A nota com uma promessa de pacificação do presidente Jair Bolsonaro foi recebida com certa dúvida e ressalva no Congresso Nacional. Um dos objetivos do chefe do Planalto é arrefecer as discussões sobre um eventual processo de impeachment que ganharam força após as ameaças ao Supremo Tribunal Federal (STF) no 7 de setembro.
"Respeito entre os Poderes, obediência à Constituição e compromisso de trabalho árduo em favor do desenvolvimento do país. É disso que o Brasil precisa e que vamos continuar defendendo", afirmou o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-SP), após a divulgação do texto. Pacheco vinha adotando um tom mais duro em relação a escalada autoritária do Planalto.
Em entrevista à TV Bandeirantes, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), minimizou os discursos de Bolsonaro afirmando que tudo o que ocorreu "fora do script" deve ser creditado ao "fervor da política" e à "emoção do momento". "O presidente da República, acertadamente, serena os ânimos. Ele recomeça um movimento em direção aos Poderes", avaliou. Lira tem sido muito cobrado porque cabe a ele definir sobre a abertura ou não do impeachment.
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No Legislativo, porém, nem todos foram receptivos ao texto do presidente. "Bolsonaro procura incendiar o País e, depois que o fogo toma conta, não sabe como apagá-lo, e não tem sequer coragem de vir à público e gravar um vídeo dizendo que errou. Aí solta uma nota dizendo que falou o que falou no calor do momento, recuando de sua posição", criticou o líder da oposição, Alessandro Molon (PSB-RJ).
Líder do PDT, o deputado Wolney Queiroz (PDT-PE) afirmou que Bolsonaro divide o Brasil. "É lamentável que, no meio de uma pandemia, enquanto esta Casa tenta cumprir o seu papel, tenta votar matérias, tenta socorrer o País, tenta aprovar coisas importantes para o povo, tenhamos que constantemente estar nos defendendo de ataques autoritários, ataques vis, ataques maldosos, ataques mentirosos às instituições, à democracia e à esta Casa", lamentou.
Para o deputado Otoni de Paula (PSC-RJ), que participou de manifestações da terça-feira, a atuação de Temer é digna de tristeza pela proximidade entre o ex-presidente e o ministro Alexandre de Moraes, um dos alvos dos bolsonaristas. "Esta nota partiu de uma redação feita pelo ex-presidente da República Michel Temer, responsável pela estadia do déspota Alexandre de Moraes em uma das cadeiras do Pleno do STF", criticou.
Judiciário
Se no Legislativo o clima pode ter arrefecido, no Judiciário, o ministro Luís Roberto Barroso, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), rebateu ontem as falas antidemocráticas do presidente em um duro discurso. "Não podemos permitir a destruição das instituições para encobrir o fracasso econômico, social e moral que estamos vivendo", afirmou.
Sem citar o nome de Bolsonaro, o presidente da Corte Eleitoral sugeriu que ele age como um "farsante". "É tudo retórica vazia. Hoje em dia, salvo os fanáticos (que são cegos pelo radicalismo) e os mercenários (que são cegos pela monetização da mentira), todas as pessoas de bem sabem que não houve fraude e quem é o farsante nessa história", disse o ministro.