Chuvas em Pernambuco: além do medo, população de Palmares convive com os boatos de que a barragem de Serro Azul vai sangrar

O trauma da enchente de 2010 em Palmares (Zona da Mata Sul) de Pernambuco, deixa um clima tenso na região todas as vezes que chove muito. Dessa vez o pânico é ainda maior, depois que a enxurrada provocou devastação no Grande Recife e muitas mortes. É como se agora ela estivesse visitando as outras regiões com mais força. Não bastasse o terror de reviver aqueles momentos, a população é bombardeada por boatos e notícias falsas.

Esses dias circularam áudios com a informação de que a barragem de Serro Azul no município tinha sangrado e ia inundar o distrito de Serro Azul e a cidade. 

As fake news obrigaram o presidente da Associação de Moradores de Serro Azul, Elson José da Silva, a criar uma rotina de subir na barragem e  produzir pequenos vídeos, mostrando a situação de água do reservatório. Para garantir a veracidade das imagens ele informa dia e horário. "Eu resolvi fazer os vídeos, porque andaram circulando uns áudios aqui de que faltava pouco ou que a barragem já estava sangrando. Isso criou um terror na região e não é o que estamos vendo, porque falta muito para alcançar o sangramento. Mesmo tendo chovido muito de quarta (14) para quinta (16), está tudo sob controle ainda. A barragem ainda está muito longe de encher", afirma. 

Medo ronda barragem de Serro Azul

A barragem de Serro Azul foi inaugurada em 2017, como a primeira de um grupo de cinco projetos de contenção das chuvas prometidos pelo ex-presidente Lula e o ex-governador Eduardo Campos após a enchente de 2010 na Mata Sul. A obra recebeu investimento de R$ 500 milhões e deveria ter sido entrgue em 2013, mas ficou pronta quatro anos depois. 

Desde que ficou pronta, a barragemde Serro Azul cumpriu o seu papel de conter a força das águas e evitar que a cidade ficasse submersa. O medo de que ela sangre é tanto o alagamento dos municípios da região quanto a sobrevivência de quem vive, literalmente, aos pés dela. O Estudo e Relatório de Impacto Ambiental (EIA-Rima) do empreendimento estabelecia um raio de segurança de 500 metros da barragem, onde não deveria se ver nenhum sinal de população.

O governo de Pernambuco chegou a iniciar um processo de desapropriação das casas vizinhas à barragem, que ficou pelo caminho. Hoje, 66 famílias da Rua da Ponte no Distrito de Serro Azul vivem aos pés do paredão de 65 metros de altura. Se o Eia-Rima previa uma distância mínima de 500 metros, tem casas a 50 metros. Isso justifica o medo. Se a barragem sangrar, a força da água poderá arrastar essas casas. O governo silencia sobre o problema e as promessas que fez de transformar o distrito em uma agrovila.