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Lula desembarca no Recife neste domingo em dia decisivo para a relação entre PT e PSB

O ex-presidente Lula será recepcionado pelo governador Paulo Câmara, neste domingo (15), no Palácio do Campo das Princesas

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Mirella Araújo

Publicado em 15/08/2021 às 7:00 | Atualizado em 15/08/2021 às 13:18
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A vinda do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Estado não representa só o seu retorno ao Nordeste, principal reduto político-eleitoral do PT. Iniciar esse giro por Pernambuco, e ter como primeiro compromisso um encontro com o governador Paulo Câmara e a cúpula do PSB poderá ser um fator decisivo para o palanque que deseja construir em 2022.

O líder petista deverá ser recebido neste domingo (15), para um jantar às 20h, no Palácio do Campo das Princesas. “A vinda do presidente Lula é um sinal da retomada do diálogo que o Brasil precisa ter. O PT é um partido importante e sem sombra de dúvidas Lula é a maior liderança do campo da esquerda. Essa disposição de diálogo nós vemos com muita satisfação”, afirmou o presidente do PSB de Pernambuco, Sileno Guedes, ao JC.


Apesar da boa relação que mantém com o governador Paulo Câmara, que é vice-presidente nacional do PSB, e não vê objeção de estarem em um mesmo palanque estadual e nacional, Lula encontrará entraves importantes para obter o apoio dos socialistas.

Há uma ala endossada pelo prefeito do Recife, João Campos, de que o partido deveria lançar uma candidatura própria à presidência da República. Com isso, o Partido dos Trabalhadores teria que ficar mais um palanque no Estado lançado candidato ao governo.

Nesta sexta-feira (13), segundo informações do jornal O Globo, o filho do ex-governador Eduardo Campos, afirmou que o encontro com o líder petista não terá as eleições como pauta e deixou claro seu posicionamento sobre o cenário que deseja ver construído a partir do próximo ano. ‘A conversa é sobre o momento desafiador que o país passa. A pandemia ainda está registrando um número elevado de óbitos por dia no país, o desemprego atinge mais de 14 milhões de brasileiros e temos o desafio de enfrentar iniciativas anti-democráticas quase diariamente. Garantir a democracia é fundamental. São sobre esses pontos que a conversa deve tratar”, declarou João Campos.

“A eleição é em 22, que é o ano da disputa eleitoral, e aí deverá ser discutida pelos partidos. E eu já registrei minha posição de que o PSB deve ter protagonismo e deve apresentar uma candidatura própria. É o melhor cenário que observo”, acrescentou o gestor.

Entretanto, Sileno relembra que é justamente no ano que antecede a eleição que os partidos se dispõe a conversar, trocar ideias e traçar estratégias. “O PSB está presente no país inteiro, possui quadros nacionais importantes, possui 74 anos de história, é natural que a discussão aconteça. O que nos une, tanto o PSB quanto o PT e o presidente Lula é justamente a convicção de que precisamos que estes partidos tenham responsabilidade de construir uma alternativa que não possibilite a reeleição do presidente Bolsonaro”, declarou

“A pauta de 2022 vai estar posta, mas muito mais a pauta que procure tirar o Brasil da situação de crise que ele se encontra”, disse Sileno Guedes.

Dentro de uma conjuntura em que o candidato do PSB seja o ex-prefeito do Recife, Geraldo Julio, ter o PT em seu palanque seria um fator de peso para não dividir os votos da esquerda, caso o partido decida lançar nomes como o do senador Humberto Costa e a deputada federal Marília Arraes, já cotados internamente. Além disso, o partido poderia ser beneficiado pelo lulismo, principal aposta dos petistas para derrotar Jair Bolsonaro.

O presidente do PT Pernambuco, o deputado estadual Doriel Barros, reforça que o encontro entre o ex-presidente Lula e os socialistas, é muito importante, até porque as legendas já estão no caminho de construção de entendimentos. “Não vejo o momento como decisivo, mas de construção de pontes que pode nos levar a estarmos todos juntos no primeiro turno ou no segundo turno”, declarou Barros.

Sobre as resistências internas entre os socialistas, Doriel lembra que assim como João Campos incentiva uma candidatura própria para a presidência, no PT também há quem defenda uma candidatura majoritária em Pernambuco. “O PSB e PT são partidos que têm uma história de luta e ela pode nos levar a estarmos unidos no futuro. Tudo está em aberto ainda”

Além do encontro com os socialistas, o ex-presidente Lula visitará, nesta segunda-feira (16), o assentamento Che Guevara I do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), localizado no município de Moreno, Região Metropolitana do Recife. Ao meio dia, o líder petista concederá uma coletiva de imprensa em um hotel em Boa Viagem, na Zona Sul do Recife.

CENÁRIOS DIFERENTES

Para a cientista política e professora da Faculdade de Ciências Humanas de Olinda (Facho), Priscila Lapa, as idas e vindas entre PT e PSB enfrentam uma situação diferente das eleições de 2018. Primeiro porque na época, ficou evidente que o Partido dos Trabalhadores sabia que o ex-presidente Lula poderia não sair candidato, mas manteve essa possibilidade até o fim. Segundo, a docente também há uma questão referente ao enfraquecimento da esquerda, por não estar no poder central, mas que agora tenta se reconstruir a partir do desgaste do governo Bolsonaro. 

"É como se hoje existissem elementos muito mais concretos e plausíveis para essa aliança", afirma Priscila. "Acho que o PT agora, trabalha firmemente com a hipótese da candidatura de Lula, dela realmente se concretizar, de realmente não acontecer nenhuma interferência judicial que possa retirar Lula da disputa. Então eu acho que a negociação com o PSB deste ano para 2022, ela tem uma maior envergadura de uma candidatura petista nacionalmente falando, e o PSB em contrapartida recebe apoio localmente nessa via de mão dupla", analisa a docente.

 Ainda segundo Priscila Lapa, mesmo com as rusgas deixadas pela eleição municipal de 2020, após o embate acirrado entre o prefeito João Campos e a deputada federal Marília Arraes, o que está em jogo no tabuleiro para 2022 seria algo muito mais amplo. "Temos que colocar que o PSB terá um cenário de uma reeleição muito mais difícil ano que vem, porque além do desgaste da administração, você tem uma oposição um pouco mais robusta do que 2018", declara.

 


 

 

 

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