Cinco monumentos que foram alvo de vandalismo na capital pernambucana serão recuperados pela Prefeitura do Recife, conforme anúncio feito nessa terça-feira (23). Entre eles, o busto de Frei Caneca, cujo furto da praça que ganhou o nome dele, no Bairro de São José, no Centro, foi denunciado pelo JC no último domingo (21).
Os outros são a escultura O Mascate (Avenida Dantas Barreto), o brasão do Monumento a Sacadura Cabral (praça 17, Santo Antônio), o brasão da Ponte Maurício de Nassau, que liga os bairros do Recife a Santo Antônio, algumas peças da escultura Maracatu (nas imediações do Forte das Cinco Pontas), além de letras que compõem a obra central cravada no solo do Marco Zero, no coração do Bairro do Recife.
À exceção das letras do Marco Zero, feitas em latão, as demais peças e obras são feitas em bronze. Para todas estas ações, a Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife (Emlurb) já abriu Boletins de Ocorrência e entrou em contato com artesãos para elaborar orçamento para os bustos e esculturas furtados, que serão produzidos em concreto para a reposição. Os brasões deverão ser feitos em bronze e as letras em latão.
“Eu tô aqui no local ao lado do Forte das Cinco Pontas onde ficava o busto de Frei Caneca, que foi furtado de maneira criminosa esse final de semana. Nós já fizemos o Boletim de Ocorrência e nós vamos refazer o busto porque jamais deixaremos esquecidos ou negligenciados os heróis que ajudaram a construir o nosso estado e a nossa pátria", frisou o prefeito João Campos (PSB), pelas redes sociais.
Na capital pernambucana, os gastos com manutenção ocasionada por vandalismo ultrapassam R$ 2 milhões anuais, um valor que poderia ser usado na construção de duas creches. A gestão municipal lamentou e repudiou o furto das peças, pois os atos de vandalismo "causam prejuízos enormes para a administração municipal" e pediu o apoio da população na manutenção do patrimônio público.
Denúncias de depredação do Patrimônio Público podem ser feitas à Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife (Emlurb) através do telefone 156. "É importante que a gente denuncie qualquer ato de vandalismo, qualquer ato criminoso”, disse o prefeito.
Furto de busto de Frei Caneca
A ausência do busto que homenageia Frei Caneca, inaugurado em 2 de julho de 1981 e colocado no local onde o frei foi morto, foi notada nesse domingo (21). Ele foi um presente à cidade do Recife oferecido pelo antigo Colégio e Curso Radier, dirigido no período pelo professor Roberto Pereira, membro do IAHGP atualmente. A escultura foi inaugurada durante as comemorações do 157° aniversário da Confederação do Equador.
Por nota, o Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano (IAHGP) lamentou profundamente e manifestou indignação pelo roubo da obra em bronze, produzida pelo escultor Wamberto Jácome, considerado um dos maiores escultores clássicos do Brasil na época. “Um povo sem história não tem futuro”, lamenta a presidente do IAHGP, Margarida Cantarelli.
Parque das Esculturas em reconstrução
Atualmente, o Parque das Esculturas, um dos cartões postais mais famosos da capital pernambucana, assinado pelo artista plástico Francisco Brennand, está em reconstrução. As obras de restauro das peças foram iniciadas no final do ano de 2021 e são realizadas pelo também artista plástico e coautor do projeto do espaço, Jobson Figueiredo, com investimento de R$ 5,5 milhões do município.
Em dezembro de 2020, o Parque foi alvo de criminosos, que furtaram 64 das 74 peças originais. Segundo a gestão, as obras de restauro e de reprodução de boa parte desse conjunto, que é feita de bronze fundido e cerâmica, já estão avançadas, com cerca de 90% do trabalho concluído.
Por que o vandalismo acontece?
Em estudo de 2018, a pesquisadora Maria João Correia da Cruz trouxe que alguns autores acreditam que o ato tem objetivo de desafiar as regras estabelecidas e outros que acham que é provocado por condições psicológicas. Mais linhas de pensamento seguem a ideia que são resultados de problemas sociais profundos ou de características do ambiente físico.
Pesquisadores da Universidade de Groningen, da Holanda, mostraram que as motivações para a prática do vandalismo também têm origem na falta de cuidado e de movimento de pessoas no espaço público. O artigo foi publicado na revista Science, em 2009.
O grupo fez experimentos de campo em que observaram o comportamento de indivíduos em cenários com ausência e presença de vandalismo. Nas duas situações, as pessoas não sabiam que estavam sendo observadas.
Ainda, indicou que a desordem urbana facilita as ocorrências. Os pesquisadores colocaram um folheto de propaganda em cada bicicleta com o objetivo de observar se as pessoas iriam jogá-lo no chão ou levá-lo até uma lixeira mais distante.
Das 77 pessoas observadas em cada situação, 69% jogaram o folheto no chão no cenário com as paredes pichadas. Quando as paredes estavam limpas, apenas 33% cometeram a mesma infração.
"Os espaços mais afetados pelo problema são vandalizados pela sua natureza física propensa a essa atividade, pela dificuldade de vigilância, pela aparência degradante do espaço ou do edifício, e pelo condicionamento social consequentemente criado, como o desinteresse pelos espaços e equipamentos e o receio pela integridade física", pontuou Correia da Cruz.
A gestão municipal pede o apoio da população na manutenção do patrimônio público. Para denúncias e sugestões, a Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife (Emlurb), disponibiliza o número 156.
Falta de regulamentação de ferros-velhos facilita prática
No Grande Recife, é comum que atos do tipo aconteçam para que peças sejam vendidas em ferros-velhos, por exemplo. Foi o caso do Parque das Esculturas - um patrimônio que foi derretido e vendido a baixo custo nestes estabelecimentos.
A ação é facilitada pela falta de regulamentação da lei que desde 2008 estabelece que comprador e vendedor de quaisquer transações em ferros-velhos sejam identificados, sob pena de multa e apreensão, além de que seja feito cadastro de compra, venda ou troca de cabo de cobre, alumínio, baterias e transformadores para reciclagem.
Sem a regulamentação, as irregularidades são identificadas somente quando denúncias são feitas. Assim, objetos muitas vezes pertencentes ao patrimônio público e privado seguem sendo repassados às escuras, o que prejudica a sociedade e até mesmo os estabelecimentos que escolhem funcionar legalmente.
A reportagem do JC denunciou a falta de regulamentação no início do ano. Até agora, no entanto, o Governo de Pernambuco não tem um prazo para que seja feita.
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