RELIGIÃO

Vinte e cinco anos depois de sua morte, frei Damião continua vivo na memória do povo

Frei Damião morreu em maio de 1997, aos 98 anos, no Recife. Dos mais humildes aos mais abastados, fiéis ouviam a palavra de Deus nas pregações e confissões do religioso

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Margarida Azevedo

Publicado em 29/05/2022 às 7:00
MILAGRE José Cícero assegura ter sido testemunha de dois milagres de frei Damião, a quem ele chama de padrinho. "Era um santo", afirma - BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM

Missionário do povo, reencarnação de Padre Cícero, Santo do Nordeste. Assim é conhecido informalmente frei Damião de Bozzano, frade capuchinho italiano que morreu, aos 98 anos, no Recife, no último dia de maio de 1997. Por seis décadas percorreu os rincões do Nordeste levando o Evangelho para o povo.

Vinte e cinco anos depois de sua morte e com um processo de beatificação em curso no Vaticano, em Roma, o sacerdote continua sendo venerado por milhares de pessoas que não precisam do reconhecimento oficial da Igreja Católica para declará-lo santo. Está vivo na memória dos que acreditam piamente que ele fez milagres por onde andou.

"Frei Damião foi um missionário que veio da Itália e que por 66 anos consagrou a sua vida aqui no Nordeste. Um frade de estatura mínima, porém gigante na sua missão, na sua fé", ressalta o guardião do Convento São Félix Cantalice, frei Janailson. Localizado no Pina, Zona Sul do Recife, o convento abriga o túmulo de frei Damião e um museu que conta a história do frade.

DEDICAÇÃO Vindo da Itália, frei Damião chegou no Brasil em 1931, com 33 anos. Sua primeira parada foi no Recife, no Convento da Penha - ACERVO JC IMAGEM

"Ele foi a muitas cidades do Nordeste pregando a palavra de Deus, pregando as santas missões que consistiam em bênçãos aos enfermos, às casas, o atendimento das confissões, a celebração da santa missa, as caminhadas penitenciais e o sermão", observa.

"Com essas missões ele foi conquistando o coração do nordestino. Hoje nós percebemos o amor, a devoção que o povo tem ao frei Damião, porque ele não mediu esforços para ir até as pessoas. As pequeninas, as grandes cidades do Nordeste, onde era convidado, onde era acolhido, frei Damião se fazia presente", ressalta.

"Deixou para nós um legado gigantesco de alguém que consagrou verdadeiramente a sua missão, dedicou a sua vida ao Evangelho, à verdade que nosso Senhor deixou para nós e que ele transmitiu não apenas com palavras, mas com a própria vida", atesta frei Janailson.

MILAGRES

Nascido em Bonito, no Agreste do Estado, o funcionário público José Cícero da Silva, 50 anos, diz ter testemunhado pelo menos dois milagres de frei Damião, um com ele mesmo e outro com uma mulher que estava prestes a parir. Cícero acompanhou as missões do frade por Caruaru e cidades da região por cerca de dois anos, no início da década de 1990.

"Tenho certeza de que ele é santo. Frei Damião era a presença viva de Deus. Estava sempre confessando, rezando o terço, celebrando missa. Sou devoto dele e tive a sorte de conhecê-lo e viajar com ele", afirma Cícero. Ele é um dos que dá seu testemunho no documentário Frei Damião, o Santo do Nordeste, filme da diretora Deby Brennand.

Capela onde esta o túmulo de Frei Damião. - DAY SANTOS/JC IMAGEM
Capela onde esta o túmulo de Frei Damião. - DAY SANTOS/JC IMAGEM

"Se ele num for santo, não existe outro. Eu morava em Bonito, trabalhando nas colônias de flores. Mas queria um emprego no Recife. Alcancei esse milagre. Pedi que frei Damião intercedesse. Ele disse para eu continuar rezando. Depois de um mês e 15 dias, consegui uma vaga na Assembleia Legislativa. Era para um contrato de dois anos. Vou completar 29 anos que trabalho no mesmo local", relata Cícero.

Em outro momento, relembra Cícero, viajavam de carro ele, frei Damião, frei Fernando (que acompanhou o frade por muito tempo) e outras duas pessoas. Seguiam de São Caetano até Caruaru. "Ele comentou que havia um caçador de passarinho na estrada e que parasse o carro. Não víamos ninguém", conta Cícero.

"Mas logo depois avistamos dois homens. Paramos. Um dos homens disse que buscava um carro para levar a esposa do compadre que estava prestes a parir. A parteira tinha ido na noite anterior e falou que o bebê estava atravessado, por isso só um médico para fazer o parto", relembra.

"Fomos andando até a casa desse homem. Um lugar simples, sem reboco. Quando chegamos na porta, a mulher já tinha tido a criança. O marido dela começou a chorar. Perguntou quem tinha feito o parto. Ela disse que chegou uma mulher, fez o parto e depois foi para a cozinha. Mas não tinha ninguém na cozinha. Foi um milagre de frei Damião", afirma Cícero, que chamada o frade de padrinho. Segundo ele, isso ocorreu em 1993. "Depois frei Damião mandou o homem voltar a rezar o terço em casa todo dia."

Há 21 anos Cícero ajuda a receber os romeiros que lotam o Convento São Félix Cantalice no último fim de semana de maio desde a morte de frei Damião. "Vem gente de tudo que é canto. Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba", comenta o devoto. Tradicionalmente, romeiros vindos de vários Estados nordestinos chegam para reverenciar o sacerdote italiano.

MISSAS

Neste domingo (29), serão celebradas cinco missas, às 4h, 6h, 10h, 14h e 17h. Às 8h haverá show com padre João Carlos e às 16h com Dudu do Acordeon. O arcebispo de Olinda e Recife, dom Fernando Saburido, vai celebrar a missa das 10h.

Na terça-feira (31), data em que se completam exatos 25 anos da morte do sacerdote, haverá missa no convento às 6h e às 17h.

 

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