PANDEMIA

O drama dos bares e restaurantes que precisam fechar as portas pelas restrições contra a covid-19 em Pernambuco

Desde a última quarta-feira (26) até 6 de junho, estabelecimentos definidos como não essenciais da Região Metropolitana do Recife e da Zona da Mata só podem funcionar até as 20h nos dias de semana. Nos finais de semana, devem fechar para o público

Cadastrado por

Katarina Moraes

Publicado em 28/05/2021 às 14:37 | Atualizado em 28/05/2021 às 17:57
PORTAS FECHADAS Estabelecimentos comerciantes não poderão abrir nos sábados e domingos até dia 06 - REPRODUÇÃO/TV JORNAL

O gerente Alex José da Silva, de 30 anos, precisou despedir três pessoas nessa última semana do restaurante onde trabalha na Zona Sul do Recife. Uma delas era a mãe de uma menina que luta contra um câncer, e que havia sido contratada há poucos dias. A decisão foi tomada pela diretoria do estabelecimento após o Governo de Pernambuco anunciar novas medidas restritivas para todo o Estado, diante de números exorbitantes de casos e óbitos e da pressão que o novo coronavírus vem provocando no sistema de saúde, que, nessa quinta-feira (27), estava com ocupação de 91% nos leitos públicos e de 84% nos privados destinados a pacientes com problemas respiratórios.

Mesmo entendendo a gravidade da pandemia da covid-19, que já matou 457 mil brasileiros e parece não dar trégua, o gerente explica que a empresa também se vê responsável pelas famílias dos atuais 15 funcionários, e que teme novas prorrogações. “Estamos lutando para sobreviver. Infelizmente, a doença existe e está matando muito, mas a situação das empresas, principalmente na área gastronômica, já anda defasada faz tempo, e com essa pandemia ficou muito mais. Quando a gente acha que está reagindo, fecha novamente”, conta.

Desde a última quarta-feira (26) até 6 de junho, estabelecimentos definidos como não essenciais da Região Metropolitana do Recife e da Zona da Mata só podem funcionar até as 20h nos dias de semana. Nos finais de semana, devem fechar as portas para o público, estando permitidas apenas entregas e retiradas. Os 53 municípios das 4ª e 5ª Gerência Regional (Geres), que têm como cidades-sede Caruaru e Garanhuns (Agreste), e mais 12 cidades da 2ª Geres, com sede em Limoeiro, entram em quarentena total. Já nas macrorregiões 3 e 4 (ambas no Sertão do Estado), permanece o funcionamento das atividades em geral até 20h, de segunda a sexta-feira, e até 18h nos fins de semana.

O esquema, segundo o empresário Victor Miranda de Andrade, de 26 anos, que, junto à família, comanda as duas unidades do Xerém Restaurante e Cachaçaria e da Pizzaria Billy Hot, não é o suficiente para suprir as despesas, já que é aos sábados e domingos que os empreendimentos faturam 50% do total no mês. “Agora, a gente de novo vai ser obrigado a se reinventar com foco no delivery e a ter a cabeça aberta para criar novos pratos que rendam mais, sempre correndo atrás. A situação é muito chata, prejudica demais a gente, porque mais de 40 famílias estão ligadas a nós. Precisamos do atendimento presencial para o negócio fluir”, argumenta.

A emergência sanitária no Brasil fez com que a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) reduzisse a projeção de faturamento do setor para 2021 de R$ 235 bilhões para R$ 215 bilhões, um desempenho ainda superior do que no ano passado, quando ficou em R$ 175 bilhões. Uma pesquisa nacional realizada no início de maio e divulgada nessa última terça-feira (26) mostra que quase três em cada quatro empresários do setor apontam ter débitos vencidos. Destes, 81% estão em atraso no pagamento do Simples ou de impostos federais, enquanto 43% também possuem problemas com os impostos estaduais.

A estatística atinge o Sob Medida Bar e Comedoria, em Olinda, na RMR, que pertence à família de Rafaella Carapeba. Com o modelo self-service, os proprietários tiveram dificuldade em adaptá-lo para o delivery, e hoje contam com o auxílio de empréstimos em banco para sustentar o restaurante. “Quando as coisas estavam começando a retomar, fomos prejudicados de novo [com as novas restrições]. Foi um balde de água fria. Para sobrevivermos, reduzimos a carga horária dos funcionários, e estamos devendo ao banco, usando cheque especial”, relata.

Já o fortalecimento do delivery fez com que o empresário Heitor Guedes, de 28 anos, dono do Açaí Mix, em Boa Viagem, não só não precisasse demitir funcionários, mas visse o faturamento aumentar. “Nos preparamos para melhorar no que a gente já era bom, que era o delivery. Inovamos, criamos combos, mostramos benefícios de se pedir no restaurante e não no market place, criamos promoções exclusivas só no site da loja. Hoje, o faturamento está aumentando. Para mim, não acho que o novo decreto vai mudar muita coisa de como já estava desde o início do ano”, afirma.

Agreste

Com o comércio situado em Caruaru, no Agreste do Estado, que hoje está em quarentena total, o proprietário do Travessa Bistrô e do Empório Salatta, André Teixeira, de 31 anos, contou que faz de tudo para manter todos os 23 empregados, mas que precisou desligar dois desde o início da pandemia. “Geralmente, nós rodamos o fluxo de caixa, seguramos o pagamento de alguns fornecedores e priorizamos os funcionários. Mantivemos o salário, mas eles perdem a comissão. Por enquanto, temos conseguido manter todos, mas não sabemos até quando [conseguiremos]”, disse. Para ele, a “instabilidade” é o que mais dificulta o comércio, porque não se sabe “até quando ele aguentará financeiramente”.

Braço direito de André, a atendente de restaurante Daiane Stephani dos Santos, de 31 anos, foi contratada em outubro de 2019 para trabalhar em um restaurante de Caruaru, quatro meses antes dos primeiros casos do novo coronavírus serem confirmados em Pernambuco. Desde então, trabalha com medo da possibilidade de novas determinações de fechamento. “A gente fica na tensão, a ansiedade toma conta e ficamos com muito medo de prorrogar. Quando se ouve falar de demissão, já ficamos todos morrendo de medo. É muito complicado. O psicológico fica acabado”, relatou.

Auxílios

O Governo de Pernambuco informou que as micro e pequenas empresas cujas atividades tenham sido afetadas pela pandemia podem solicitar a linha de crédito GiroAGE - Emergencial. "Desenvolvida para quem é Microempreendedor Individual (MEI), Microempresa (ME) ou possui uma Empresa de Pequeno Porte (EPP), oferece capital de giro no valor de até R$ 50 mil, com até 30 meses para pagar, sendo até 6 meses de carência do principal", disse, por nota.

O primeiro passo é fazer o pré-cadastro, acessando o site da Agência no www.age.pe.gov.br. Em seguida, os documentos necessários serão solicitados por e-mail. Informações sobre taxas de juros, tarifas, garantias e documentação, também estão detalhadas no site da AGE. A Agência lembra que os juros cobrados nessas linhas foram projetados para apenas cobrir os custos de operação das mesmas.

Outra possibilidade da AGE para quem é MEI é o Microcrédito. Nesta linha, não é solicitada garantia real e o valor do financiamento vai até R$ 21 mil. Mas – para um primeiro contrato – o recurso será de até R$ 10 mil. 

Já para quem é empreendedor formal ou informal, a opção é o Crédito Popular, que deve disponibilizar até R$ 4 mil, com juros de 0,99% ao mês, com carência de até quatro meses e até 12 meses para pagar. O pré-cadastro também devem ser feito pelo site e, em seguida, um agente de crédito entrará em contato para agendar uma visita técnica presencial ao estabelecimento ou residência do empreendedor.

Decreto do Governo é válido a partir desta quarta-feira (26) - ARTES JC

Decreto do Governo é válido a partir desta quarta-feira (26) - ARTES JC

Feiras e igrejas

O funcionamento das feiras livres nos municípios abrangidos pelas novas regras será disciplinado por ato do respectivo(a) prefeito(a), observando as peculiaridades locais e evitando aglomerações.

Segundo o decreto que estabelece as regras ainda mais rígidas, igrejas e templos religiosos podem ficar abertos, nos finais de semana inclusive, apenas para a realização de atividades administrativas, serviços sociais e celebrações religiosas apenas de forma virtual, sem público.

Cidades em quarentena rígida

O que está liberado em cidades da 2ª, 4ª e 5ª Geres

O funcionamento das feiras livres nos municípios abrangidos pelo decreto será disciplinado por ato do respectivo(a) Prefeito(a), observando as peculiaridades locais e evitando aglomerações.

O que está proibido em cidades da 2ª, 4ª e 5ª Geres

Movimentação tranquila no Centro de Caruaru, no Agreste de Pernambuco - RENATA ARAÚJO/TV JORNAL CARUARU

Tags

Autor

Veja também

Webstories

últimas

VER MAIS