Investigação

Delegado pernambucano defende investigação do caso Joice Hasselmann pela Polícia Civil

Tancredo Loyo questiona a condução das investigações por parte da Polícia Legislativa, que segundo ele pode sofrer interferência do Congresso Nacional

Cadastrado por

Luisa Farias

Publicado em 26/07/2021 às 12:39
Joice sofreu fraturas e hematomas e relatou ter acordado ensanguentada em seu apartamento - REPRODUÇÃO DE VÍDEO/SBT

O delegado da Polícia Civil Tancredo Loyo Borba, entrevistado no programa Passando a Limpo da TV Jornal na manhã desta segunda-feira (26), questionou a condução das investigações sobre a denúncia de agressão feita pela deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP). Para ele, o caso deve ser investigado pela Polícia Civil do Distrito Federal e não pelo Departamento de Polícia Legislativa, ainda que o crime tenha ocorrido em uma apartamento funcional.

"O que eu defendo é uma investigação a fundo da Polícia Civil do Distrito Federal. Eu tenho minhas desconfianças também quanto a esse trabalho de Polícia Legislativa que é altamente vulnerável, passível de influência de todos os lados dentro do Congresso", disse. "O caso é típico de polícia, pelo fato de ela ser deputada federal não coloca ela em uma redoma", completou. 

A deputada foi a público para afirmar que acredita ter sido vítima de um atentado dentro do seu apartamento em Brasília no domingo passado (18). De acordo com Joice, ela teria acordado no chão do quarto em cima de uma poça de sangue.

Na última terça (20), Joice se dirigiu a um hospital para realizar exames, que identificaram traumas no joelho, costela, ombro e nuca, cinco fraturas na face e uma na coluna. De acordo com a deputada, os médicos não acreditam em uma queda acidental.

"Investigação policial é muito arriscado você palpitar, você sem ser o presidente da investigação dizer o que está acontecendo, mas já que você me pede a opinião eu vou me atrever a tal. A circunstância narrada por ela é altamente nebulosa", afirma o delegado Tancredo Loyo no início da entrevista. 

Na avaliação de Loyo, a investigação deve começar dentro da residência. Mas a forma como a vítima reagiu ao ocorrido, segundo ele, seria equivocada, uma vez que ela não realizou exame de corpo de delito e o local do crime não foi periciado

A parlamentar acionou o Departamento de Polícia Legislativa (Depol), órgão responsável pela segurança dos parlamentares, para o qual prestou depoimento na última sexta-feira (23). Segundo nota publicada pela Câmara dos Deputados, o órgão está na fase de oitiva de testemunhas e análise das imagens das câmeras de segurança do prédio onde a deputada reside. Ela também foi ouvida pelo Ministério Público na sexta (23). 

"Tudo isso (perícia, exame de corpo de delito) não aconteceu porque ela não quis. Ela preferiu solicitar uma apuração da polícia legislativa da Câmara dos Deputados. É um negócio totalmente esdrúxulo, não aconteceu nada nas dependências da Câmara dos Deputados, aconteceu uma agressão a ela", disse o delegado. 

Ele também diz ser difícil acreditar na versão de Joice de que não se recorda de nada do que aconteceu no momento da agressão. "É um surto de amnésia assim violento, eu custo a crer. A não ser que ela tenha sido vítima de um entorpecente, de uma substância que tenha levado aquela situação toda de ausência total de memória. E aí era mais um motivo para ela ter sido periciada no dia seguinte para também ser feito um exame toxicológico nela para saber se ela foi vítima disso ou não", apontou Loyo. 

Marido

Joice foi atendida inicialmente pelo seu marido, Daniel França, que é neurocirurgião. Ele estava no apartamento, mas dormia em outro local, segundo ela, por ter problemas com ronco. Para chamá-lo, ela afirma que precisou ligar para o seu celular, por volta das 7h do domingo (18) pois não conseguia se levantar. Ambos teriam tomado remédios para dormir na noite anterior devido à insônia. 

Os dois concederam entrevista coletiva neste domingo (25) para dar explicações sobre outros questionamentos que vem surgindo sobre a demora da deputada em ser levada para o hospital  e "ilações" segundo eles, de que o marido teria alguma relação com a agressão da esposa. Na entrevista, ele explicou que por ser médico, optou por atendê-la inicialmente em casa. 

O delegado defende a tese de que ela teria sido vítima de uma agressão deliberada, ainda que não descarte totalmente a possibilidade de violência doméstica. "Aquilo que vier do gênero humano você não descarta. Esse crime eu penso que vai surpreender quando a Polícia Civil receber todo o material da polícia Legislativa e que realmente enveredar mesmo com a conduta da dita vítima tendo contribuído para apagar todo o quadro probatório, a verdade vai vir à tona", disse. 

Suspeitos

Na coletiva, Joice Hasselmann disse ter informado à polícia o nome de dois suspeitos de envolvimento na  suposta agressão contra ela, um deles parlamentar. Ela também prometeu pedir apuração sobre a conduta do á apuração Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI).

Ex-líder do governo Bolsonaro no Congresso Nacional, a deputada hoje faz oposição ao presidente seus aliados, depois do rompimento do presidente com o PSL, que ocasionou em uma debandada de bolsonaristas do partido. Na CPI das Fake News, ela denunciou o suposto "gabinete do ódio", formado por aliados de Bolsonaro para espalhar desinformação contra adversários. 

“A fonte disse que estavam atrás do meu carro para amassar e dizer que eu me envolvi em um acidente. Vou acionar o (general) Heleno para que traga explicações, se existe GSI paralelo. Tenho isso (mensagem da fonte) escrito, com hora, no meu telefone, não foi alguém que simplesmente me falou. Vou querer explicações do GSI. Por que inventar esse acidente de carro, por que esse medo?”, contou a deputada. 

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