A Prefeitura de Olinda pediu a colaboração da população nesta segunda-feira (31), "para que ela respeite medidas como distanciamento social e uso de máscara", um dia após aglomeração ter sido registrada nas ladeiras da cidade. Em meio à alta de casos de covid-19 em Pernambuco, cerca de 300 pessoas foram vistas nesse domingo (30) nos Quatro Cantos da cidade, desrespeitando as normas sanitárias.
A aglomeração foi registrada em vídeo, que viralizou nas redes sociais. O caso aconteceu na esquina da Rua do Amparo com a Rua Pudente de Morais, e não foi promovida por um estabelecimento específico, segundo a gestão municipal. Ainda de acordo com a Prefeitura, a multidão foi dispersada por volta das 19h, quando foi identificada pela Guarda Municipal de Olinda. A operação foi realizada, além da Guarda Municipal, pelo Controle Urbano, Corpo de Bombeiros e Polícia Militar.
Uma moradora que não quis se identificar denunciou que a situação tem se repetido com frequência. A aposentada também reclamou da falta de fiscalização da área. "Fico indagando a todo tempo o que é que as autoridades estão fazendo, porque dizem que estão cuidando do povo. O povo passou praticamente dois anos preso, e quando saiu, saiu nessa loucura que vimos. Esse inferno se repete às sextas, aos sábados e aos domingos", disse.
No dia seguinte ao vídeo, a reportagem da TV Jornal encontrou as ladeiras de Olinda e a Praça do Fortim, no Carmo, repletas de lixo. Outra moradora da área, que também preferiu resguardar a própria identidade, disse ter ficado impressionada com a sujeira. "É lamentável porque isso mostra que as pessoas realmente não pensam no próximo. A maioria que estava ali não eram pessoas sem consciência, são pessoas que têm conhecimento", opinou.
A Polícia Militar informou que ninguém foi detido na ocasião. "Lembramos que ainda estamos vivendo um momento difícil por conta da pandemia da Covid-19 e a participação de todos nesse processo é muito importante para ajudar nesse enfrentamento", pediu a corporação. Ainda, disse que "cada um pode fazer a sua parte respeitando as normas e denunciando quando não houver o cumprimento" através do 190.
A Prefeitura alegou que uma operação é realizada todo fim de semana com os órgãos já citados e circula toda a cidade focando no cumprimento dos protocolos. Na sexta e no sábado, começa às 19h; no domingo, às 17h. Encerrando nos três dias à meia-noite.
No mesmo dia em que as imagens foram divulgadas, o Conselho Regional de Medicina do Estado de Pernambuco (Cremepe) divulgou nota defendendo a proibição de todo tipo de aglomerações no estado. Isso porque, atualmente, em Pernambuco, eventos privados podem acontecer com 50% da capacidade do local ou 1.000 pessoas, o que for menor, em ambientes fechados, e com 50% da capacidade do local ou 3.000 pessoas, o que for menor, em ambientes abertos, desde que sejam apresentados o passaporte vacinal e, a partir de 300 pessoas, o teste rápido de antígeno negativo ou teste RT-PCR negativo realizado.
Na nota, o Cremepe justifica o pedido com a exaustão dos profissionais de saúde. "Nos últimos dois anos, os médicos não deixarão de cumprir seu compromisso de bem servir às necessidades da população. Contudo, entende que esse sacrifício não pode ser feito de forma isolada. Há necessidade de que mais medidas sejam tomadas para reduzir a alta transmissibilidade da variante ômicron em nosso Estado, diminuindo a superlotação de pacientes existentes nas emergências, UPAS (Unidades de Pronto Atendimento) e policlínicas", acrescenta.
O sistema de saúde estadual está sob pressão. Boletim divulgado nesse domingo pela Secretaria Estadual de Saúde apontava 1.642 pacientes com sintomas de covid-19 internados em leitos públicos de UTI e enfermaria. A ocupação total dos leitos é de 83%; subindo para 87% no caso das UTIs e de 79% para as enfermarias. Como a variante ômicron se manifesta com menos gravidade em pessoas completamente vacinadas, a busca por vagas para enfermaria aumentou. Hoje a fila de espera é de pelo menos 200 pessoas. Lotações têm sido registradas com frequência em centros de testagem, farmácias, laboratórios e clínicas.
Em entrevista, o presidente do Crepe, Maurício Matos, fez uma apelo à sociedade diante da situação atual. "É preciso que haja uma compreensão com o aumento da pandemia que estamos vivendo pela população, que não deve frequentar esses ambientes, já que ela mesma pode ser vítima de adoecimento, e precisar enfrentar essas filas nas unidades, que atingem o público e o privado".
Por nota, a Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE) informou que "todas as medidas de enfrentamento ao novo coronavírus em Pernambuco têm sido adotadas de forma proporcional ao cenário epidemiológico e que, desde o início da pandemia, tem atuado com total transparência com base nos dados e indicadores da doença", e que o "monitoramento do cenário epidemiológico e dos indicadores da Covid-19 continua sendo feito de forma permanente". Por fim, pontuou que o Governo de Pernambuco não irá hesitar em tomar qualquer medida mais restritiva, caso seja necessário diante dos dados da doença.
CARNAVAL CANCELADO
Um dos principais polos carnavalescos de Pernambuco, Olinda teve o seu Carnaval cancelado. O prefeito da cidade, professor Lupércio (SD), decidiu não realizar a festa em 2022 por conta do avanço da covid-19. Assim como no ano passado, a prefeitura promete o pagamento de um auxílio em função da não realização da festa pública. O sábado de Zé Pereira, este ano, cai no dia 26 de fevereiro.
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Com o cancelamento do Carnaval, a prefeitura de Olinda promete pagar um auxílio a ambulantes, entidades, grupos e artistas que representam a cultura popular. A gestão também anunciou a destinação de investimentos para incentivar a realização de eventos culturais na cidade, indo desde festivais a editais para projetos culturais na cidade. O aporte inicialmente deve girar em torno dos R$ 3 milhões.
A decisão da prefeitura não abrange as festas privadas, que, segundo o prefeito, estarão sob a decisão do governo do Estado.