Alvo de investigações, Ricardo Salles pediu demissão do cargo de ministro do Meio Ambiente. O ato de exoneração foi publicado em uma edição extra do Diário Oficial da União (DOU) nesta quarta-feira (23). O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nomeou o atual Secretário da Amazônia e Serviços Ambientais da pasta, Joaquim Álvaro Pereira Leite, para comandar a pasta.
"Para que isso (investigação) seja feita de forma mais serena possível, apresentei minha exoneração", disse Salles ao justificar o pedido em entrevista no Palácio do Planalto.
A gestão de Salles à frente da pasta foi marcada pelo desmonte de órgão de fiscalização ambiental e sucessivos recordes no avanço do desmatamento. Na última semana, negociações bilaterais sobre questões ambientais entre Brasil e Estados Unidos foram suspensas, o que acendeu o "sinal amarelo" entre autoridades e parlamentares para os riscos de sanções econômicas. Para a presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Kátia Abreu (PP-TO), o congelamento das conversas tem relação com as investigações contra o ex-ministro e com a paralisia no combate ao desmatamento.
Investigado
Na Operação Akuanduba, deflagrada no mês de maio, ele foi alvo de mandados de busca e apreensão e teve sigilos bancários e fiscal quebrados. A investigação, cujo relator é o ministro Alexandre de Moraes, apura indícios de favorecimento de empresas na exportação ilegal de madeira.
Salles também é alvo de um segundo inquérito, conduzido pela ministra Cármen Lúcia, sob suspeita de obstruir a maior investigação ambiental da Polícia Federal em favor de quadrilhas de madeireiros. O ex-ministro do Meio Ambiente nega irregularidades.
Elogiado por Bolsonaro
A demissão ocorreu um dia depois de Salles ser elogiado publicamente por Bolsonaro. Em evento de lançamento do Plano Safra, o presidente disse que, em seu governo, o casamento da Agricultura com o Meio Ambiente foi "quase perfeito".
"Parabéns Ricardo Salles. Não é fácil ocupar o seu ministério. Por vezes, a herança fica apenas uma penca de processos. A gente lamenta como por vezes somos tratados por alguns poucos deste outro Poder Judiciário".
O anúncio da troca no Ministério do Meio Ambiente também ocorre no momento em que o governo é acusado de corrupção na compra de vacinas para a covid-19. Em entrevista ao Estadão mais cedo, o deputado Luis Miranda (DEM-DF), aliado do Palácio do Planalto, afirmou ter alertado o próprio Bolsonaro de que havia "corrupção pesada" no Ministério da Saúde envolvendo a compra da Covaxin.
Na ocasião, segundo o parlamentar, o presidente afirmou que procuraria a Polícia Federal para investigar o caso. Apesar do aviso, o governo seguiu com o negócio em que prevê pagar pelo imunizante indiano um preço 1.000% maior do que o anunciado pela própria fabricante seis meses antes.