SAÚDE

Pernambuco ainda tem isolamento social longe da meta de 60% do Governo do Estado mesmo sob quarentena

No dia do anúncio da quarentena, o secretário de Saúde, André Longo, apelou para que a população seguisse as restrições para que o isolamento atingisse o patamar de 60%

Cadastrado por

Katarina Moraes

Publicado em 22/03/2021 às 9:19 | Atualizado em 22/03/2021 às 13:59
Os dados foram divulgados pela SES-PE - FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM

Desde a última quinta-feira (18), Pernambuco vive sob dura quarentena, que possibilita apenas o funcionamento de serviços considerados essenciais segundo decreto do Governo do Estado. Esta é mais uma tentativa de diminuir a transmissibilidade da covid-19, doença que já matou 11.661 pernambucanos e que atualmente pressiona o sistema de saúde do Estado. Pernambuco conta com ocupações de leitos públicos de UTI de 97%, e de 93% nos privados, segundo o boletim desse domingo (21). Apesar do esforço, dados coletados pela empresa In Loco através de georreferenciamento mostram que o índice de isolamento social ainda está longe da meta da gestão estadual, de 60%.

Ainda assim, o dia 18 de março teve o maior isolamento social entre todas as quintas-feiras do ano, de 41%. Nas últimas semanas, quando atividades econômicas não essenciais podiam abrir as portas até 20h nos dias úteis, o número foi de 33,4% (11 de março) e de 33,1% (4 de março). Já na sexta-feira (19), o índice chegou a 40%, o maior do ano para este dia da semana, com exceção do dia 1º de janeiro, feriado, que teve 49,5% de reclusão.

No último final de semana, os números se mantiveram em relação aos sábados e domingos anteriores, que já estavam em regime de quarentena. O isolamento foi de 44,4% no sábado (20) e de 49,7% no domingo (21). A taxa havia sido de 43,1% e 50,9%, no sábado (13) e domingo (14), nesta ordem, e de 43,3% no sábado (6) e 50,2% no domingo (7). Nos dois fins de semana anteriores às restrições do governo estadual, a taxa tinha sido de 38,01% (27/02), 46,9% (28/02), 45,2% (21/02) e 33,06% (22/02) em Pernambuco.

Os índices de distanciamento social medidos por drones térmicos do Instituto de Redução de Riscos e Desastres de Pernambuco (IRRD) com o auxílio tecnológico do Facebook são ainda mais preocupantes. Segundo o pesquisador Jones Albuquerque, o isolamento hoje gira em torno de 15% a 17%. Ele conta que esta é a maneira mais fiel de medir a taxa, porque o monitoramento por geolocalização não contabiliza pequenos deslocamentos. "Isso é muito baixo, pois esse índice rapidamente é consumido pelo resto da fração da população que continua em circulação. Lamentavelmente, esse índice nos levará, provavelmente, a prorrogações das medidas de restrição e até à restrições mais rígidas, uma vez que as taxas de ocupação de leitos continuam em alta", disse.

Parte do desrespeito às regras de distanciamento foram observadas no sábado (21) pelo o Procon Pernambuco, que suspendeu três festas residenciais no Grande Recife; uma acontecia no meio da rua, no bairro do Pina, Zona Sul do Recife, e as outras nos bairros de Guadalupe e do Passarinho, em Olinda. Uma casa de bronzeamento, em Jaboatão dos Guararapes, foi interditada, e uma outra, no Recife, foi notificada, por estarem abertas. No mesmo dia, o JC flagrou descumprimento das medidas com relação ao distanciamento social e o uso da máscara obrigatória em alguns pontos dos bairros de Prazeres, em Jaboatão dos Guararapes, e Água Fria, Beberibe e Várzea, no Recife.

Para o epidemiologista e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Rafael Moreira, o desrespeito à quarentena é muitas vezes "fruto de um negacionismo da ciência e por muitos acharem que são intocáveis ao vírus". "Entre negar a ciência, levando uma vida mais desejável e livre de restrições, e ter que aceitar o caos social que estamos vivendo, levando uma vida com mais sacrifícios, infelizmente muitas pessoas tem optado pela primeira opção, seguindo exemplos que pactuam com a ausência de uma responsabilidade pelo coletivo", avalia.

Na coletiva de 15 de março, dia em que restrições foram anunciadas, o secretário de Saúde de Pernambuco, André Longo, apelou para que a população seguisse as regras para que o isolamento atingisse o patamar dos 60%. “O nosso comportamento é fundamental para que a gente tenha preservação de vidas nas próximas semanas. Se espera que haja uma inflexão na curva [de casos e mortes]. Isso poderá, sem dúvida nenhuma, ocorrer a partir de um maior isolamento social, com as pessoas ficando mais em casa. Nós precisamos nos aproximar mais dos patamares de 60% de isolamento”, disse o secretário.

No entanto, só dois dias, desde o começo da pandemia, alcançaram tal porcentagem: em 22 e 29 de março de 2020, quando 62% e 60,3% de pernambucanos ficaram em casa, respectivamente, segundo o monitoramento feito por geolocalização. Em 2021, o maior isolamento, até hoje, foi de 52,3%, em 3 de janeiro, um domingo pós-feriado.

Para o epidemiologista, pelo lento ritmo da vacinação, a única estratégia imediata para reduzir a taxa de ocupação de leitos de UTI e a consequente taxa de mortalidade é a restrição da mobilidade urbana. "Provavelmente será necessário prorrogar o decreto, o ideal seria no mínimo 20 dias seguidos. Contudo, deve haver maior fiscalização e medidas de sanções mais rígidas contra quem desrespeitar o decreto, já que as formas de prevenção já estão bastante difundidas na população", disse.

Auxílio emergencial

Rafael ressalta a importância da manutenção e criação de auxílios emergenciais para que a população permaneça reclusa. "Sem auxílio emergencial as pessoas não vão conseguir ficar em casa". A dificuldade de não ir às ruas é expressa também na alta taxa de desemprego e informalidade. Em 2020, Pernambuco fechou o ano com desemprego de 16,8%, o maior desde 2017, segundo Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Já o número de informais, ou seja, trabalhadores sem carteira, trabalhadores domésticos sem carteira, empregador sem CNPJ, conta própria sem CNPJ e trabalhador familiar auxiliar, ficou em 48,1% no Estado.

A prolongação do benefício criado pelo governo federal em 2020 é pauta de discussão no Congresso. Enquanto a oposição defende a volta dos R$ 600 pagos no ano passado, aliados do presidente Jair Bolsonaro afirmam que o País não suportaria um valor maior. A medida Provisória 1039/21 traz as regras para o pagamento do auxílio emergencial em 2021. Agora serão quatro parcelas mensais de R$ 250 destinadas aos beneficiários do auxílio emergencial pago em 2020, considerada a lista em dezembro. No caso da mulher provedora de família monoparental, a parcela mensal será maior, de R$ 375; na hipótese de família unipessoal, o valor será menor, de R$ 150.

Na última semana, a Prefeitura do Recife anunciou a criação do Auxílio Municipal Emergencial Recife (AME) para grupos da capital pernambucana que precisam de um apoio na renda mensal durante a pandemia da covid-19. A previsão da gestão é beneficiar 30 mil famílias nos meses de abril e maio, por meio de um investimento de cerca de R$ 6 milhões nas duas parcelas. O auxílio será concedido a dois grupos, que receberão R$ 50 ou R$ 150.

A reportagem do JC entrou em contato com a Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE) para que a pasta comente os dados, e atualizará esta matéria assim que receber resposta.

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