Prefeitos eleitos do Recife e Paulista, João Campos (PSB) e Yves Ribeiro (MDB) têm aproveitado a fase de transição de governo para visitar instituições financeiras e sondar a possibilidade de contratação de novas operações de crédito para os seus respectivos municípios após a posse. Em plena pandemia, os gestores que vão iniciar seus mandatos em janeiro de 2021 têm um horizonte nebuloso pela frente quando o assunto são finanças públicas, e muitos não sabem sequer se receberão a administração com as contas no azul, conforme aponta pesquisa divulgada na última quarta-feira (16) pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM).
De acordo com o levantamento, entre as 110 cidades pernambucanas que participaram do estudo, pelo menos 34,5% delas deixarão restos a pagar para o próximo ano, 38,2% têm dívidas com fornecedores e 30,9% gastam mais do que 60% das suas receitas apenas com folha de pagamento. Uma parcela significativa de municípios (30,9%) também afirmou não ter certeza se conseguirá fechar as contas de 2020, enquanto 11,8% já declararam que não conseguirão.
Diante desse cenário e tendo que tirar do papel as promessas que fez durante a campanha, João Campos reuniu-se, nas últimas segunda (14) e quarta-feiras (16), com representantes da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil, respectivamente, para discutir possíveis parcerias com as instituições e futuras contratações de operações de crédito.
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“As operações de crédito têm um papel muito importante na realização do investimento público, sobretudo em momentos de dificuldades fiscal. E a Caixa Econômica tem sido uma parceira fundamental para o Recife, por isso vamos unir esforços para poder viabilizar o que já foi contratado e apontar caminhos para assegurar novos projetos”, declarou o prefeito eleito, por nota, após reunião com a CEF no início da semana. Segundo a equipe de João, o Executivo municipal recifense já possui operações de crédito junto à Caixa que giram em torno dos R$ 800 milhões.
Na quarta, depois de se encontrar com o superintendente estadual do Banco do Brasil, Eduardo Lima, o hoje deputado federal reafirmou a necessidade de captação de recursos para a ampliação dos investimentos na cidade. “Estamos estudando todas as possibilidades que nos garantam elevar a taxa de investimento do Recife. As operações de crédito apontam para um caminho interessante, e vamos observar o que é melhor para a cidade”, detalhou, na ocasião. A assessoria de imprensa do socialista foi procurada para dar mais detalhes sobre as ações que a futura gestão pretende tocar com as novas contratações, mas não respondeu à tentativa de contato do JC.
O encontro de Yves Ribeiro com representantes da Caixa foi no prédio da Gerência de Governo do banco, no Recife, e além do prefeito eleito, participaram da reunião membros da sua equipe de transição, como o vice-prefeito eleito, Dido Vieira (MDB), e Jorge Carreiro (PV), atual vice-prefeito de Paulista.
Conforme informações repassadas pela assessoria do emedebista, “a Caixa fez um balanço dos serviços oferecidos ao município, solicitou ao novo prefeito o incremento do desembolso de contratos e colocou à disposição suas linhas de crédito para o financiamento de projetos prioritários da administração que terá início no dia 1º de janeiro”. Os recursos conquistados junto ao banco devem ser usados em ações em diversas áreas, mas os investimentos prioritários seriam na construção de uma UPA 24h, de uma maternidade, na urbanização da orla marítima da cidade e na construção de novas unidades habitacionais.
Para o economista Jorge Jatobá, sócio da Ceplan Consultoria, é normal e até mesmo esperado dos novos gestores municipais que se mobilizem para conquistar recursos que possam investir nos municípios que irão administrar. "Esses municípios, principalmente Paulista, têm diversos problemas fiscais. Nos últimos anos, o Recife teve muita dificuldade para realizar investimentos porque não tinha taxa suficiente para isso. Houve queda de arrecadação, aumento de despesas, a crise sanitária criou muitos problemas, então se esses governos quiserem realizar algum tipo de investimento, eles terão que recorrer a esses empréstimos", observou.
Como não poderão usar os recursos captados para cobrir despesas de custeio, Jatobá ressalta que os novos gestores também devem ficar atentos à atual realidade econômica do País e adotar medidas práticas para reduzir gastos na administração pública. "Para financiar custeio, pessoal e até mesmo fazer alguns pequenos investimentos, os municípios precisam melhorar o desempenho da sua arrecadação, na medida do possível, e realizar contenção de gastos, cortar aquilo que é desnecessário ou pode ser remanejado", detalhou o economista.