Senadores oposicionistas da CPI da Covid reagiram nesta segunda-feira (4) à suspeita de que o presidente Jair Bolsonaro desviava e se apropriava ilegalmente de salários de assessores quando era deputado federal. Alessandro Vieira (Cidadania-SE) disse que vai apresentar pedido de abertura da CPI da Rachadinha. Já o relator da CPI da Covid, Renan Calheiros (MDB-AL), quer convocar a ex-cunhada de Bolsonaro, Andrea Siqueira Valle, para depor na comissão que relata. Os Bolsonaro negam ilegalidades. Alegam ser alvos de perseguição política.
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Áudios publicados pelo portal UOL mostram Andrea contando que seu irmão André foi exonerado por Bolsonaro de um cargo de confiança na Câmara. O motivo seria a resistência do então servidor a repassar ao então deputado toda a parte do salário que combinara em troca da nomeação. O esquema configura peculato - desvio ilegal de verba pública, por servidor. Andrea é irmã de Ana Cristina Siqueira Valle, segunda ex-mulher de Bolsonaro.
"O André deu muito problema porque ele nunca devolveu o dinheiro certo que tinha que ser devolvido, entendeu? Tinha que devolver R$ 6 mil, ele devolvia R$ 2 mil, R$ 3 mil. Foi um tempão assim até que o Jair pegou e falou: 'Chega. Pode tirar ele porque ele nunca me devolve o dinheiro certo'", diz Andrea em um dos áudios
Ex-delegado, o senador Alessandro Vieira disse no Twitter que apresentará o pedido de abertura da nova CPI. "Ninguém está acima da lei. Os fatos narrados são graves e exigem apuração imediata. Apresento hoje (segunda, 5) o pedido de CPI da Rachadinha. Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará (João 8:32) #CPIdaRachadinha", escreveu, citando um trecho bíblico usado por Bolsonaro com frequência.
Renan publicou que considera "fundamental" a CPI da Covid convocar Andrea. Ele quer que ela explique "se houve espelhamento do esquema das rachadinhas no governo federal". Ele também citou o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) e o vereador carioca Carlos Bolsonaro (Republicanos).
Para o relator, os dois seriam peças fundamentais nas investigações. O primeiro já foi denunciado pelo Ministério Público do Rio por peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa sob acusação de fazer rachadinhas na Assembleia Legislativa, quando era deputado estadual. O segundo também é investigado, mas as apurações ainda não geraram denúncia.
Para defesa de Flávio, gravações foram 'clandestinas'
Em nota, a defesa de Flávio classifica as gravações como "clandestinas". Os áudios estariam nos autos da investigação do MP, conforme a reportagem do UOL.
"Gravações clandestinas, feitas sem autorização da Justiça e nas quais é impossível identificar os interlocutores não é (sic) um expediente compatível com democracias saudáveis. A defesa, portanto, fica impedida de comentar o conteúdo desse suposto áudio apresentado pela reportagem."
Segundo os defensores, a denúncia é mais um "ingrediente na narrativa que tentam armar contra a família Bolsonaro".