O Movimento Casarão de Mulheres (MTCM/PE) ocupou, na manhã desta quarta-feira (17/7), a propriedade onde o compositor pernambucano Capiba morou. Em 2017, o Governo de Pernambuco desapropriou o imóvel e o incorporou no patrimônio do estado, destacando que o decreto “destinava-se à preservação e conservação da Casa de Capiba, a fim de manter a memória artística de Pernambuco”.
Sete anos depois, o cenário é de deterioração e abandono. O espaço, onde ainda estão guardados os painéis que homenageavam o músico, quando sua viúva Maria José Barbosa, “Dona Zezita”, o transformou em memorial, agora é depósito de lixo.
Em ato de reivindicação por moradia digna, o Movimento Casarão de Mulheres ocupou a propriedade e cobrou resposta do Governo do Estado. Mais de 50 famílias, de todas as regiões de Pernambuco, estiveram presentes no ato. Aproximadamente 5 viaturas da Polícia Militar (PM) e 3 motos deram apoio aos manifestantes.
Nós queremos moradia digna. Luto por isso há mais de 10 anosTelma Maria, 61 anos, integrante do movimento há mais de 5 anos
A coordenadora do movimento, Ivani Oliveira, afirmou que, apesar de tentativas, o grupo não chegou a um acordo com o Governo de Pernambuco. “Não existe nenhum planejamento para este terreno. As famílias estão desabrigadas e não têm nenhum apoio do Estado. Já fizemos reunião com o órgão competente da habitação e, até o momento, nada foi distribuído para essas famílias do movimento”, destacou.
Até o fim da manhã, nenhum representante da Companhia Estadual de Habitação e Obras (Cehab) apareceu no local. De acordo com a coordenadora do movimento, a proposta é que o grupo desocupe o imóvel e forme uma comissão para negociações com a companhia. “Pernambuco está um verdadeiro descaso na área de habitação. O Governo do Estado falou que viria nos atender, mas não cumpriu com o prometido. Nossa pauta é habitação. Esse terreno é do Estado e as famílias que estão na ocupação também são do Estado: o direito de ir e vir, à moradia e à dignidade são do Estado”.
Uma equipe da Defesa Civil esteve no local para vistoriar e averiguar os possíveis riscos do imóvel.
Em nota, a Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação do Estado (Seduh) informou que o movimento não realizou, junto ao Estado, nenhuma reivindicação prévia de área para habitação e que, por isso, a ocupação na Casa de Capiba é um movimento irregular. Ainda de acordo com a secretaria, o imóvel ocupado não tem direcionamento para destinação habitacional. Confira nota na íntegra:
“A Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação do Estado (Seduh) informa que os profissionais de projetos sociais da Companhia Estadual de Habitação e Obras (Cehab) estão em contato com a coordenação do movimento. O convite é para que os ocupantes da Casa Capiba se retirem do local e se reúnam com os técnicos na sede da Cehab para discutir os termos da reivindicação. Sem atender a esse pedido, o diálogo fica impossibilitado.
É importante frisar que o referido movimento não realizou junto ao Estado nenhuma reivindicação prévia de área para habitação e, por isso, a ocupação na Casa de Capiba é um movimento irregular. Além disso, o imóvel ocupado não tem direcionamento para destinação habitacional.
Desde o início da atual gestão, a Seduh e a Cehab mantêm diálogos constantes com todos os movimentos de luta por moradia no Estado. Nessas reuniões, governo e movimentos sociais discutem demandas, num trabalho de aproximação e colaboração com o objetivo de entregar empreendimentos de habitação de interesse social.
A parceria vem dando resultados práticos, com o Estado viabilizando chamamentos públicos e doação de áreas para que as entidades sociais, em posse dos terrenos, possam receber benefícios vindos dos programas federais, como o Minha Casa, Minha Vida FDS e MCMV FAR, dois importantes fundos de recursos destinados a habitação de interesse social. É através do diálogo que o governo e os movimentos estão trazendo soluções para o problema da habitação em Pernambuco.”
Situação do imóvel
Uma placa com os escritos “Propriedade do Estado de Pernambuco” apresenta a antiga casa de Capiba para quem passa na Rua Barão de Itamaracá. Porém, pedestres e motoristas que observam o imóvel do compositor dos clássicos “Oh bela!”, “Voltei Recife” e “Madeira que cupim não rói” não imaginam a atual situação do imóvel onde ele viveu.
Os painéis que contam a história de Capiba e de suas músicas estão espalhados pela propriedade, partes do piso da escada de madeira estão soltas e o chão está coberto de lixo e sujeira.
Em 2021, a Secretaria de Administração (SAD) de Pernambuco afirmou que a casa se tornaria um espaço turístico e que uma “fase interna de estudo” para contratar os projetos de reforma do imóvel havia sido iniciada. Na época, a pasta não informou prazos para que as reformas acontecessem no local.