ELEIÇÕES 2022

Em reunião com PSB, Lula fala em frente ampla e socialistas admitem aproximação

O ex-presidente Lula se reuniu virtualmente, com lideranças do PT e do PSB, incluindo o governador Paulo Câmara para discutir sobre a união de uma frente ampla pela democracia considerando a conjuntura nacional de 2022

Mirella Araújo
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Mirella Araújo
Publicado em 07/04/2021 às 20:26
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ELA NÃO Lula descartou possibilidade de Dilma fazer parte de um eventual terceiro governo do petista - FOTO: RICARDO STUCKERT/DIVULGAÇÃO
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Apesar de o encontro virtual entre os líderes do PT e do PSB, ter priorizado a construção de uma frente ampla para o enfrentamento da pandemia da covid-19, a tratar especificamente do cenário eleitoral de 2022, os socialistas avaliam como positiva a postura adotada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em favor da construção de uma frente ampla para enfrentar o presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Isso porque o PSB sempre deixou claro a necessidade de que os petistas precisavam fazer uma autocrítica - o que desde de sua saída da prisão em Curitiba, em novembro de 2019, foi totalmente rechaçado por Lula. Na ocasião, ele também declarou que o PT “não nasceu para ser um partido de apoio”. Segundo o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, que participou do encontro virtual, realizado na manhã dessa terça-feira (6), essa abertura do presidente em não colocar sua candidatura como algo indiscutível, é fruto justamente de uma análise sobre os resultados desfavoráveis ao PT, nas eleições de 2020.

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“Quando o presidente Lula saiu da prisão, ele fez um discurso para dentro do partido, o que foi levado na prática para a eleição municipal e criou problemas muitos sérios. Mas, o próprio resultado das urnas, proporcionou a ele essa revisão de seus conceitos. Esse novo posicionamento é uma feliz coincidência, porque se trata de algo que o PSB estava pregando lá atrás sobre ampliarmos as forças políticas em defesa da democracia”, declarou Siqueira, em conversa com o JC. O dirigente socialista também afirmou que a legenda tem iniciado uma série de diálogos com vários partidos, a exemplo da semana passada quando se reuniu com o presidenciável Ciro Gomes (PDT), mas que não restringe essa abertura apenas aos partidos de esquerda ou do bloco do chamado campo progressista.

O convite feito ao governador Paulo Câmara, que ocupa a vice-presidência nacional do PSB, para participar da reunião, que também contou com a presença da presidente nacional do PT, a deputada federal pelo Rio Grande do Sul, Gleisi Hoffman, teve um simbolismo importante nesse movimento de aproximação dos partidos. “Não há dúvidas de que não se decide nada no plano nacional sem que se passe essa discussão por Pernambuco. Claro que o PSB é muito maior e está representado em todo o país, mas a sessão pernambucana possui lideranças importantes como o governador Paulo Câmara, o prefeito do Recife João Campos. Quando o assunto sobre as eleições for posto à mesa, seguramente Pernambuco terá uma grande importância, mas a reunião de ontem não teve esse objetivo”, afirmou Carlos Siqueira.

No âmbito estadual, cresce as expectativas de que o PT retorne à Frente Popular de Pernambuco, a exemplo de 2018. O que poderá repetir o mesmo jogo de alianças firmado naquela disputa majoritária, quando o PT rifou a candidatura da deputada federal Marília Arraes, ao Governo do Estado, em troca do apoio dos petistas em Minas Gerais. “Não está nada imposto, os partidos estão construindo o processo por uma frente ampla, e o que está sendo discutido é um cenário geral. O PSB está firmando uma aproximação maior com o PT e com outros partidos de esquerda também. Não está se discutindo candidaturas, foi mais uma abertura do que pode se formar daqui por diante”, afirmou um socialista, em reserva.

Para o deputado federal Tadeu Alencar (PSB), este não é o momento de discutir candidaturas, mas de formar uma frente mais ampla possível para enfrentar o bolsonarismo no país, já que há efeitos considerados por ele, como 'dramáticos' tanto nos estados quanto nos municípios. “A figura do presidente Bolsonaro com sua falta de planejamento, de sentimento de humanidade, e de liderança, nos dá a clareza de que a única tarefa que existe nesse momento é arregimentar forças, desde que sejam do campo democrático”, defendeu Alencar, ressaltando que é importante não excluir nenhuma possibilidade para 2022.

O deputado federal Milton Coelho (PSB), também corrobora de que o momento é discutir a celeridade no processo de imunização da população, contra a covid-19, mas avalia que esse princípio de conversa é importante para pavimentar a unidade dessa frente desejada. “Acho que houve uma obstrução no canal de comunicação entre o PT e o PSB, agravado com a disputa eleitoral aqui no Recife. Esse encontro começa a estabelecer esse canal, que deve ser feito com todos os partidos pela defesa da democracia”, declarou o socialista.

Para Milton, inclusive, não há uma discrepância entre as relações com o PT a nível estadual e municipal, afirmando que o prefeito João Campos - ao contrário de avaliações feitas por outros integrantes do partido - nunca manifestou para ele, resistência ao diálogo político. “Ele nunca manifestou nenhum tipo de resistência neste sentido, ele sempre se mostrou disponível a discutir com todo mundo”, pontuou Coelho. O filho do ex-governador Eduardo Campos, tem sido apontado como um forte articulador nos bastidores para que o PSB se distancie do PT e tenha autonomia no processo eleitoral de 2022.

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Em encontro nesta quarta-feira (7) com o presidente do MDB-PE, deputado federal Raul Henry, o prefeito de Petrolina, Miguel Coelho, comunicou oficialmente ao dirigente partidário que tem planos para disputar o governo estadual em 2022 e abriu um canal de diálogo com a cúpula da sigla para aprofundar o debate em torno desta possibilidade ao longo dos próximos meses. Para que Miguel alcance esse objetivo, no entanto, uma longa estrada se apresenta para que os grupos políticos do gestor municipal e de Raul cheguem a um entendimento, uma vez que, hoje, eles estão em campos opostos tanto no âmbito local quanto nacional.

Em Pernambuco, o MDB está na base de apoio ao governador Paulo Câmara (PSB), mas Miguel e o seu pai, o senador Fernando Bezerra Coelho (MDB), estão na oposição. No plano nacional, FBC é líder do governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no Senado, enquanto Raul e o senador Jarbas Vasconcelos (MDB) não estão alinhados com o chefe do Executivo.

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Sobre o atual elo entre emedebistas e socialistas no Estado, Miguel Coelho diz que a configuração não o preocupa, uma vez que a formatação de uma candidatura própria na sua agremiação naturalmente a afastaria da Frente Popular. “A partir do momento que o partido admite a possibilidade de poder construir esse projeto majoritário, não um projeto em si mesmo, mas um projeto coletivo, a questão da Frente Popular se resolve automaticamente. A coligação e o PSB vão tocar as vidas deles do jeito que acharem melhor e nós vamos traçar uma estratégia que não pense apenas no interesse partidário interno, como a gente já viu em algumas campanhas, que vieram acompanhadas até de algumas contradições. Todo mundo se lembra, por exemplo, como foi a campanha de 2020 entre PT e PSB (no Recife), mas parece que já passaram a borracha sobre isso”, afirmou.

O prefeito se referiu a uma reunião que ocorreu nesta quarta entre as cúpulas do PT e do PSB, contando inclusive com as presenças de Paulo Câmara e do ex-presidente Lula (PT). No encontro, os partidos, que trocaram duras acusações na última campanha municipal do Recife, teriam iniciado uma reaproximação visando a eleição de 2022.

A respeito da questão nacional, Miguel minimizou as diferenças com os correligionários e disse que, apenas quando o diretório nacional do MDB definir os rumos que adotará no próximo pleito, será possível saber como a sigla vai se comportar com relação a isso em Pernambuco. O gestor frisou, no entanto, que “o projeto coletivo” da legenda para o Estado “é maior do que qualquer uma dessas coisas”.

“Eu não vejo nenhum óbice para que possamos superar essas questões, mas a gente precisa ir dialogando, construindo, somando, e tudo isso vai se resolver, até porque o projeto coletivo de Pernambuco é maior do que qualquer uma dessas coisas. Nós estamos discutindo um projeto estadual e o diretório nacional vai discutir o projeto nacional, a gente não pode querer misturar, pois cada um tem a sua opinião. Em uma democracia não se constrói nada na base do grito, da imposição ou desrespeitando a opinião dos seus aliados e até mesmo de desconhecidos. Cabe a nós respeitar as nossas divergências e nos unir nas convergências”, observou Miguel.

De maneira geral, o prefeito afirmou que considerou a reunião com Raul produtiva e que sentiu que o dirigente recebeu bem o seu projeto de candidatura. “Ele (Raul) foi bastante receptivo. Ele tem uma vivência, uma experiência muito grande, foi secretário, vice-governador, deputado e fiquei feliz com o que vi, com a troca de ideias que tivemos. Mas essa foi apenas a primeira de muitas conversas que teremos, pois na política é assim, você só consegue transformar e somar quando exerce o diálogo, o respeito, a transparência, e é assim também que se constrói a confiança”, detalhou o emedebista.

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