A base do governo do presidente Jair Bolsonaro apontou responsabilidades do governo do Amazonas e da empresa White Martins no colapso do sistema de saúde em Manaus, no início do ano. A crise, provocada pela falta de oxigênio para atender pacientes do novo coronavírus, é um dos fatos investigados pela CPI da Covid. Integrantes da comissão, porém, apontam omissão do governo federal no episódio.
Durante depoimento na CPI, nesta terça-feira (15), o ex-secretário de Saúde do Amazonas Marcellus Campêlo informou ter ligado para o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, solicitando apoio logístico para envio de cilindros de oxigênio de Belém para Manaus no dia 7 de Janeiro. O envio da primeira remessa foi viabilizada no dia seguinte, de acordo com Campêlo. Pazuello argumenta que só soube da iminente falta de oxigênio no dia 10.
"A narrativa aqui é que parece que há uma eternidade entre o contato e a resposta do ministro e, quando a gente está diante dos fatos, verifica que não é bem assim", disse o senador Marcos Rogério (DEM-RO), aliado de Bolsonaro. "Na ligação, não havia o colapso caracterizado. Isso se deu quando a White Martins não fez a entrega do que tinha acordado com o governo do Estado", disse o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE). "Isso tem que ser investigado."
A versão da tropa de choque do governo federal foi contestada pelo presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM). "Quando o governo do Amazonas comunica ao governo federal, dia 7, que precisava transportar oxigênio, era porque alguma coisa já não estava normal", disse Aziz, afirmando que o líder do governo estava fazendo uma "defesa brilhante" do Executivo federal e do ex-ministro Eduardo Pazuello.
Campêlo divergiu da base do governo ao falar sobre quando encaminhou ao Ministério da Saúde o alerta da empresa White Martins sobre a falta de fornecimento. O secretário diz ter enviado o comunicado à pasta no dia 8. O líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), porém, argumenta que esse e-mail só chegou ao ministério no dia 16. Documentos da empresa White Martins, por outro lado, mostram que, além dos alertas feitos em janeiro, a empresa avisou a administração estadual sobre o aumento da demanda em julho e em setembro do ano passado.
Em nota, a White Martins reforçou que avisou a gestão estadual em julho e setembro do ano passado sobre o volume de oxigênio consumido acima do contratado, sem ter tido retorno formal. A companhia argumenta ainda que, no dia 7 de janeiro de 2021, comunicou à secretaria do Amazonas a necessidade de esforços adicionais para suprir a demanda "crescente e descontrolada" de oxigênio acima da capacidade de produção da empresa. "Cabe ressaltar que a White Martins não recebeu da Secretaria Estadual de Saúde informação prévia a respeito de aumento da demanda de oxigênio para as instituições do Estado. Como uma mera fornecedora, a empresa reforça que não tem dever ou qualificação técnica para fazer a gestão da saúde pública", diz a nota.