O presidente da República em exercício, general Hamilton Mourão (PRTB), garantiu que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tem a sua lealdade e que a relação entre os dois “é muito clara e muito tranquila”. Mourão também afirmou, nesta quarta-feira (17), que poderia ter articulado um pedido de impeachment contra Bolsonaro, diante da crise política e econômica vivenciada pelo governo federal, mas que não o fez.
"Com todas as crises que foram vividas, acredito que, se eu fosse um político de outra estirpe, eu teria negociado ali dentro do Congresso um impeachment do presidente. Como eu não sou, ele sabe que tem essa situação tranquila”, declarou o vice-presidente, em entrevista ao UOL, realizada em Brasília.
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Ele reconheceu que os dois tiveram atritos em determinados momentos, mas que isso é algo natural de uma relação. “Ele não precisa temer nada de mim”, pontuou. Questionado sobre qual orientação teria recebido de Bolsonaro, enquanto estivesse fora do país, o general do Exército brincou dizendo que Bolsonaro pediu para que ele "baixasse o preço do combustível, diminuísse a inflação e fizesse a o dólar cair". "Estava tentando fazer isso ao longo destes cinco dias, mas lamento informar que não consegui", respondeu, em um tom descontraído.
Entretanto, na mesma entrevista, Mourão deu duas declarações que evidenciam essas discordâncias com Bolsonaro. Sobre a Amazônia, o vice-presidente tem uma visão contrária do presidente da República, que tem distorcido algumas informações durante sua viagem à Dubai, chegando a afirmar que o bioma não sofre com incêndios por ser úmido.
Já Mourão considera que o desmatamento “é real”. "Os dados que são divulgados pelo Inpe [Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais] mensalmente por meio do sistema Deter, eles não deixam dúvida. Assim como teve um aumento em outubro, em agosto foi 33% menor. Você tem que analisar o ciclo, né. Então muitas vezes a imprensa dá o foco, nesse mês foi o pior, mas ninguém falou que agosto foi o melhor.", declarou ao UOL, referindo-se à estimativa do Instituto, de que a devastação da Amazônia já atingiu cerca de 16% do bioma.
Em outro ponto da entrevista, o vice-presidente disse ser contrário à privatização da Petrobras, por acreditar que essa não seria a solução para baixar o preço do combustível. Mais uma vez, o posicionamento dele difere do que tem sido levantado por Bolsonaro. "Eu sou contra a privatização. Não vejo que ela é a solução do problema. O governo detém hoje 37% da Petrobras, na realidade. Os outros 63% estão distribuídos entre os mais diversos acionistas. A Petrobras é uma empresa com ações em bolsa."
TERCEIRA VIA
O futuro político de Hamilton Mourão ainda não está definido, entretanto ele não considera a possibilidade de fazer oposição ao presidente Jair Bolsonaro. Mas, ao falar sobre as eleições de 2022, Mourão acredita que o ex-ministro da Justiça Sergio Moro, agora filiado ao partido Podemos, é o mais indicado para representar a chamada “terceira via”.
Para o general, o ex-juiz da Lava Jato “tem luz própria” e possui espaço dentro do campo político. "Agora, vai depender de ele conseguir empolgar a massa, né? O Moro tenho certeza que empolga uma parcela esclarecida da população, mas hoje quem empolga a massa, na minha visão, são só duas pessoas: Bolsonaro e Lula”, declarou.