Às vésperas dos atos programados por bolsonaristas para o 7 de Setembro em Brasília e outras cidades do País, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a falar em ruptura democrática após participar de uma 'motociata' em cidades do interior de Pernambuco neste sábado (4). Dizendo estar disposto a dar a vida "pela pátria", o militar da reserva afirmou, mencionando o Supremo Tribunal Federal (STF), que há "um ou dois" representantes da Corte "jogando fora das quatro linhas da Constituição" e que eles precisariam ser "enquadrados".
"Não podemos admitir que um ou dois homens ameacem a nossa democracia ou a nossa liberdade. Se um dos meus 23 ministros tiver um comportamento fora da Constituição, eu chamo a atenção dele. E se ele não se enquadrar, eu o demito. O mesmo acontece na Câmara dos Deputados e no Senado. Lá, quando alguém age fora das quatro linhas da Constituição, geralmente é chamado para o Conselho de Ética e a vida dele é acertada. O nosso Supremo Tribunal Federal não pode ser diferente do Poder Executivo ou do Poder Legislativo. Se lá tem alguém que ousa continuar agindo fora das quatro linhas da Constituição, aquele Poder tem que chamar essa pessoa e enquadrá-la", defendeu o presidente, durante pronunciamento na cidade de Caruaru, no Agreste do Estado.
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Ao completar a sua fala, Bolsonaro ainda citou uma possível "ruptura", muito embora tenha dito que não deseja que isso ocorra. "Se isso (punições a atos antidemocráticos) não ocorrer em algum dos Três Poderes, a tendência é acontecer uma ruptura. Ruptura esta que eu nem quero nem desejo e tenho certeza que nem o povo brasileiro assim o quer. (...) Poderíamos estar aqui por outro motivo, mas estamos empenhados em lutar pela nossa liberdade e dignidade", cravou o militar.
Bolsonaro chegou a Pernambuco na última sexta-feira (3), no início da tarde. O presidente, que estava acompanhando pela primeira-dama Michelle Bolsonaro e vários aliados, foi recebido com festa na Base Aérea do Recife. Ele participou de compromissos em um projeto social, com um grupo de empresários locais e no Comando Militar do Nordeste, mas não falou com a imprensa nem deu declarações em nenhum deles. Na manhã deste sábado (4), dirigiu-se ao Agreste pernambucano para participar da motociata.
O pastor Silas Malafaia e políticos locais como o ministro do Turismo, Gilson Machado Neto, e o deputado estadual Alberto Feitosa (PSC) estiveram ao lado de Bolsonaro no ato, que começou da cidade de Santa Cruz do Capibaribe - único município do Estado em que o presidente venceu a eleição de 2018 nos dois turnos - pouco depois das 10h, passou por Toritama, até chegar em Caruaru. Milhares de motociclistas participaram da mobilização, alguns deles vindos de estados vizinhos, como Paraíba e Alagoas.
Em rota de colisão com o STF já há alguns meses, o presidente vem atacando os magistrados por razões diversas, colocando em dúvida a realização das eleições de 2022 e sempre deixando no ar a ideia de que estaria pavimentando um golpe. No pronunciamento deste sábado, Bolsonaro voltou a convocar a população para os atos do Dia da Independência e afirmou que também participará das manifestações, pela manhã em Brasília, e à tarde na Avenida Paulista, em São Paulo.
"Um dos direitos inalienáveis que nós temos no Brasil é a liberdade de expressão. Não se pode admitir que uma pessoa, usando do seu cargo, não interessa em que Poder ele esteja, tire da população esse direito. Agora no dia 7 todos ouvirão o clamor de vocês e não estaremos lá apenas para fazer figuração. Estaremos lá para mostrar para todos que não admitiremos mais quem quer que seja ignorar a nossa Constituição", declarou.
Em um discurso quase eleitoral, Bolsonaro também usou o palanque para atacar a esquerda do País, que segundo ele teria princípios diferentes dos seus. "Ao contrário da esquerda, hoje Brasil tem um presidente da República que acredita em Deus, que respeita os seus militares, que defende a família tradicional e deve lealdade ao seu povo. No próximo dia 7, terça-feira, Dia da Pátria, todos nós temos um encontro com o nosso destino. Enquanto juristas ficam procurando o Poder Moderador do Brasil, eu digo a todos eles que o Poder Moderador é o povo brasileiro", disparou o militar da reserva.
Bolsonaro foi ouvido em Caruaru por milhares de pessoas que o chamavam de "mito" e levantavam cartazes com frases de apoio ao seu governo e com ataques à esquerda e ao STF, por exemplo. No fim do ato, o pastor Silas Malafaia falou à TV Jornal Interior que "o brasileiro está despertando para a verdade e não vai ser enganado por políticos mentirosos e corruptos que não têm o Brasil no coração e trocam o verde e o amarelo pelo vermelho". O presidente saiu de Caruaru rumo a Brasília pouco depois das 13h.