Presos em operação da PF que investiga corrupção em obra na BR-101 são secretários da Prefeitura do Recife

Segunda fase da operação foi deflagrada semana passada. Secretários eram vinculados ao DER-PE até 2019
Renata Monteiro
Publicado em 11/05/2020 às 20:18
Presos são ligados ao deputado federal Sebastião Oliveira (PL), que foi secretário de Transportes de Pernambuco entre 2015 e 2018 Foto: Priscila Buhr/Acervo JC Imagem


Atualizada às 11h26 de 12 de maio de 2020

Os mandados de prisão temporária cumpridos pela Polícia Federal (PF) na última sexta-feira (8), com a deflagração da segunda fase da Operação Outline, foram direcionados a dois secretários da Prefeitura do Recife. De acordo com as investigações, Schebna Machado de Albuquerque e Silvano José Queiroga de Carvalho Filho, secretários executivos do Trabalho e Qualificação e de Empreendedorismo, respectivamente, fariam parte de uma organização criminosa suspeita de desviar recursos públicos destinados à requalificação da BR-101. Ambos são ligados ao deputado federal Sebastião Oliveira (PL-PE), que também foi alvo da operação.

Segundo a apuração da PF - realizada em parceria com o Ministério Público Federal (MPF), Tribunal de Contas da União (TCU) e Tribunal de Contas do Estado de Pernambuco (TCE-PE) -, o grupo teria praticado os crimes de organização criminosa, corrupção e lavagem de dinheiro no âmbito do Departamento de Estradas e Rodagens do Estado (DER-PE), onde Machado e Carvalho trabalharam, e da Secretaria de Transportes, pasta que foi comandada por Sebastião Oliveira entre 2015 e 2018, no primeiro mandato do governador Paulo Câmara (PSB). Inicialmente, os nomes dos presos não foram divulgados devido a restrições impostas pela lei de abuso de autoridade, mas fontes ligadas à investigação repassaram, em reserva, a informação para a reportagem do JC.

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Nos últimos anos, Schebna Machado e Silvano Carvalho ocuparam vários cargos públicos em Pernambuco. Administrador, Machado foi funcionário do Banco do Brasil e, ainda no governo Eduardo Campos (PSB), em 2013, passou pela diretoria administrativa e financeira do Porto do Recife, onde também atuou como presidente. Há registros de passagens suas pela Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) e pela superintendência administrativa e financeira da Procuradoria Geral do Estado. Em 2015, já com Paulo no poder, foi nomeado diretor de Gestão e Logística do DER-PE e em 2019, antes de seguir para a PCR, passou para a diretoria Administrativa Financeira do órgão.

Carvalho, por sua vez, é formado em engenharia civil e foi secretário municipal em Jaboatão dos Guararapes entre 2005 e 2006, durante a gestão do prefeito Newton Carneiro. Ele também passou pelo Porto do Recife na mesma época que Machado, quando assumiu a diretoria de Projetos e Obras. Segundo histórico publicado no site do terminal à época da nomeação, Carvalho “foi supervisor chefe da duplicação da BR-232 e supervisor no trabalho de duplicação da BR-101”. Presidiu o DER-PE até fevereiro de 2019, quando foi exonerado a pedido, para ficar à frente da Secretaria Executiva de Empreendedorismo do Recife.

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Na semana passada o DER-PE limitou-se a informar, por nota, que está à disposição da PF e que “vem contribuindo com as investigações para esclarecer qualquer dúvida de ordem técnica ou jurídica referente às obras de requalificação da BR-101”. O Palácio do Campo das Princesas não quis comentar o caso.

Segundo informações do Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco (TRE-PE), tanto Schebna Machado quanto Silvano Carvalho são filiados ao Avante e fazem parte da comissão provisória que comanda o partido atualmente em Pernambuco, ambos como tesoureiros. A esposa de Silvano, Priscilla Ferraz Magalhães Queiroga de Carvalho, é segunda vice-presidente da sigla. O Avante pernambucano é presidido por Waldemar Oliveira, suplente de senador e irmão de Sebastião Oliveira. O partido não se pronunciou sobre as prisões.

Sebastião Oliveira foi o responsável por indicar, na última semana, Fernando Marcondes de Araújo Leão, ex-gerente-geral do Procon em Pernambuco, para o comando do Departamento Nacional de Obras contra a Seca (DNOCS), uma das primeiras movimentações decorrentes do acordo político entre o Palácio do Planalto e o Centrão para construir uma base de apoio no Congresso para o presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

PRISÕES

Diferentemente do que foi publicado na primeira versão dessa matéria, que dizia que Machado e Carvalho estavam presos no Cotel desde a sexta-feira (8), a Justiça Federal esclareceu que as prisões temporárias foram convertidas em domiciliares com prazo de cinco dias naquela mesma ocasião. A reportagem do JC tentou entrar em contato com a defesa dos secretários, mas não conseguiu localizá-la até a publicação desse texto.

A Prefeitura do Recife também foi procurada para falar sobre o envolvimento de membros do governo na operação da PF e informar se eles continuarão nos cargos, mas, até o momento, não encaminhou resposta às demandas da redação.

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