Número de chapas puro-sangue bate recorde nas eleições 2020 no Recife

Para especialistas, novas regras eleitorais impulsionaram o aumento de composições entre correligionários
Marcelo Aprígio
Publicado em 02/10/2020 às 17:51
Os códigos-fonte são a transcrição dos softwares em linguagem digital, contendo todas as especificações sobre o funcionamento dos sistemas eleitoras, incluindo as urnas eletrônicas. Foto: Edilson Rodrigues


JC - Eleições 2020

Além do número recorde de candidaturas em relação aos últimos anos, a disputa pela Prefeitura do Recife em 2020 é marcada também pelo maior percentual de chapas puro-sangue nas duas últimas décadas. Das 11 chapas que vão para a disputa, seis são com prefeito e vice do mesmo partido, ou seja, 54,5% têm essa configuração. No recorte histórico, o cenário atual supera inclusive o ano 2000, quando 70% das candidaturas foram encabeçadas por correligionários.

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Apostaram em chapas puras em 2020, o DEM, PSL, PCO, NOVO, PRTB, e PSTU. O crescimento é de 26% em relação à última eleição municipal, em 2016, quando quatro legendas optaram por lançar nomes de seus próprios quadros para a Vice-Prefeitura. Até a disputa deste ano, o pleito passado detinha o recorde de chapas puras.

DIVULGAÇÃO - CHAPAS PURO-SANGUE Marco Aurélio Meu Amigo (PRTB) tem como companheiro de chapa o Coronel José Alves (PRTB)

A legenda que mais apostou nesse formato foi PSTU, com seis eleições. Já os democratas voltaram a testar esse modelo depois de 12 anos, quando Mendonça Filho e André de Paula foram os representantes do DEM no pleito de 2008. Para 2020, a aposta é, mais um vez, em Mendonça e na deputada estadual e ex-vereadora do Recife, Priscila Krause. Chama atenção, porém, o fato de o DEM ter conseguido formar uma frente partidária em torno da candidatura de Mendonça.

ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM - Convenção de Democratas para oficializar a candidatura de Mendonça Filho à prefeitura do Recife.

A realidade, no entanto, não se restringe à capital pernambucana. Na vizinha Olinda, o atual prefeito, Lupércio (SD), escolheu Márcio Botelho da mesma legenda para ser seu companheiro de chapa. Da mesma forma que Mendonça Filho, no Recife, Lupércio conseguiu reunir outros partidos ao seu redor, mas ainda optou por teu um correligionário na chapa.

DIVULGAÇÃO - CHAPAS PURO-SANGUE Em Olinda, Professor Lupércio (Solidariedade) escolher Márcio Botelho, do mesmo partido, como vice

Na maior cidade do Sertão pernambucano, Julio Lóssio Filho (PSD) escolheu a também social democrata Denise Lima para lhe acompanhar nas urnas, apesar da coligação com PSB, PDT e Solidariedade. Fato parecido aconteceu no município do Paulista, na Região Metropolitana do Recife. Lá, o ex-prefeito Yves Ribeiro (MDB) disputa mais uma vez a Prefeitura. Para isso, se uniu com PV e REDE nestas eleições, mas convidou para o posto de vice o emedebista Dido Vieira.

DIVULGAÇÃO - CHAPAS PURO-SANGUE Julio Lossio Filho (PSD) escolheu como vice Denise Lima, do mesmo partido, para a disputa em Petrolina

Na avaliação do cientista político e professor da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) José Alexandre, a proibição das coligações proporcionais, que passou a valer neste ano, é um dos principais fatores que explicam essa mudança. “Os partidos ficaram pressionados para poder ter uma melhor bancada para vereador e passaram a lançar candidatos próprios para prefeito e ganhar um tempinho a mais para a propaganda eleitoral”, explica. Este é o mesmo motivo que está por trás da grande quantidade de candidatos neste ano, garante ele.

A cláusula de barreira, que estabeleceu um desempenho eleitoral mínimo das siglas para que elas possam acessar o Fundo Partidário e o tempo gratuito de televisão, também é outro fator que pesa, na avaliação do cientista política e professor da Faculdade Damas Elton Gomes. “O número de candidatos é maior do que muitos especialistas estavam prevendo em função da conjuntura e também pela cláusula, que, de certa forma, obriga os partidos a se lançarem na disputa, principalmente com chapas puro-sangue”.

Na leitura do especialista, esses dois pontos dificultaram as alianças. “Há as dificuldades das alianças que normalmente são feitas numa disputa eleitoral. Neste ano não seria o momento de tantos acordos assim, e isso favorece a formação de chapas com um único partido na composição”.

Um vice da mesma legenda

Divulgação - Raquel Lyra, prefeita de Caruaru e candidata à reeleiação, e Rodrigo Pinheiro, candidato a vice

Em Caruaru, no Agreste de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB), a exemplo de Lupércio, em Olinda, concorre à reeleição ao lado de outro tucano, o atual vice-prefeito Rodrigo Pinheiro. Entre os candidatos que montaram chapa pura para a disputa majoritária, Lyra foi o nome que formou a maior coligação para dar sustentação ao seu projeto. 12 partidos estarão com ela na disputa de novembro, mas nem isso a fez abrir de Pinheiro na sua chapa.

Ela é a segunda candidata, desde 1998, quando a reeleição foi instituída, a tentar um novo mandato tendo como vice um correligionário. Antes dela, só Tony Gel (ainda no PFL), em 2004. Na avaliação do cientista político Elton Gomes, isso sinaliza uma pretensão de continuidade da atual gestão. “O que Raquel quer sinalizar é a continuidade do mandato a partir da possibilidade de deixar a prefeitura caso seja eleito numa possível disputa para governador”, analisa o especialista.

“O vice eventualmente assume a gestão. E sabemos que Raquel pode ser candidata daqui a dois anos ao governo do Estado. Então, se o partido não procurasse uma solução caseira, teria tudo para perder o cargo de prefeito de Caruaru”, reforça Elton, explicando que, além disso, existe uma pressão natural dentro dos partidos para que candidatos à reeleição se lancem em chapas puras para que a legenda continue à frente do município caso o prefeito tenha que se afastar.

Para o professor José Alexandre, estar numa ampla coligação e, ainda assim, escolher um vice da mesma sigla pode ser benéfico junto ao eleitor. “Isso sinaliza que os candidatos a prefeito e vice não estão comungando de jogo político”.

Teste nas urnas

Embora o fim da coligação nas chapas proporcionais, que passou a valer neste ano, seja apontado como um dos principais motivos para o aumento das chapas puras, os especialistas afirmam que ainda é cedo para afirmar se haverá uma tendência de que correligionários encabecem a disputa aos Executivos municipais.

“Vai depender muito da dinâmica eleitoral em si, mas com o fim da coligação proporcional essa tendência de o partido ter candidato a prefeito e com isso a possibilidade de a chapa ser mais pura aumentou”, afirma José Alexandre, ressaltando que a cláusula de barreira nas eleições de 2022 também será um elemento a mais para o próximo pleito municipal, em 2024.

Avaliação parecida faz Elton Gomes. “Para pensarmos nisso como tendência, vamos ter que avaliar o resultado deste ano, ver se de fato foi uma estratégia que contou ponto na hora da validação do voto do eleitor”, pondera. “Claro que se faz uma leitura do cenário quando o partido pensa em lançar chapa dessa forma”, complementa, lembrando que tanto Raquel, quanto Lupércio, repetiram a fórmula do pleito passado, quando foram alçados ao poder. “Eles viram que deu certo e vão tentar provar que pode dar certo outra vez”, pontua.

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