Em entrevista à CNN Brasil nesta segunda-feira (27) sobre os bastidores da saída de Sergio Moro do cargo de ministro da Justiça, a deputada Joice Hasselmann, líder do PSL na Câmara, afirmou que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) planejou interferir no comando da Polícia Federal (PF) em Pernambuco para "perseguir" o presidente nacional da legenda, Luciano Bivar. O PSL foi o partido que elegeu Bolsonaro presidente.
>> Moro disse que Bolsonaro quis interferir politicamente na PF em Pernambuco e no Rio
"Além de querer colocar um dos seus para comandar a diretoria-geral da PF, o presidente tentou muitas vezes emplacar um nome no Rio de Janeiro e um em Pernambuco. No Rio, é só juntar lé com cré, Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) é investigado, ele quer alguém que blinde seu filho. Em Pernambuco, para perseguir o presidente do PSL, deputado Luciano Bivar (PE), que não permitiu que o partido fosse tomado da forma que o presidente queria, uma forma pouco republicana, realmente muito autoritária", disse Joice ao jornalista Daniel Adjuto.
Segundo a deputada, o presidente transformou o deputado pernambucano "em um inimigo político porque Luciano não entregou de mão beijada o PSL para ele".
Em nota enviada ao JC, após ser questionado sobre a declaração de Joice, Bivar disse o seguinte:
"Não é a toa que o Partido Social Liberal (PSL) não está alinhado ao Governo Federal. O PSL não compactua com práticas onde não se respeita as instituições partidárias democráticas."
A suposta tentativa de interferência política de Bolsonaro na PF em Pernambuco e no Rio de Janeiro tinha sido divulgada por Moro durante a coletiva para anunciar seu desembarque do governo federal, no dia 24 de abril.
"O problema é que nas conversas com o presidente, havia intenção de trocar também superintendentes. Não só o diretor-geral. No Rio de Janeiro, em Pernambuco, sem que me fosse apresentado uma razão ou uma causa para essas substituições", disse Moro.
Por meio da assessoria de comunicação, a Superintendência Regional da PF em Pernambuco afirmou que não iria se pronunciar sobre as mudanças da PF, nem sobre as declarações de Moro.
De acordo com Moro, a partir do segundo semestre de 2019 passou a haver uma insistência do presidente na troca do comando da PF. No ano passado, Bolsonaro sugeriu um nome para a superintendência da PF no Rio de Janeiro mas acabou sendo nomeado para o cargo outro delegado, Carlos Henrique de Sousa, indicado pelo ex-diretor geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, com o aval de Moro.
"Não é uma questão do nome. Tem outros bons nomes para assumir o cargo de diretor-feral da PF. O grande problema da troca é uma violação de promessa que foi feita a mim, de carta branca. Não teria causa e seria uma interferência política na PF. Isso geraria um abalo de credibilidade. Não minha, mas minha também, e do governo. Geraria desorganização. Não aconteceu durante a Lava Jato, a despeito dos problemas de corrupção dos governos anteriores", disse Moro.
A definição do ocupante do posto no Rio, em substituição a Ricardo Saadi, foi tema de um entrevero entre Bolsonaro e Moro e causou desgaste entre o presidente, a cúpula da PF e o próprio ministro. Bolsonaro, que precipitou a saída de Saadi, queria substituí-lo por Alexandre Saraiva, superintendente no Amazonas. A PF não aceitava indicação para o preenchimento dessa vaga.
Após a mudança, a delegada Carla Patricia Cíntia Barros da Cunha assumiu como superintendente da PF em Pernambuco, no lugar de Carlos Henrique Sousa. A portaria foi assinada pelo secretário-executivo da PF, Luiz Pontel.
Hoje, a PF no Rio investiga o senador Flávio Bolsonaro, filho de Jair Bolsonaro, em processo sobre esquema conhecido como 'rachadinha', no qual haveria acerto fraudulento de contratação de assessores sob condição de abrirem mão de parte do salário em favor de quem o contratou.
Já em Pernambuco, a PF apura um suposto esquema de candidaturas laranjas usado nas eleições de 2018 pelo PSL, de Luciano Bivar.