Dividido, PSB cogita até ter candidato à presidência da Câmara dos Deputados

Entre os nomes ventilados para lançar uma candidatura representando o PSB estão os dos deputados federais Felipe Carreras (PE), Julio Delgado (MG) e o líder da bancada Alessandro Molon
Mirella Araújo
Publicado em 05/01/2021 às 19:23
MG Julio Delgado diz que está à disposição da sigla para ser candidato Foto: LUIS MACEDO/CÂMARA DOS DEPUTADOS


Mesmo com a formalização do bloco de Oposição na Câmara dos Deputados, em prol da candidatura do deputado federal Baleia Rossi (MDB-SP) para a presidência da Casa, o PSB ainda se encontra dividido sobre quem de fato irá apoiar nas eleições que ocorrerão no dia 1º de fevereiro. Além de um lado da bancada socialista defender o apoio ao deputado federal Arthur Lira (PP-AL), tido como o “candidato do presidente da República”, há uma corrente que defende o lançamento de uma candidatura própria como uma forma de demarcação de posicionamento político.

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Entre os nomes colocados na mesa para encabeçar essa terceira via no pleito pela sucessão do presidente Rodrigo Maia (DEM-RJ), estão os dos deputados federais Júlio Delgado (MG), Felipe Carreras (PE) e do próprio líder da bancada, Alessandro Molon. O principal entrave para que seja tomada qualquer decisão está na ausência de uma reunião com os 30 parlamentares que representam o PSB na Câmara dos Deputados.

“O último movimento que tivemos foi justamente um documento assinado por 15 deputados cobrando do líder Molon, uma reunião sobre o tema. Continuamos aguardando que ele marque, com todos os deputados, para que possamos decidir. Por enquanto , até aqui, temos posições políticas individuais, mas não decisão coletiva", afirmou o deputado federal Danilo Cabral, que assumirá a liderança da bancada em fevereiro.

O deputado Julio Delgado, afirmou ao JC, estar honrado com a lembrança dos colegas parlamentares por citar seu nome como uma possibilidade de representar o partido nessa disputa e adiantou que “não foge de uma boa briga”. “Nunca fugi de uma boa briga. Já disputei a presidência da casa duas vezes para valer, quando disputei com Henrique Alves (MDB-RN), e recebi 170 votos. Depois disputei contra o bloco do deputado Eduardo Cunha, e ali sabia que estava brigando com o poderio de Cunha e contra Arlindo Chinaglia (PT-SP), candidato da presidente Dilma Rousseff, já estabelecido”, relembrou.

“Se está com olho em 2022, não é entrando nas candidaturas que representam o centrão. Rodrigo Maia, há dois anos atrás, pediu apoio de Bolsonaro para se eleger. Então, se for necessário, o meu nome está a disposição”, afirmou Delgado. Para o parlamentar, a indicação de um candidato próprio poderia representar o consenso da bancada.

Na atual leitura, o que existe são 15 parlamentares que já expressaram através de uma carta questionando o posicionamento de Alessandro Molon ao definir que iria apoiar o candidato escolhido por Rodrigo Maia. Ou seja, indo contra um indicativo aprovado anteriormente por estes mesmo grupo de deputados, incluindo ainda os prefeitos eleitos João Campos (Recife) e JHC (Maceió), em apoio a Lira. De acordo com estes deputados socialistas, “não houve nenhuma consulta” e muito menos “votação interna''. Eles cobram, inclusive, a divulgação da lista com a maioria dos parlamentares que defendem a adesão do bloco de Rodrigo Maia.

“O líder se escorou nessa recomendação e só temos visto, pela imprensa, essa comunicação de que estamos evoluindo, e indo para um bloco sem nunca ter votado nesse assunto. Acredito que há uma forçação de barra por uma parte (do partido), e a corda não está sendo esticada pelo nosso campo. Estamos pedindo uma reunião para discutir o documento que formulamos e deliberar sobre o assunto”, frisou Julio Delgado.

O deputado federal Felipe Carreras, que negou a possibilidade concorrer à presidência da Câmara pelo PSB, voltou a lembrar que a recomendação do Diretório Nacional de não votar em nenhum candidato ligado ao governo federal é incoerente.

“O Diretório Nacional fez uma recomendação, em uma reunião que não estava nem pautada a eleição da Câmara dos Deputados. Ficou decidido não apoiar Artur Lira por representar uma candidatura de governo e nenhum outro candidato que represente esse projeto. Mas, o escolhido por Maia foi o deputado Baleia Rossi, que tem 90% dos seus votos em matérias do governo, desde o início da legislatura”, declarou Carreras.

“Fica uma incoerência do partido em apoiar Baleia. Ele vota na base do governo e o MDB tem o líder do governo no Senado. Ele foi líder do governo do presidente Michel Temer, protagonista das reformas trabalhistas e da previdência, algo repudiado pela Oposição”, complementou. Desde o início das discussões, Carreras tem se posicionado a favor de Arthur Lira, mas deixando claro que permanece no campo de oposição ao presidente Jair Bolsonaro.

NÚMEROS

Um levantamento divulgado pelo jornal O Globo, nesta terça-feira (5), mostrou que o candidato Baleia Rossi passou a contar com o endosso de 273 deputados e 11 partidos em sua base (DEM, PSDB,PSL, PSB, PT, Rede, MDB, PDT, PCdoB, Cidadania e PV). Já o candidato Arthur Lira teria os votos de 175 parlamentares e nove partidos o apoiando (PP, Republicanos, PL, Solidariedade, Pros, PSC, Avante e Patriota). Ainda há quatro partidos e 39 deputados federais que não definiram posicionamento oficialmente (PSOL,PTB, Podemos e Novo). Para a eleição da presidência da Câmara são necessários 257 votos, como os votos são secretos, é esperado que haja traições em ambos os lados. 

Segundo deputado federal Tadeu Alencar, apesar dessa divisão dentro do PSB, ainda há tempo para buscar um consenso e estabelecer uma unidade na bancada. “Como a eleição vai se dar em 1º de fevereiro, temos tempo de procurar construir uma unidade ou, ao menos, um acordo de procedimentos que assegure que as posições eventualmente divergentes não impliquem em uma fratura na unidade da bancada”, afirmou.

“Tem uma divisão de posições na bancada, mas ainda não parece nítido uma hegemonia, uma superioridade expressiva para qualquer dos lados. Há vários deputados que apostam na unidade possível, naquilo que a nossa responsabilidade política nos indique como o melhor caminho”, declarou Alencar.

Sobre o lançamento de uma candidatura própria neste momento, Tadeu faz uma leitura de que esse tipo de projeto seja fruto de uma maturação política e pactuação de ampla com diversas forças políticas. “ Não pode ser estratégia eleitoral. Se for, terá pouca expressão. Devemos estressar o diálogo ao máximo. Pode parecer que não, mas o jogo mal começou. Os times em campo ainda poderão refazer as suas estratégia”, concluiu.

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