BRASÍLIA

Em encontro com embaixadores, Bolsonaro ataca TSE, STF e urnas eletrônicas

Na reunião com embaixadores estrangeiros na tarde desta segunda-feira (18), o presidente Jair Bolsonaro (PL) repetiu sua tese nunca comprovada de que o sistema eleitoral brasileiro é passível de fraudes

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Amanda Azevedo

Publicado em 18/07/2022 às 18:01 | Atualizado em 19/07/2022 às 0:43
Planalto disse que encontro de Bolsonaro com embaixadores foi intercâmbio de ideias - Reprodução de vídeo

Da Estadão Conteúdo e AFP

Na reunião com embaixadores estrangeiros na tarde desta segunda-feira (18), no Palácio da Alvorada, o presidente Jair Bolsonaro (PL) repetiu sua tese nunca comprovada de que o sistema eleitoral brasileiro é passível de fraudes.

Bolsonaro citou vídeos descontextualizados e informações já desmentidas pela Justiça Eleitoral.

"Queremos corrigir falhas, queremos transparência, queremos democracia de verdade. Estou sendo acusado o tempo todo (...) como uma pessoa que quer dar o golpe. Estou questionando antes, porque temos tempo ainda de resolver esse problema, com a própria participação das Forças Armadas", afirmou o presidente, apresentando um PowerPoint com suas desconfianças e ataques a ministros do STF.

"Nós preservamos a nossa democracia. Até o momento uma só palavra minha houve fora do que chamo de quatro linhas da nossa Constituição, respeitamos as leis", acrescentou.

Bolsonaro citou uma investigação aberta em 2018 pela Polícia Federal (PF), um mês após a eleição na qual tornou-se presidente, para verificar um ataque de hacker contra os sistemas digitais do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

O inquérito ainda não foi concluído, mas, segundo o TSE, a PF já deu indícios de que o ataque não acarretou nenhum tipo de manipulação dos resultados eleitorais e pouco afetou o sistema interno do tribunal.



Bolsonaro discursou por quase uma hora diante de dezenas de embaixadores e diplomatas de países como França e Espanha.

Algumas embaixadas dos principais parceiros do Brasil, como a Argentina, não foram convidadas, sem que um motivo fosse dado.

Em audiência no Senado na semana passada, o ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, propôs uma "votação paralela" no dia da eleição com uma segunda urna com votos em cédulas de papel.

"Estamos a 3 meses das eleições, as propostas sugeridas pelas Forças Armadas praticamente estancam a possibilidade de manipulação. Não podemos enfrentar umas eleições sob o manto da desconfiança", afirmou.

O Brasil adotou o sistema de urnas eletrônicas nas eleições municipais de 1996. Além de oferecer um resultado mais ágil em comparação com o voto impresso, nenhum problema de segurança foi comprovado até hoje.

Planalto diz que encontro de Bolsonaro com embaixadores foi intercâmbio de ideias

O Palácio do Planalto emitiu nota que minimiza os ataques do chefe do Executivo às urnas eletrônicas e chama o encontro de "intercâmbio de ideias". O posicionamento oficial é incomum no atual governo.

"O senhor Presidente da República manteve encontro hoje com chefes de missões diplomáticas acreditadas no Brasil para intercâmbio de ideias sobre o processo eleitoral em curso no nosso País", diz o governo, em nota oficial.

No posicionamento oficial, o governo diz que Bolsonaro tem como prioridade fazer valer a vontade dos eleitores nas urnas. "O senhor Presidente da República sublinhou aos titulares e representantes diplomáticos presentes seu desejo de aprimorar os padrões de transparência e segurança do processo eleitoral brasileiro. Enfatizou que a prioridade é assegurar que prevaleça, de modo inquestionável, a vontade do povo brasileiro nas eleições", diz a nota.

Leia a íntegra da nota do governo:

O senhor Presidente da República manteve encontro hoje com chefes de missões diplomáticas acreditadas no Brasil para intercâmbio de ideias sobre o processo eleitoral em curso no nosso País.

O Presidente Jair Bolsonaro sublinhou aos representantes do corpo diplomático que sua própria carreira política é um resultado do sistema democrático. Lembrou, nesse sentido, seu período de mais de 30 anos como representante eleito, em trajetória iniciada na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, passando pela Câmara dos Deputados e culminando com sua eleição à Presidência da República em 2018, com mais de 57 milhões de votos válidos, em campanha realizada com mínimo financiamento público (menos de um milhão de dólares).

O senhor Presidente da República sublinhou aos titulares e representantes diplomáticos presentes seu desejo de aprimorar os padrões de transparência e segurança do processo eleitoral brasileiro. Enfatizou que a prioridade é assegurar que prevaleça, de modo inquestionável, a vontade do povo brasileiro nas eleições que se realizarão em 2 de outubro próximo.

Fachin rebate ataques de Bolsonaro a urnas eletrônicas

Sem citar o nome de Bolsonaro, mas com referência direta ao discurso que o presidente fez no Palácio da Alvorada, o presidente do TSE, ministro Edson Fachin, afirmou que "é hora de dar um basta à desinformação e ao populismo autoritário".

A dura reação do presidente do TSE ocorreu durante uma fala dele em evento organizado pela Ordem dos Advogados do Brasil no Paraná. "Quero dizer, sem meias palavras, que é muito grave, que há um inaceitável negacionismo eleitoral por parte de uma personalidade pública importante. E é muito grave acusação de fraude, de má-fé a uma instituição mais uma vez em apresentar prova alguma", afirmou Fachin.

Bolsonaro citou o TSE, três de seus ministros (o próprio Fachin, Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso) e levantou uma série de suspeitas sem prova alguma de falhas no sistema eletrônico de votação.

"É importante que a sociedade civil, cidadãos e cidadãs entenderem que esse tipo de desinformação como aquelas que hoje foram veiculadas nesta capital, se isso assim prosseguir, somente pode interessar a quem não interessam provas e fatos. Por isso, precisamos nos unir e não aceitar sem questionar a razão de tantos ataques institucional e pessoais. Mais uma vez , a Justiça eleitoral e seus representantes são atacados, como foram na data de hoje, com acusações que não têm fundamento na realidade", declarou Fachin.

Fachin também fez questão de condenar a atitude do presidente de convocar embaixadores estrangeiros para difundir desinformação. "Mais grave ainda envolver a política internacional e as Forças Armadas nessa contaminação. As Forças Armadas, cujo papel relevante e constitucional ninguém pode negar, são forças de Estado e não de um governo".

Barroso

O ministro Barroso divulgou nota para também rebater as declarações de Bolsonaro. A nota fala em "reiteradas mentiras" repetidas.

"Cumprindo o cansativo dever de restabelecer a verdade diante de mentiras reiteradamente proferidas, o gabinete do ministro Luís Roberto Barroso informa que ele jamais proferiu palestra no exterior sob o título "Como se Livrar de um Presidente".", diz a nota. Segundo o ministro, ele participou de um evento para falar de "Populismo Autoritário, Resistência Democrática e Papel das Supremas Cortes".

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