todos.
A sociedade precisa estar ciente que os próximos dias serão de muita dificuldade e só o respeito aos protocolos e o avanço da vacinação serão capazes de minimizar a aceleração da doença e o colapso na rede de saúde.
O reforço no distanciamento social, no uso correto da máscara e na lavagem das mãos é uma questão de proteção à vida.
COMO AVALIA O PROCESSO DE VACINAÇÃO NO PAÍS?
André - Infelizmente, por falta de uma postura mais ativa e eficiente do Governo Federal, o Brasil vive um momento de escassez de vacinas, que está provocando uma baixa cobertura vacinal pela falta de agilidade no processo de vacinação e impedindo que o quadro atual da pandemia no território seja revertido no curto prazo.
Nossa esperança é que o processo de imunização possa engrenar com a ampliação da produção de vacinas no Instituto Butantan e também na Fiocruz. O Brasil tem capacidade histórica de acelerar a vacinação se foram dadas as condições para isso com a disponibilização de vacinas. Aqui em Pernambuco temos capacidade de vacinar com tranquilidade mais de 1,5 milhão de pessoas destes grupos prioritários em um mês – como já aconteceu no ano passado na Campanha de imunização contra a Influenza.
O QUE ANDRÉ COMO HOMEM, CIDADÃO, MAIS APRENDEU NESTE PERÍODO TODO DA PANDEMIA?
André - Certamente este é o maior desafio em minha história profissional, que tem exigido total dedicação. Tem sido muito duro conviver com um cenário prolongado de forma tão adversa. Nossa luta diaria tem sido por salvar o máximo de vidas possível.
Por isso, neste período, também reforcei e renovei o entendimento e a confiança do papel crucial do Sistema Único de Saúde (SUS) para a população brasileira. A pandemia colocou o SUS que é, sem dúvida, um dos maiores ativos da nossa sociedade, em papel de destaque. O nosso Sistema Único de Saúde sempre foi visto por parte da população, erroneamente, como um sistema falho e ineficiente.
No entanto, o SUS, que contempla desde a aferição da qualidade da água, até as campanhas de vacinação e a realização de transplantes e produz, ano após ano, números colossais, promove saúde e salva vidas. E, durante a pandemia está fazendo a diferença: graças a ele que milhares de brasileiros afetados pela Covid-19 estão recebendo a devida assistência, tendo suas vidas salvas e, agora, se vacinando.
Neste período, muitos tomaram pela 1ª vez conhecimento da dimensão e da importância do SUS e começaram a mudar seu posicionamento sobre ele. Precisamos que todos lutem em defesa do SUS e exijam que sejam dadas as condições necessárias para seu aperfeiçoamento.
Além disso, todo este processo mostrou a importância do trabalho em equipe e da importância da liderança. Desde o início, frente ao maior desafio sanitário em um século, o governador Paulo Câmara colocou toda a estrutura do Governo de Pernambuco em prol do enfrentamento à Covid-19 e isto foi crucial para as decisões tomadas pelo Estado.
Instalamos o Comitê de Enfrentamento à Covid-19, com a participação de diversas secretarias e as decisões sempre foram tomadas com muito respeito entre os secretários envolvidos, baseadas nas evidências científicas e com o foco em salvar vidas.
Com isto, pudemos colocar em curso um grande plano de mobilização de leitos, insumos e também de recursos humanos para enfrentamento da pandemia - certamente o maior esforço sanitário da história da saúde pública de Pernambuco.