PROIBIÇÃO

Morte de banhista por ataque de tubarão na Igrejinha de Piedade completa 1 mês; veja o que mudou depois do incidente

Marcelo Costa Santos, de 51 anos, foi atacado por um tubarão no dia 10 de julho e não resistiu aos ferimentos; duas semanas depois, outro ataque de tubarão foi registrado, no mesmo ponto

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Vanessa Moura

Publicado em 10/08/2021 às 9:54 | Atualizado em 10/08/2021 às 10:07
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Um mês depois da morte do banhista Marcelo Costa Santos, de 51 anos, que foi atacado por um tubarão na altura da Igrejinha de Piedade, na praia de Piedade, em Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife, algumas coisas mudaram na localidade. A começar pelo trecho da praia, de 2,2 km, que foi interditado pela prefeitura do município. A interdição ocorre por tempo indeterminado e compreende a área localizada entre a Igrejinha e o Barramares Hotel. 

FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM
Trecho da praia de Piedade interditado para banho - FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM

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A medida, porém, não foi implementada logo depois da morte de Marcelo. A interdição da praia aconteceu apenas em 27 de julho, 17 dias depois, dois dias depois que o despachante Everton Guimarães Reis, de 32 anos, também foi vítima de tubarão. Este último foi socorrido para o Hospital da Restauração, no Centro do Recife, onde ficou internado até receber alta na última quinta-feira (5).

Everton foi mordido por um tubarão na coxa esquerda, exatamente duas semanas depois do incidente que provocou a morte de Marcelo Costa Santos, atacado pelo animal no mesmo ponto da Praia de Piedade.

Antes deles, a última vítima de tubarões em frente à Igrejinha de Piedade tinha sido José Ernesto Ferreira da Silva, de apenas 18 anos, em junho de 2018. Ele teve parte da perna e da genitália arrancados em uma mordida de tubarão. Menos de 12h depois, o jovem faleceu no Hospital da Restauração (HR), no Derby, área central do Recife. No dia 15 de abril, no mesmo local, o potiguar Pablo Diego Inácio de Melo, de 30 anos, também foi atacado. Este, por sua vez, sobreviveu. Ainda assim, Pablo Diego perdeu parte do braço direito e teve a perna direita amputada.

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Ao todo, foram registrados 68 ataques de tubarão em Pernambuco desde 1992: 63 ataques no continente, sendo 27 no Recife, 25 em Jaboatão dos Guararapes, seis no Cabo de Santo Agostinho, quatro em Olinda, um em Paulista e outro em Goiana. Em Fernando de Noronha, quatro pessoas foram vítimas dos tubarões. Há, ainda, dois casos em análise pelo Cemit em Noronha, que ainda não foram oficialmente incluídos no relatório.

Dentre todos os locais, o trecho da Igreja de Piedade é o ponto onde mais foram registrados incidentes. Existe uma geografia favorável às investidas naquele ponto. Quem explica a razão para que quase 20% de todos os ataques de tubarão no Estado tenham sido no local - segundo o Cemit - é a especialista em tubarões, oceanóloga e professora da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) Rosângela Lessa.

"Naquele ponto há uma abertura nos arrecifes que faz com que as águas do raso e das áreas mais fundas se relacionem. Se o tubarão estiver circulando na região, tem acesso fácil às áreas mais rasas. Também há um aprofundamento da costa naquele local, o que facilita a aproximação dos animais”, afirmou, em entrevista ao JC.

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Mesmo depois de todos estes casos, a proibição do banho de mar nunca tinha acontecido no litoral pernambucano. Até então, o banho era permitido nos locais de risco, se fosse no raso, e a única medida em vigor era a detenção para os banhistas que se recusassem a sair do mar, além da proibição de práticas de esportes aquáticos de mergulho, natação, atividades náuticas e aquáticas similares.

FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM
Trecho da praia de Piedade foi interditado após ataques de tubarão neste mês - FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM

Agora, de acordo com o Coronel Valdir Oliveira, presidente do Comitê de Monitoramento de Incidentes com Tubarões do Estado (Cemit), por conta da interdição, a fiscalização por parte do Corpo de Bombeiros será ainda mais rígida em caso de descumprimento das regras.

"Nossa intenção é conscientizar a população, desde que sejam aceitadas as medidas de segurança. As pessoas serão orientadas a não entrar na água e a sair da água caso já estejam dentro, se mesmo assim insistirem, serão detidas e encaminhadas à delegacia pelo crime de desacato", informou.

Ainda segundo ele, é necessário que a população atue de forma conjunta às forças de segurança, obedecendo e respeitando todas as medidas preventivas. "Os últimos ataques que aconteceram por aqui foram em pessoas que desobedeceram as medidas de segurança que adotamos. Esse último caso, por exemplo, temos relato de que a vítima já tinha sido retirada duas vezes do mar pelo Corpo de Bombeiros, e da terceira vez, quando ia ser retirado, ele foi atacado", completou o coronel.

O argumento, no entanto, foi rebatido pelo despachante Everton Guimarães Reis, que foi atacado no último dia 25. Em entrevista à TV Jornal na sexta-feira (6), ele disse que não havia sido alertado pelo Corpo de Bombeiros a sair do mar antes de ser atacado pelo tubarão.

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"No momento [do incidente], acho que estavam vindo dar algum alerta e pedir para eu recuar mais um pouco, mas eu não tinha sido alertado ainda", afirmou. Mesmo assim, a vítima, que foi mordida na coxa esquerda, agradeceu o trabalho dos bombeiros. "Tenho que agradecer a eles, porque foram cruciais naquele momento, se não tivessem feito o estancamento, poderia ter sido de mal a pior", completou.

Em contrapartida, testemunhas contaram à reportagem do JC à época que os bombeiros chegaram, sim, a pedir que a vítima ficasse no raso.

Mais banheiros e chuveiros

Como parte da ação para tentar evitar incidentes, dez banheiros químicos e dez chuveiros foram instalados no trecho, para atender a demanda da área. A ideia é justamente para tentar impedir que os banhistas entrem no mar e se arrisquem. Isso porque verificou-se que nos últimos ataques ocorridos naquela área, as vítimas entraram na água para urinar ou para tirar a areia do corpo.

"Uma das justificativas das últimas ocorrências é que as pessoas entravam no mar para se banhar ou fazer suas necessidades, então a prefeitura resolveu ampliar a quantidade de banheiros químicos e instalar chuveiros para que pessoas que frequentam essa área possam usar os equipamentos e não entrem no mar", explicou o vice-prefeito de Jaboatão, Luiz Medeiros.

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Paralelo à interdição, técnicos da prefeitura e pesquisadores da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) realizam estudos na área para tentar encontrar uma solução e mitigar o problema.

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