Lula
PT recebe com cautela decisão de Fachin
O pedido de comemorar com cautela foi feito pelo próprio Lula, em conversas com líderes petistas
Com a decisão, que ainda será avaliada pelo plenário do Supremo, Lula volta a ser elegível na disputa pelo Palácio do Planalto em 2022.
A decisão de Fachin não levou em questão as provas colhidas por investigadores da força-tarefa em Curitiba contra o ex-presidente, que resultaram em condenações pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. O ministro se limitou a analisar questões técnicas e processuais sobre a competência da 13.ª Vara Federal de Curitiba para julgar o petista.
Líderes do PT cobraram que os ministros do STF julguem a suspeição de Moro, mesmo com a decisão de Fachin, que na prática tornou sem efeito o recurso da defesa de Lula. Pelo Twitter, o ex-prefeito Fernando Haddad disse que isso é "imperativo".
A presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), disse que o principal mérito da decisão de Fachin é restabelecer os direitos políticos de Lula. "Foram retirados de forma errada. O processo não poderia ocorrer na Vara de Curitiba e impedido Lula de ser candidato à Presidência", disse. "Esperamos que o processo de Moro possa ser levado adiante."
Por enquanto, a ideia do partido é que Haddad continue viajando pelo Brasil para construir pontes com forças políticas do "campo progressista". Depois de ir a Minas, onde se reuniu com o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), Haddad vai ao Rio na quinta-feira. O presidente da Assembleia Legislativa, André Ceciliano (PT), quer reunir Haddad com os deputados Marcelo Freixo (PSOL) e Jandira Feghali (PCdoB).
Os petistas dizem que Lula deve evitar viagens em razão da pandemia, para não causar aglomerações. "Lula tem dito que pode ser candidato ou não. O partido vai continuar trabalhando o nome do Haddad. Se Lula decidir concorrer, será o candidato natural, e Haddad pode disputar o governo paulista ou Senado", disse Alberto Cantalice, vice-presidente do PT.
Sindicato
Lula vai se manifestar nesta terça-feira em uma entrevista coletiva na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, onde foi preso pela Lava Jato, em abril de 2018. O Estadão apurou que ele passou a tarde de ontem conversando com lideranças do partido e os advogados.
Para o setor jurídico do PT, a decisão de Fachin não resolve o problema, pois "preservou" Sergio Moro. "Recebemos a decisão com alegria, serenidade e cautela. Essa decisão não repara as injustiças", disse o advogado Marco Aurélio Carvalho. Petistas acreditam, no entanto, que a decisão pode beneficiar outros réus, como o ex-ministro José Dirceu, também condenado pela Lava Jato em Curitiba.
Polarização
Lideranças de outros partidos de esquerda avaliaram que a decisão do STF vai gerar uma polarização "imediata" entre o ex-presidente e Bolsonaro, diminuindo o espaço do centro nas articulações para 2022. "Sem dúvida, pelo tamanho dele (a decisão) fortalece nosso campo da esquerda e recoloca Lula como nome central para 2022", disse ao Estadão o governador do Maranhão, Flávio Dino.
Já o deputado federal Orlando Silva (SP), também do PCdoB, disse que decisão reforça a polarização e "cria dificuldades" para a construção de uma frente ampla antibolsonaro.
Para o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, a decisão de Fachin teve o objetivo de "salvar" a Operação Lava Jato. Sobre o impacto político, o dirigente Siqueira desconversou. "Não vamos examinar essa decisão de forma simplista. O PSB defende uma frente ampla." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.