Maia critica Bolsonaro por conflito com Mandetta em meio ao coronavírus: "não faz sentido"

Para Maia, Bolsonaro toma posição dúbia, desautorizando o ministro da Saúde, mas sem coragem de mudar a política
Cássio Oliveira
Publicado em 03/04/2020 às 10:06
Maia viu seu candidato a presidente da Câmara ser derrotado pelo candidato de Bolsonaro Foto: Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil


O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou nesta sexta-feira (3) que é fundamental não perder o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, durante a crise causada pela pandemia do novo coronavírus (covid-19). Maia se referiu ao fato de o presidente Jair Bolsonaro ter afirmado que ele e Mandetta estão se "bicando há algum tempo".

"O presidente fez escolhas pessoais para os ministérios, apesar do Mandetta ser um grande quadro do Democratas, ele não foi escolhido por isso, ele foi escolhido por qualidades técnicas, então esse conflito que ele constrói agora com o ministro não faz nenhum sentido. Acredito que o ministro, mesmo com a dificuldade de ser desautorizado, ele cumpre papel essencial baseado nas recomendações da OMS e na ciência", disse Maia. 

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As declarações do presidente da Câmara ocorreram durante debate "Propostas para o Recomeço", com participação do economista-chefe do banco Itaú, Mario Mesquita e mediado pelo editor-executivo do Valor Econômico, Cristiano Romero. A conversa foi transmitida numa live e teve de ser feita à distância por precaução à covid-19.

Confira o debate com Rodrigo Maia

Ainda de acordo com Maia, Bolsonaro discorda de Mandetta, mas não tem "coragem" de mudar a política pública na área da saúde. "É fundamental que no meio desse processo não tenhamos a perda de um nome como Mandetta, porque até outro setar na cadeira e reorganizar o processo, até com uma visão diferente, pois se o presidente mudar o ministro, ele vai mudar a política do ministério, porque ele não acredita naquilo e ao mesmo tempo não tem coragem de retirar o ministro e mudar oficialmente a política. Ele fica numa posição dúbia", afirmou Maia. 

Nessa quinta-feira (2), Bolsonaro afirmou à Jovem Pan que não vai demitir ninguém "no meio da guerra", mas acrescentou que Mandetta teria "extrapolado", sabendo que existe uma hierarquia. "O Mandetta já sabe que a gente está se bicando há algum tempo, já sabe disso, eu não pretendo demiti-lo no meio da guerra, não pretendo. Agora, ele é uma pessoa que em algum momento, ele extrapolou. Ele sabe que tem uma hierarquia entre nós, eu sempre respeitei todos os ministros", afirmou o presidente.

"Toda vez que o presidente (Jair Bolsonaro) vem a público para criticar o ministro ele mais atrapalha que ajuda.  " - Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados

Governadores

A crise na relação entre o presidente e os governadores também esteve na pauta do debate. De acordo com Rodrigo Maia, os chefes dos executivos estaduais estão fazendo um trabalho "extraordinário". "Os governadores têm feito seguido o comando do ministro Mandetta, que foi indicado pelo presidente. Aí, o presidente ataca os governadores. É como digo, o Brasil não é país para amadores", disse o deputado.

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Também nessa quinta-feira (2), Jair Bolsonaro ironizou governadores em conversa com pastores, na entrada do Palácio do Planalto. Ao comentar as críticas que recebeu por ter saído às ruas do Distrito Federal no último domingo (29), ele desafiou os gestores a fazer o mesmo. "Duvido que um cara desses, um governador desses, um (João) Doria da vida, um Moisés (Carlos), vai no meio do povo. Não vai", disse, referindo-se, respectivamente, aos governadores de São Paulo e Santa Catarina. "Algumas outras autoridades que me criticam, vai lá conversar com o povo. A justificativa é: 'Não vou porque posso pegar...'. Tá com medinho de pegar vírus? Tá de brincadeira", disse.

Impeachment

Durante o debate, o presidente da Câmara foi questionado se os pedidos de impeachment do presidente que foram protocolados estão no radar de discussões. Na visão de Maia, o foco deve ser no combate ao coronavírus. "No meu radar só tem um tema que é superar a crise. A agenda política não tem espaço nesse momento. Ontem me peguntaram sobre a live do presidente e eu disse que não seria comentarista das lives!, disse.

Para Maia, a ideia é que crises criadas pelo Planalto, fiquem no Planalto. "Nossa relação com técnicos do governo é positiva e vamos focar no principal, não podemos perder um minuto em crise política, isso gera insegurança na sociedade.

"Acho que em alguns setores faltou acreditar que os impactos seriam grandes. Na saúde, as coisas caminham, mas sem uma compreensão de todo o governo, é claro que isso acaba atrasando o planejamento. " - Rodrigo Maia

Sobre a pressão para que o comércio reabra, o presidente foi taxativo: "temos de ter cuidado para não sermos culpados por mortes no futuro por ficar avaliando se é melhor assim ou assado, as empresas que defendem a volta agora vão pagar o isolamento dos idosos nas comunidades carentes? Vão financiar isso? é o Ministério da Saúde que precisa nos orientar não A ou B palpiteiro de crise que pode gerar morte. Isso não interessa a nenhum de nós", concluiu.

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