Confusão nas prévias do PSDB pode atrapalhar planos de Raquel Lyra em Pernambuco; entenda
Aliados da tucana já admitem nos bastidores as dificuldades que a gestora deve enfrentar para seguir suas articulações diante do desgaste interno da sua legenda
Matéria atualizada às 19h21
Suspensas no domingo (21), após a detecção de problemas no app de votação, as prévias do PSDB definem não apenas o possível candidato do partido ao Palácio do Planalto em 2022, mas o nome que pode liderar a legenda em um dos momentos mais cruciais de sua história — após a perda de protagonismo com eleição de Jair Bolsonaro em 2018 —, com reflexos diretos nos arranjos políticos feitos nos estados.
“O adiamento das prévias se tornou um problema pelo fato de que mantém a indefinição do nome do PSDB e atrapalha a composição das alianças nacionais e regionais”, explica o cientista político Vanuccio Pimentel, professor da Asces-Unita.
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Em Pernambuco, onde a prefeita de Caruaru, Raquel Lyra (PSDB), deve ser a escolhida para disputar o Palácio do Campo das Princesas pelo partido, aliados da tucana já admitem nos bastidores as dificuldades que a gestora deve enfrentar para seguir suas articulações diante do desgaste interno da sua legenda.
“O caso de Pernambuco é um exemplo dos problemas trazidos por essa indefinição. Raquel Lyra precisa da definição de um nome nacional do PSDB que dê viabilidade a sua candidatura”, diz Pimentel. “Ela consegue manter o ritmo de visitas e encontros pelo Estado, mas a sua candidatura depende fortemente da estrutura nacional do PSDB”, diz Vanuccio Pimentel.
Na mesma linha, o ex-prefeito de uma município do Agreste do Estado admite, sob reserva, os problemas gerados pela confusão nas prévias. "Se não tivermos para ontem a definição de quem vai liderar o projeto nacional, a prefeita Raquel pode ter que refazer seus planos e o partido perde a chance de apresentar um grande quadro ao Estado", afirma. "Isso dificulta a conquista de apoios. Ninguém quer apoiar candidato de partido bagunçado", completa.
Lyra, que esteve em Brasília para participar presencialmente das prévias, declarou apoio ao governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, apesar de ter boa relação com o governador de São Paulo, João Doria, e o ex-senador do Amazonas Arthur Virgílio Neto — praticamente inviabilizado na disputa interna.
Raquel 'amarrada'
Acontece, porém, que sem a definição de quem será o candidato do PSDB à Presidência da República, Raquel pode se ver “amarrada” para dar continuidade às conversas que nutre com outros atores políticos, a exemplo da Família Ferreira, que comanda dois partidos (PL e PSC) no Estado, e o deputado federal Daniel Coelho (Cidadania).
Isso porque os Ferreira, grupo do prefeito de Jaboatão e também pré-candidato ao governo do Estado, Anderson Ferreira (PL), tendem a apoiar o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na sua tentativa de reeleição, além de apresentarem resistência a João Doria, um dos arquirrivais do bolsonarismo.
“Eu não diria que Raquel Lyra fica imobilizada do ponto de vista político, mas isso gera lentidão, o que pode acarretar um prejuízo político do ponto de vista da composição da aliança em torno dela, da formação dos acordos que ela precisa para levar adiante sua empreitada”, pontua o cientista político Elton Gomes, professor da Faculdade Damas.
“É possível que, dependendo de quanto mais tempo leve para o PSDB definir quem será seu candidato à Presidência e, consequentemente, para Raquel Lyra firmar os seus posicionamentos, Anderson Ferreira entenda que tem melhores chances na corrida pelo Palácio do Campos das Princesas e se lance na disputa. Certamente, ele ainda aguarda as definições do PSDB, mas já faz os cálculos do que pode ser favorável ao seu grupo político”, completou.
Armando descarta dificuldades
Apesar da avaliação dos especialistas, o ex-ministro e ex-senador Armando Monteiro afasta qualquer possibilidade de prejuízo à pré-candidatura de Raquel. Segundo ele, Lyra tem boa relação com todos os candidatos das prévias, inclusive com João Doria, que pode virar uma dor de cabeça para a tucana graças ao seu “perfil mais combativo”.
“O governador Doria tem um perfil mais combativo. Um discurso, em alguns momentos, mais duros. [...] Mas não há dificuldade nenhuma”, argumenta Armando.
“Eu tenho acompanhado o movimento Levanta Pernambuco, que a prefeita vem liderando. Neste contexto, o nome de Raquel tem tido uma receptividade extraordinária. Isso está ganhando uma dimensão que praticamente já se pode antecipar que ela vai reunir as melhores condições possíveis para liderar esse projeto”, emenda o ex-senador, afagando outros pré-candidatos, como Anderson Ferreira.
O JC procurou a prefeita Raquel Lyra, mas a assessoria de comunicação do PSDB informou que ela não irá comentar sobre o assunto.