Com conclusão inicialmente prevista até o final de 2020, o Parque da Cidade, situado em área concedida pelo governo federal em Prazeres, Jaboatão dos Guararapes, só deve ficar pronto em março de 2022, segundo nova estimativa dada pela Prefeitura. Em janeiro deste ano, passados 13 meses do prazo inicial, ainda faltam obras estruturais, de paisagismo e a instalação de aparelhos que devem compor o espaço de 87 mil metros quadrados, tornando-o o maior da Região Metropolitana do Recife pelo custo de R$ 15 milhões aos cofres municipais. Só que o atraso na entrega é apenas parte do problema do parque, que peca no acesso aos pedestres - um dos conceitos fundamentais para que um equipamento público seja frequentado e utilizado.
Situado no meio de uma rodovia, o parque é totalmente gradeado e não tem um plano de mobilidade além da construção de uma passarela e de uma entrada pelo Centro Cultural Miguel Arraes de Alencar. Para quem vai a pé, a travessia é hostil, com rodovias em ambos os lados, falta de semáforos e de faixas de pedestres, dificultando o acesso ao local que foi pensado para atender 300 mil pessoas que moram nas comunidades mais próximas. O JC foi até a via e passou cerca de dez minutos tentando atravessá-la a pé - sem sucesso. Como se trata de uma área industrial, a passagem de veículos pesados, como caminhões, é intensa, e, por ser na BR-101, a velocidade chega aos 80 km/h. A reportagem precisou, então, entrar de carro no Centro Cultural para visitar o parque.
A preocupação com a travessia já é uma realidade para as famílias da Comunidade do Beco do Calvão, que fica a uma rodovia de distância do equipamento. Por lá, os moradores utilizam o espaço ainda inacabado para jogar bola e caminhar, e relatam o perigo para chegar até ele. “Antes era até menos perigoso, porque ninguém ficava atravessando. Agora ficamos todos com medo porque de vez em quando acontecem acidentes nessa via. É perigoso para os meninos irem jogar bola e para os adultos irem caminhar. Um dia desses um vizinho de 6 anos sofreu um acidente", relatou a dona de casa Maria José do Nascimento, de 62 anos, que mesmo assim comemora a construção do espaço público, já que ao redor não há áreas de lazer.
Questionada, a Prefeitura de Jaboatão dos Guararapes informou que, por se tratar de uma rodovia, mudanças de trânsito no entorno do parque devem ser consultadas com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). “Tivemos a sensibilidade de pensar nas comunidades ao redor. Fizemos várias reuniões com o Dnit, que disse estar licitando uma passarela ligando a [distribuidora da] Coca-Cola até o outro lado, com descida no parque. Deram o mesmo prazo de entrega que o do parque”, disse o secretário-executivo de Obras e Edificações, Eduardo Torres.
Em nota, o Dnit confirmou a informação, sem dar prazo para conclusão do serviço. "Será construída uma ponte que irá ligar as duas rodovias, por cima do parque, com uma escadaria para acesso ao parque pelo pedestres. O DNIT está em fase de conclusão do projeto para licitar."
Para a arquiteta e urbanista Ana Rita Sá Carneiro, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), construir uma passarela como principal ponto de acesso para o parque é “pensar nos carros antes das pessoas”. “É um planejamento que vai na contramão da humanização dos espaços públicos e dos princípios urbanísticos, que são justamente de permitir e de facilitar o acesso. Se a população não utilizá-lo, vai ser um espaço sem uma sensação de pertencimento pela comunidade, o que resulta no abandono, porque não tem ninguém se apropriando dele”, disse.
A “humanização da cidade” é um conceito trazido por Jane Jacobs, uma das urbanistas mais conceituadas do século XX cuja principal defesa diante dos parques urbanos era de que fossem integrados aos comércios, serviços e residenciais ao redor de forma que houvesse frequentemente a passagem de pessoas por eles, mantendo-o “vivo” e afastando a sensação de insegurança. “A intenção de ter uma área vegetada é boa, mas precisa bem pensada para que não se torne um gasto de dinheiro público”, afirmou Ana Rita.
O secretário-executivo de Saneamento e Projetos do Jaboatão dos Guararapes, Alex Ramos, acrescentou que o movimento do parque se dará, além dos moradores locais, também por passageiros que vêm das estações de metrô e de ônibus de Cajueiro Seco. Ainda, pontuou que a segurança dos pedestres que estiverem nele foi levada em conta, ao serem instaladas barras de contenção em todo o parque. “Concluímos um gradil com reforço de bloco de concreto que impede a transposição de veículos que viessem a invadir o espaço público.”
Obras em andamento
O espaço localizado em Prazeres, que funcionará como uma extensão do Centro Cultural Miguel Arraes, deve abrigar 32 equipamentos de lazer. Atualmente, o palco para eventos, as pistas de corrida e quadras de futebol de areia, poliesportiva, de society e de basquete estão estruturadas, assim como o slickline, faltando apenas pintura e últimos detalhes. As academias do idoso, de musculação e da cidade, arena de cão-terapia, e pista de pump track ainda esperam pelos aparelhos. Os 18 mil m² de grama estão sendo instalados.
Ainda não começou a plantação de 800 árvores ornamentais, essenciais para tornar o ambiente de concreto, que atualmente carece de sombras, arejado e possível de ser utilizado. Mesmo assim, o mestre de obras, Joel Júnior, é otimista quanto à entrega do parque em março. “Agora aceleramos porque querem que entreguemos em dois meses. É possível, se continuarmos no ritmo que estamos, porque já estamos [instalando] a grama agora. A [parte] elétrica já está ficando pronta”, disse.
Segundo a gestão, o atraso no cronograma foi causado pela pandemia da covid-19, que afastou trabalhadores doentes e retardou processos licitatórios até a chegada de insumos. “Em 2020, fizemos a terraplanagem e drenagem do terreno e a pista de carros. Depois, fizemos outra licitação para a parte de dentro. O contrato foi assinado em janeiro de 2021, faz apenas um ano de obra. As quadras já estão concretadas, estamos colocando, nessa semana, os alambrados, fazendo a pintura e a demarcação do piso, e colocando as gramas. Todo mobiliário será colocado mais próximo da entrega, para que tenhamos uma melhor utilização”, explicou Eduardo.