Entre os passageiros do ônibus que tombou na tarde desse domingo (19), deixando uma pessoa morta em Camaragibe, no Grande Recife, estava Mirelle Barbosa, de 30 anos. Ao JC, a dona de casa contou detalhes do que aconteceu. Segundo ela, a motorista do coletivo, uma mulher de 39 anos, estava em alta velocidade, e tinha sido alertada para tomar mais cuidado com o caminho por um outro passageiro.
“Ela estava correndo bastante. Um idoso, quando estava saindo, disse a ela: ‘está bom de você andar com cuidado, porque você está levando pessoas'. Primeiro pensei, ‘é bom que a gente chega em casa rápido’; mas quando ela saiu da Integração da Macaxeira, ficou mais rápido ainda, principalmente nas curvas. Eu segurava os meninos para eles não caírem”, contou Mirelle.
Ela estava a caminho de casa, no Bairro de Cavaleiro, em Jaboatão dos Guararapes, após um passeio no Parque Estadual de Dois Irmãos com os dois filhos, Mirela e Pablo, de 4 e 9 anos, respectivamente. Os três se sentaram do lado esquerdo do ônibus da linha 2490 - Camaragibe/Macaxeira; o filho de 9 anos na janela e Mirelle na cadeira da direita, com a filha mais nova no colo.
Até que, por volta das 15h20, o ônibus caiu para a direita quando fazia a curva na PE-05, conhecida como Avenida Belmino Correia, na altura da Praça Maria Amazonas, no bairro de Vila da Fábrica. “Quando ia virando, eu só dizia ‘meu Deus, não acredito que esse ônibus vai virar, aí virou, eu caí por cima de todo mundo e só senti a pancada no meu nariz e no olho”, contou ela.
A empresa Mobibrasil, dona do coletivo, no entanto, afirmou que "a motorista do ônibus teria sofrido um mal súbito e perdido o controle do veículo". Além disso, se solidarizou com as vítimas e familiares e disse estar "à disposição das autoridades para colaborar com a apuração dos fatos". O caso está em investigação pela Polícia Civil de Pernambuco.
O coletivo estava cheio, com pessoas em pé, mas ainda não se sabe quantas. O poder público, entretanto, registrou que pelo menos 33 pessoas foram socorridas. Entre os passageiros, estava a empregada doméstica Maria da Conceição Cabral da Silva, 54 anos, que morreu no local. “Ela estava gritando muito, mas estava presa às ferragens. Já estava falecendo. Não tinha o que fazer.”
“Foi desesperador. Muito ruim. Eu só pensava nos meus filhos. Muita gente gritando. Eu caí por cima dos outros. Primeiro botei meu filho para fora, depois minha filha, e depois eu saí. Meus filhos estavam muito nervosos”, disse ela, que revelou ter ficado traumatizada em andar de ônibus depois do episódio.
Mirelle foi socorrida, inicialmente, para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Caxangá, na Zona Oeste do Recife. De lá, foi transferida para o Hospital da Restauração (HR), na área central da capital pernambucana. Ela aguardará até esta quarta-feira para saber se precisará ou não fazer uma cirurgia no nariz. “Estou de repouso e com dor”, afirmou. As crianças não tiveram ferimentos.
Feridos foram socorridos até hospitais da região
O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) Metropolitano do Recife socorreu 27 pessoas, junto com o Samu São Lourenço e Paudalho, para diversas unidades de saúde da Região Metropolitana do Recife. Outras seis foram socorridas pelo Corpo de Bombeiros.
A reportagem do JC identificou que pelo menos cinco dessas pessoas continuam internadas nesta segunda-feira. Três estão no Hospital da Restauração - Gabriel Wesley Pereira de Andrade, 25, e Maria Luiza de Souza Viana, 30, estão na unidade de trauma em observação. Wanderson Vicente da Silva, 32, passou por cirurgia e está em enfermaria, apresentando estado de saúde estável.
No Hospital Getúlio Vargas, está Eliel Soares de Barros, 56, que deu entrada com uma lesão no braço esquerdo. Ele segue estável e em observação. Já no Hospital Otávio de Freitas, está Luciano Lins de Siqueira, 44, que foi admitido com uma lesão no cotovelo e segue em acompanhamento pela equipe de traumato-ortopedia da unidade. No momento, seu quadro geral de saúde é considerado estável, mas ainda não há previsão de alta.