Nesse último final de semana, o arquipélago de Fernando de Noronha recolheu quase uma tonelada de piche e lixo, que foram levados para análise no Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira (IEAPM), no Rio de Janeiro, nesse domingo (15). O incidente acontece dois anos após o aparecimento de uma substância tóxica em diferentes praias do Nordeste brasileiro: uma tragédia ambiental abafada pela posterior crise sanitária da covid-19, que tirou o assunto de evidência, encerrando, até mesmo, a CPI do Óleo na Câmara dos Deputados, e que ainda não teve responsáveis apontados.
Imagens das manchas nas areias das praias do Sueste, Atalaia e Enseada do Abreu foram divulgadas pelo Movimento Salve Maracaípe no sábado (14), que, apesar da referência à praia de Ipojuca no nome, atua desde 2005 em defesa do meio ambiente em Pernambuco como um todo. “Não é normal. É um impacto ambiental atípico e grave uma vez que essas substâncias são danosas ao meio ambiente e principalmente aos ecossistemas sensíveis de Noronha”, denunciou.
Ao JC, a chefe do Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha, Carla Guaitanele, disse que é normal chegar lixo do oceano, mas que desta vez a proporção ficou bem acima do observado. “Permanentemente fazemos o monitoramento diário, mas nunca observamos essa quantidade toda. O trabalho de formiguinha, feito por tanta gente que ajudou na coleta do material, foi importante. Houve uma grande mobilização", comentou.
Recolheram o material, em conjunto, militares da Capitania dos Portos de Pernambuco, equipes do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), da Fundação Projeto Tamar; e da administração da ilha, além dos voluntários. Equipamentos de proteção individual (EPIs) foram doados por empresários. Um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) monitorou o arquipélago e informou não ter encontrado mais vestígios no mar. Ainda não há previsão de quando resultado das análises vai ser divulgado.
Desastre em 2019
Pernambuco foi um dos nove estados que sofreu com o derramamento da substância em 2019, com pelo menos 48 praias atingidas e oito estuários de rios, em 13 municípios litorâneos. Incontáveis animais foram encontrados mortos nas faixas de areia, e corais ficaram cobertos pelo petróleo. Além do impacto ecológico, pescadores e setores ligados ao turismo foram prejudicados pelo desastre.
Em última atualização sobre o caso, a Marinha do Brasil apontou três navios como principais suspeitos do derramamento: Navio-Tanque (NT) BOUBOULINA; NT VL NICHIOH (em maio de 2020, o navio alterou seu nome para NT CITY OF TOKYO); e NT AMORE MIO (em março de 2020, o navio alterou seu nome para NT GODAM). Isso foi possível após o sigilo do inquérito ter sido retirado do relatório entregue à Polícia Federal (PF) e ao Ministério Público Federal (MPF) em agosto do ano passado.
No comunicado, a Marinha também defendeu investimentos no monitoramento de navios. “Esse evento, inédito e sem precedentes na nossa história, traz ensinamentos, como a necessidade de se investir no aprimoramento do monitoramento dos navios que transitam nas águas jurisdicionais brasileiras e nas suas proximidades, destacando o Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul (SisGAAz)”.
Ainda, a Comissão de Parlamento de Inquérito (CPI) do Óleo criada na Câmara dos Deputados para apurar o caso foi encerrada em abril sem apresentar um relatório final, porque deputados federais não votaram a tempo pela sua prorrogação.