Após a divulgação da primeira pesquisa Ibope/JC/Rede Globo para a Prefeitura do Recife, na última sexta-feira (2), analistas políticos avaliam que as estratégias dos principais candidatos da capital no pleito podem ser revistas nas próximas semanas com base na “fotografia” eleitoral que o levantamento expôs. O estudo trouxe o ranking das intenções de votos para os 11 candidatos, mas, para além disso, deu indícios do que se passa na cabeça do recifense quando ele pensa na atual gestão do prefeito Geraldo Julio (PSB), no governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), e nas suas preocupações relacionadas ao município, por exemplo.
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Tradicionalmente, os próprios candidatos e partidos já encomendam levantamentos para uso interno que, em geral, servem como base para que eles formatem suas estratégias de campanha. Quando outras análises são divulgadas, porém, os dados também são levados em consideração pela campanha, que pode inclusive optar por fazer ajustes em sua estratégia com o objetivo de conquistar mais votos.
Um exemplo que pode mostrar a discrepância entre os temas levantados pelos candidatos e o desejo da população pôde ser observado com a divulgação da pesquisa do Ibope na última semana. Desde o início da campanha, praticamente todos os candidatos à prefeitura deram voltas em torno dos mesmos temas, como a “indústria da multa”, a saída ou não da cidade do Consórcio Grande Recife de Transporte Metropolitano ou o armamento da Guarda Municipal. Enquanto isso, a pesquisa encomendada pelo Jornal do Commercio e Rede Globo mostra que as áreas mais lembradas pelos entrevistados quando questionados sobre os principais problemas da capital foram saúde (52%), segurança pública (40%) e educação (30%).
“Um levantamento como esse, do Ibope, serve para que as campanhas possam comparar o seu ponto de partida, verificado com a pesquisa encomendada pelo próprio candidato, com o momento atual. Por isso acredito que pesquisas externas podem levar os candidatos a repensarem suas estratégias, porque essas análises são uma fotografia do momento. Uma coisa é você perguntar para uma pessoa o que ela espera de um prefeito antes da campanha começar, outra completamente diferente é você perguntar o mesmo depois do início da corrida eleitoral”, explicou a cientista política Priscila Lapa, da Faculdade de Ciências Humanas de Olinda (Facho).
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Entre os dados apresentados pelo estudo, há a informação de que o deputado federal João Campos (PSB) e o ex-ministro da Educação Mendonça Filho (DEM) estão tecnicamente empatados na liderança da disputa pela Prefeitura do Recife, o primeiro com 23% das menções dos entrevistados e o segundo com 19%. A pesquisa foi realizada entre os dias 30 de setembro e 02 de outubro de 2020, quando foram ouvidos 805 votantes do Recife. A margem de erro máxima estimada é de três pontos percentuais para mais ou para menos, e o nível de confiança é de 95%. A pesquisa está registrada no Tribunal Regional Eleitoral com o Número PE09685/2020.
Para Ernani Carvalho, cientista político e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), a situação de João e Mendonça, especificamente, não deve motivar mudanças na estratégia de suas campanhas, ao menos por enquanto. “Os dois candidatos que estão na ponta têm taxa de rejeição igual (36%), isso tende a fazer com que eles mantenham as suas estratégias. Eles devem esperar as próximas pesquisas para saber se o quadro exposto pelo Ibope se consolida, pois se ele se mantiver, a taxa de rejeição passará a ser um problema”, detalhou.
De acordo com o levantamento, o segundo lugar no ranking também não está definido, sendo disputado pelo próprio Mendonça e pela candidata do PT no pleito, Marília Arraes. Na visão do cientista político Antônio Lucena, com base nesses dados, é possível notar que, para chegar ao segundo turno, a petista vai ter que mudar a sua estratégia de campanha, o que não será uma tarefa fácil.
“A eleição de 2020 é municipal, mas está mirando também no cenário de 2022 e a estratégia petista de colocar candidatos em todas as regiões gerou um problema grave aqui em Pernambuco por conta da aliança que existia com o PSB. Ou seja, hoje, se Marília bater muito no PSB, o PT perde completamente o apoio socialista, muito importante para os planos presidenciais da sigla no âmbito nacional. Se ela resolver bater demais em Mendonça, ela pode também perder a pequena fatia do eleitorado de centro-direita que poderia dar seu voto a ela no caso de um segundo turno entre PT e PSB. A equação é muito difícil, sobretudo porque ela ainda sofre com o fogo amigo dentro do partido”, afirmou Lucena.
Para o professor e cientista político Antônio Lavareda, em entrevista à Rádio Jornal, no programa Super Manhã, na manhã do último sábado (3), a pesquisa Ibope/JC/Rede Globo mostra um cenário inédito - levando em consideração que a Delegada Patrícia (Podemos) está tecnicamente empatada com a candidata petista, alcançando 11% das intenções de voto. “Nós temos quatro candidatos que têm dois dígitos. Candidatos que têm 10% ou mais da intenções de voto e isso configura uma disputa quadripolar, com quatro candidatura competitivas, que é um fato inexistente no Recife”, avaliou o cientista político.
Lavareda rememora que o pleito municipal na capital pernambucana só viveu um cenário semelhante em 1985, para a primeira escolha a prefeito na Nova República. Na época, disputavam o cargo majoritário, Jarbas Vasconcelos, Sergio Murilo, João Coelho, e, por algum tempo na campanha, Augusto Lucena. Lavareda lembrou que eles conseguiram alcançar os dois dígitos de intenção de votos apenas no fim da campanha.
Avaliação das esferas
Se por um lado o cenário, a partir destas percentuais, ainda é heterogêneo entre os candidatos, por outro é preciso estar atento ao que os números dizem sobre as gestões municipal, estadual e federal. Na pesquisa, o prefeito Geraldo Julio tem 52% de desaprovação dos recifenses, enquanto 44% aprovam sua administração.
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Segundo Antônio Lavareda, a partir de agora é preciso avaliar se esses números vão ser alterados para melhor ou pior. Há também a questão da nacionalização da disputa no Recife e, neste caso, o poder de influência do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido). Na pesquisa Ibope/JC/Rede Globo, 43% do eleitorado considera que o presidente faz uma gestão ruim ou péssima e 29% avaliam como boa ou ótima.
“É inevitável numa eleição municipal, estadual ou federal que as respectivas administrações nestes três níveis estejam em discussão. Ou seja, mesmo quando o prefeito não é candidato à reeleição. Nessa perspectiva, o candidato João Campos, olhando a aprovação do prefeito, provavelmente tem a preocupação com o percentual de aprovação e desaprovação, que é alto, de 52%. Ao mesmo tempo ele olha esses 44% de aprovação e se sente esperançoso, porque é quase o dobro das intenções de votos que ele tem nesse momento”, explica Lavareda.
SABATINA
A Rádio Jornal está na reta final da série de sabatinas com todos os 11 candidatos à Prefeitura do Recife. A última candidata é Marília Arraes (PT), que será sabatinada nesta segunda-feira (5), às 10h35, pelo comunicador Geraldo Freire e jornalistas do Sistema Jornal do Commercio de Comunicação (SJCC). A próxima série de sabatinas vai ser com os candidatos a prefeito de Olinda. Na sequência, Paulista e Jaboatão dos Guararapes.
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