Atualizada às 20h15 de 17 de novembro de 2021
O comentarista da Jovem Pan José Carlos Bernardi associou o sucesso econômico da Alemanha ao Holocausto, que matou cerca de seis milhões de judeus durante o regime nazista. O comentário foi feito durante uma discussão com a jornalista Amanda Klein no "Jornal da Manhã", da Jovem Pan News, nessa terça-feira (16).
"Quem dera o Brasil chegar aos pés do desenvolvimento da Alemanha", disse Klein no debate. Bernardi, então, respondeu dizendo que os alemães ficaram ricos por matar e assaltar judeus após a Segunda Guerra Mundial.
Um dia após a fala, o jornalista José Carlos Bernardi foi exonerado do gabinete do deputado Campos Machado (PTB), na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), onde ocupava um cargo comissionado.
Em nota, Campos Machado manifestou repúdio ao comentário que classificou como "infeliz" e disse que não poderia continuar com os serviços do jornalista tendo em vista o seu "excelente relacionamento com a comunidade" judaica e a "amizade pessoal" com inúmeros judeus.
"Portanto, quero informar que, hoje mesmo, em comum acordo com o profissional José Carlos Bernardi, decidimos que não havia mais condições dele permanecer em meu gabinete, me restando determinar, de imediato, hoje mesmo, as devidas providências para a sua imediata exoneração do cargo que ocupava."
Também nesta quarta-feira, a promotora de Justiça Maria Fernanda Balsalobre Pinto, do Ministério Público de São Paulo, instaurou um procedimento para apurar eventual cometimento de crime de ódio por intermédio de meios de comunicação, caracterizando antissemitismo, pelo comentário feito por Bernardi no Jornal da Manhã.
Repúdio
O comentário recebeu críticas por parte dos integrantes da comunidade judaica, que classificaram a declaração como antissemita. O grupo Judeus pela Democracia disse que a fala se apoia no mito antissemita da riqueza dos judeus e ignora totalmente os diversos fatores econômicos que alçaram a Alemanha ao patamar de desenvolvimento atual.
“É só assaltar todos os judeus que a gente consegue chegar lá. Se a gente matar um monte de judeus e se apropriar do poder econômico deles, o Brasil enriquece. Foi o que aconteceu com a Alemanha pós-guerra”, afirmou Bernardi.
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Repúdio de entidades
As declarações do jornalista do recém-criado canal de notícias foram repudiadas por organizações judaicas, como a Confederação Israelita do Brasil (Conib), a Federação Israelita de São Paulo (Fisesp) e Judeus pela Democracia (JPD).
Em carta conjunta, a Conib e Fipesp afirmaram que a narrativa colocada à audiência da Jovem Pan News causou “justificada consternação e revolta na comunidade judaica”.
“Entendemos ser de fundamental importância alertar aos formadores de opinião que a comparação de situações contemporâneas com os horrores do Nazismo e do Holocausto, para qualquer finalidade, é equivocada e extremamente dolorosa ao povo judeu”, diz trecho do texto.
Pelo Twitter, a JPD escreveu que a afirmação de Bernardi é “mentirosa e revisionista”, além de “reincidente na emissora”. “A fala de Bernardi apoia-se no mito antissemita da riqueza dos judeus e ignora totalmente os diversos fatores econômicos que alçaram a Alemanha ao patamar de desenvolvimento atual. É antissemita e é burra”, pontuou o grupo.
Amanda Klein também se posicionou sobre as declarações do colega em publicação no Twitter. "Na hora eu não ouvi direito. Ele me interrompia bastante. Quero manifestar meu mais profundo repúdio ao negacionismo histórico e à abjeta associação entre o holocausto e motivações econômicas", afirmou a jornalista.
Bernardi diz que foi mal interpretado
Ainda na terça, a Jovem Pan divulgou um pedido de desculpas do jornalista e reforçou que a visão dos comentaristas não reflete a opinião da empresa. Na nota, Bernardi diz que foi mal interpretado e afirmou não ter tido a intenção de “ofender a ninguém”.
"Peço desculpas pelo comentário infeliz que fiz hoje no jornal da manhã, primeira edição, ao usar um triste fato histórico para comparar as economias brasileira e alemã. Fui mal-entendido. Não foi minha intenção ofender a ninguém, a nenhuma comunidade, é só ver o contexto do raciocínio. Mas, de qualquer forma, não quero que sobrem dúvidas sobre o meu respeito ao povo judeu e que, reitero, tudo não passa de um mal-entendido. Obrigado", diz a nota.