Sem acordo definido sobre como se dará a representação de cada partido, caso a federação seja formalizada, o PT , PSB, PSol e PCdoB têm uma equação difícil de ser resolvida até março do ano que vem . A matemática não envolve apenas as composições eleitorais para 2022, mas traz como um grande obstáculo os pleitos municipais de 2024. De acordo com nova norma, os partidos reunidos em federação deverão permanecer a ela filiados por no mínimo quatro anos, ou seja, as disputas municipais devem ser decididas em conjunto.
Atento a esse alinhamento, o governador de Pernambuco Paulo Câmara (PSB), reconhece a dificuldade de encontrar um consenso. "A federação está se discutindo. Hoje a possibilidade maior é de apoiarmos a candidatura do ex-presidente Lula, com o apoio de uma série de partidos, e a federação tem que se discutir, porque é necessário ter unidade entre os 27 estados, é uma coisa mais difícil e duradoura por quatro anos. É necessário discutir a federação para 2022, para 2024 e ter harmonia e ter uma harmonia no mandato, as posições no Congresso devem ser da federação”, declarou o gestor, em entrevista à Rádio CBN Recife, nessa segunda-feira (27).
Vice-presidente nacional do PSB, Paulo Câmara disse que o mês de janeiro deverá ser fundamental para que as agremiações possam se aprofundar sobre esse tema. “Até porque temos até o mês de março para registrar a federação, é um prazo mais curto para essas definições e vai exigir uma capacidade de diálogo muito grande de todos nós”, afirmou o governador.
Para o líder do governo na Assembleia Legislativa, o deputado estadual Isaltino Nascimento, esse modelo é uma novidade que precisa ser bem discutida. “É uma mudança de paradigma do processo de disputa política da redemocratização, cujo tempo para execução entendo ser exíguo e de difícil viabilização. Vários questionamentos serão objeto de regulamentação e isso gera insegurança para uma decisão de imediato. Acredito que ter que trabalhar três eleições seja o maior empecilho da federação”, declarou.
Se de um lado os socialistas temem se haverá tempo hábil para firmar um acordo que contemple todos os partidos envolvidos na negociação, petistas defendem que na política o tempo pode ser relativo. Para o presidente do PT de Pernambuco, o deputado estadual Doriel Barros, a discussão que envolve a escolha de prefeitos para 2024 não é a principal dificuldade para um entendimento.
“Talvez seja uma questão mais desse ambiente de 2022, porque tem alinhamento que tem que acontecer em todos os estados, então se houver decisão de ter candidatura própria que não seja dentro dessa frente, isso dificulta. Para 2024, essas questões podem ser superadas e se buscar construir uma unidade”, declarou Barros.
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Ele cita o exemplo do estado de São Paulo, onde o PT não abre mão da candidatura do ex-prefeito Fernando Haddad, e o PSB também não pretende deixar o ex-governador Márcio França fora da disputa. Em entrevista à CBN, o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, salientou que a federação só será feita quando o acordo geral sobre o apoio do PT nos estados considerados estratégicos pelos socialista, for definitivamente selado. “Nós admitimos a hipótese de federação como uma forma de valorizar a unidade das forças de esquerda, mas estamos tendo muita dificuldade até o momento para se concretizar.”, afirmou o dirigente.
O senador Humberto Costa, que teve seu nome referendado pelo partido como pré-candidato ao Governo do Estado, lembra que a formação de uma federação partiu do PSB e PCdoB. “O PT está discutindo o assunto. Acho que existem coisas que no estatuto vai ser preciso discutir e resolver. A federação funciona como um partido? Se funcionar, as disputas devem ser definidas na ponderação, não pode ser algo que previamente alguém imponha, mas que possa encontrar um meio de se resolver através do estatuto. Isso se configura numa federação, se não for assim, será apenas um amontoado de partidos”, afirmou o senador.
Prefeituras
Na avaliação da cientista política e professora da Faculdade de Ciências Humanas de Olinda (Facho), Priscila Lapa, os partidos de esquerda possuem uma identidade partidária muito própria, mas como o Partido dos Trabalhadores foi o primeiro a alcançar o governo federal, criou-se uma ideia de que as outras legendas seriam uma espécie de “acessórios do PT”.
“O PSB vem há muito tempo resistindo a se comportar como uma legenda complementar ao PT. Isso já aconteceu no âmbito nacional, já aconteceu no âmbito local. O PSB se tornou um partido e, principalmente aqui em Pernambuco, com uma estrutura de poder maior do que o PT. Agora, quando olhamos pro âmbito nacional, não. O PT é um partido, em termos de competição, maior que o PSB”, afirmou a docente.
Voltando o olhar para o xadrez eleitoral local, historicamente petistas e socialistas pleiteiam de forma acirrada o comando dos municípios. Não há como não citar as eleições de 2020 no Recife, como um claro exemplo deste cenário. O então candidato a prefeito, João Campos, endureceu o tom contra o PT da deputada federal Marília Arraes, assumindo o discurso antipetismo. A relação entre as agremiações estremeceu ao ponto do PT desembarcar da Frente Popular e, consequentemente, do Governo do Estado.
Na capital de Alagoas, Maceió, o cenário também é de enfrentamento, onde os petistas possuem historicamente uma ligação com o MDB, e o PSB vem de alianças com o PSDB. Com a federação, o prefeito do município João Henrique Caldas (PSB), conhecido como JHC, e o deputado federal Paulão (PT), duas grandes lideranças de suas legendas e que não possuem nenhuma relação próxima, terão que encontrar uma solução sobre em que palanque devem estar para pedir votos para os candidatos a governador e senador.
“O grande impasse da formação da federação é justamente isso, você tomar uma decisão hoje para ter uma vitória eleitoral que pode comprometer o ciclo de vida do partido pelos próximos quatro anos. Vai ter que necessariamente agir como bancada tendo várias lideranças, porque quando você está falando de legendas menores, de aluguel, que não tem essa questão de identidade partidária, isso se torna mais fácil de negociar”, pontua Priscila.
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