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Em um revés duplo, STF e Senado anulam MP das redes sociais editada por Bolsonaro

A MP alterava o Marco Civil da Internet e limitava a possibilidade de remoção de conteúdo nas redes sociais

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Estadão Conteúdo, Paulo Veras

Publicado em 14/09/2021 às 23:40 | Atualizado em 15/09/2021 às 0:24
POR ETAPAS Senado vai ouvir governadores sobre projeto que prevê valor fixo do ICMS sobre combustíveis
POR ETAPAS Senado vai ouvir governadores sobre projeto que prevê valor fixo do ICMS sobre combustíveis - JEFFERSON RUDY/AGÊNCIA SENADO

Em um revés duplo, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF) revogaram, ambos, a validade da medida provisória assinada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) que alterou o Marco Civil da Internet e limitou a possibilidade de remoção de conteúdo nas redes sociais. Do lado do Legislativo, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), oficializou a devolução do texto. A decisão foi comunicada ao Palácio do Planalto e lida por Pacheco no plenário do Senado. Já do lado do Judiciário, a ministra Rosa Weber suspendeu a eficácia da medida.

Em sua decisão, Pacheco afirmou que a MP gera insegurança jurídica e configura um "abalo" ao desempenho das funções do Congresso Nacional. O presidente do Senado citou a tramitação de um projeto de lei sobre o tema aprovado no Senado e aguardando votação na Câmara. O senador também citou que a MP de Bolsonaro impacta diretamente no processo eleitoral.

"Nesse caracterizado cenário, a mera tramitação da Medida Provisória nº 1.068, de 2021 já constitui fator de abalo ao desempenho do mister constitucional do Congresso Nacional", diz o ato de Pacheco, que como presidente da Mesa do Congresso tem o poder de devolver uma MP e anular efeitos da medida quando identifica inconstitucionalidade.

Promulgada na véspera dos atos do 7 de setembro, em que a base bolsonarista foi às ruas pedindo medidas antidemocráticas como o fechamento do STF, a MP foi vista como uma tentativa do presidnte de fazer um aceno para sua militância digital. Antes disso, o presidente vinha de uma série de derrotas, após vários aliados terem conteúdos retirados das redes sociais e as contas suspensas por apoiarem pautas antidemocráticas.

Os protestos em várias capitais do País e as ameaças do presidente ao Judiciário, porém, só elevaram a pressão contra a MP que, desde o dia anterior, havia levantado dúvidas sobre a sua validade, uma vez que a liberdade de expressão é um tema registro para ser legislado através de medidas provisórias.

Apesar disso, Pacheco agiu com cautela e, ao invés de devolver o texto imediatamente, esperou por um embasamento técnico que sustentasse a decisão política de inviabilizar a medida. A tática é similar a que ele usou, no mês anterior, quando o presidente da República apresentou uma denúncia contra o ministro do STF Alexandre de Moraes.

Uma das maiores resistências à MP partiu de agências de checagens que indicaram que o texto abria margem para a disseminação de desinformação e fake news nas redes sociais. Isso ao criar uma série de dificuldades e punições para a remoção de conteúdos das plataformas.

A Coalizão Direitos na Rede chegou a mobilizar influenciadores para pressionar contra a devolução do texto. Pacheco também chegou a receber um parecer da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) contra a medida.

Com a devolução, o texto da MP, que estava em vigor, perde imediatamente a validade e não será mais analisado pelo Congresso Nacional. Essa é apenas a quinta vez desde a redemocratização que uma medida provisória é devolvida ao chefe do Executivo.

Da última vez em que isso aconteceu foi em junho do ano passado, quando o então presidente do Senado Federal Davi Alcolumbre (DEM-AP) devolveu uma MP em que Bolsonaro tentava alterar as regras de nomeação de reitores nas universidades federais.

Ontem, o presidente defendeu a divulgação de fake news não deve ser regulamentada no País. "Fake news faz parte da nossa vida. Quem nunca contou uma mentirinha para a namorada?", questionou o chefe do Planalto durante a solenidade de entrega do Prêmio Marechal Rondon de Comunicações. "Não precisamos regular isso aí, deixemos o povo à vontade", acrescentou.

 

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