O combate à inflação deve ser uma das maiores prioridades do presidente Jair Bolsonaro (PL) caso queira ganhar impulso para se reeleger nas eleições 2022. O tema pode ser ainda mais importante que a concessão de auxílios. A análise foi feita pelo cientista político Antonio Lavareda, durante o programa Corrida Eleitoral, da Rádio Jornal.
De acordo com o especialista, o eleitorado mais carente, que precisa de fato de um auxílio, pensará na continuidade desse programa. "Voto tem a ver com futuro. A pessoa vota como investimento para melhorar a vida da família, dos seus, a vida da coletividade. Então, essa pessoa quer que o Auxílio Brasil continue. Bolsonaro já insinuou que pretende manter o valor de R$ 600, embora setores do governo tenham dito que voltará a R$ 400. Por outro lado, Lula também defende auxílio em padrão novo. O que isso contribui para que o eleitor mude sua intenção de voto? Não ocorrerá. Então, Bolsonaro precisa focar em outros aspectos das políticas públicas, entre eles o combate à inflação que é o fator de desgaste erosivo da sua popularidade já há um ano para ter uma melhor correlação de forças para sua candidatura."
Lavareda ainda destacou que pouco mudou no cenário eleitoral desde o final do ano passado, a não ser pelo crescimento de Bolsonaro nas pesquisas. "Lula é o líder das pesquisas e, de novembro para cá, tem oscilado entre 45% e 42%. Jair Bolsonaro tem crescido sim. Cresceu cerca de oito pontos por conta do eleitorado que se destinava a Sergio Moro. Moro tinha entre 8% e 10% e esse eleitorado se incorpora ao presidente."
O cientista político é presidente do Conselho Científico do Ipespe, e citou levantamento do instituto divulgado nesta semana que aponta o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à frente no 1º turno da corrida presidencial, com 44% das intenções de voto na pesquisa estimulada — quando é apresentada uma lista de pré-candidatos. O presidente Jair Bolsonaro é o segundo, com 35%. A diferença para Lula é de nove pontos percentuais. O resultado é de um cenário testado com 12 nomes.
Nessa sondagem, o Ipespe entrou em contato por telefone com 2.000 entrevistados, de 16 anos ou mais, entre os dias 20 de 22 de julho. O nível de confiança é de 95,5%, e o custo foi de R$ 84.000. A pesquisa foi registrada no TSE sob o número BR-08220/2022.
Sobre o ex-presidente Lula, Lavareda disse que o petista tem vantagem no eleitorado que baseia o voto numa lembrança de como foram governos anteriores.
"Há na ciência política o voto prospectivo retrospectivo. Isso significa que o eleitor com dificuldade para entender programas de candidatos, e essa dificuldade se dá também pela falta de credibilidade, ele imagina que o governo será parecido com o que o personagem fez no passado. Nesse confronto, das avaliações de governo, o saldo é francamente favorável a Lula. O Ipespe avaliou em março como foram os governos de Lula na visão dos entrevistados e o percentual de ótimo e bom foi de 58%. No momento, Bolsonaro fica entre 32% e 34% de ótimo e bom. Essa diferença se espelha no cenário de segundo turno da eleição, onde Lula aparece com 53% e Bolsonaro com 36%."
Durante o programa Corrida Eleitoral, Lavareda ainda destacou que a campanha de rádio e TV ainda se faz importante e pode influenciar o rumo da eleição. A partir de 26 de agosto até 29 de setembro de 2022, será veiculada a propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão relativa ao primeiro turno.