Frente Popular se divide entre Marília Arraes e Raquel Lyra e provoca reconfiguração na divisão das forças políticas de Pernambuco

A coligação deu sustentação aos governos do PSB por 16 anos, mas não conseguiu levar Danilo Cabral (PSB) ao segundo turno das eleições de 2022
Renata Monteiro
Publicado em 15/10/2022 às 13:45
Candidatas ao governo de Pernambuco, Marília Arraes (Solidariedade) e Raquel Lyra (PSDB) Foto: Reprodução


Duas semanas após a votação do primeiro turno, que levou Marília Arraes (Solidariedade) e Raquel Lyra (PSDB) para a segunda fase da disputa pelo Palácio do Campo das Princesas, as forças políticas pernambucanas parecem completamente reconfiguradas. E essa rearrumação atingiu, sobretudo, a Frente Popular, coligação que deu sustentação aos governos do PSB por 16 anos, mas não conseguiu eleger Danilo Cabral (PSB) este ano.

Em 2018, ano da última eleição para governador, Paulo Câmara (PSB) recebeu o apoio de 13 partidos. Com o PSB fora do segundo turno em 2022, a maior parte dessas siglas decidiu marchar com Marília, como o PDT, PCdoB, Republicanos, PT, PSOL e os próprios socialistas. Vale salientar, no entanto, que a coligação já dava sinais de desestruturação há alguns meses, e algumas das legendas que compunham o coletivo apostaram em Marília desde o primeiro turno, como é o caso do PSD e do Avante.

“Estamos com Marília, estamos com o time de Lula em Pernambuco! Vamos juntos, construir um novo tempo de esperança em Pernambuco”, pontuou o deputado federal Wolney Queiroz, presidente estadual do PDT, ao firmar aliança com Marília, há cerca de uma semana.

Vice-governadora de Pernambuco, Luciana Santos, que preside nacionalmente o PCdoB, disse que a decisão de caminhar ao lado de Marília se deu porque “essa é a posição política que fortalece a candidatura de Lula”. “O PCdoB, o Republicanos e o PDT se reuniram nesta quarta-feira (5) e decidiram pelo apoio à candidatura de Marília Arraes ao Governo de Pernambuco. A decisão se deu pela compreensão de que essa é a posição política que fortalece a candidatura de Lula em nosso Estado. Nesse momento somamos todas as forças para garantir a eleição de Lula, com um percentual ainda maior de votos, refletindo o desejo da nossa gente de voltar a viver em um país democrático, desenvolvido e com oportunidade para todo”, pontuou, nas suas redes sociais.

Apesar de ter se ligado a bem menos siglas da Frente Popular do que Marília, Raquel Lyra também agregou apoios importantes da coligação à sua campanha. Há alguns dias, as principais lideranças do MDB em Pernambuco, o senador Jarbas Vasconcelos e o deputado federal Raul Henry, declararam voto à tucana. O partido, contudo, liberou os filiados a votar em quem quisessem.

“A ex-prefeita de Caruaru, Raquel Lyra, teve uma sólida e reconhecida gestão na capital do Agreste. É moderna, socialmente justa, preparada, ética e realizadora. Sua presença no segundo turno nos oferece uma opção segura para o Governo de Pernambuco nos próximos quatro anos. Raquel é neta, sobrinha e filha de amigos fraternos de resistentes lutas, e sua companheira de chapa, Priscila, é diferenciada, filha de um amigo da vida inteira, e exemplo de espírito público, Gustavo Krause. Elas são as minhas candidatas para a eleição do próximo dia 30 de outubro”, disse o senador, por nota, apenas dois dias após a eleição.

O gesto de Jarbas - que já foi prefeito do Recife, além de governador de Pernambuco - e Raul tem um forte simbolismo, pois marca a reaproximação do grupo político dos parlamentares com a centro-direita pernambucana após cerca de uma década de aliança com a centro-esquerda do Estado. Uma das vozes mais ativas na luta pela redemocratização brasileira na ditadura militar, Jarbas se distanciou de Miguel Arraes e Eduardo Campos no início dos anos 1990 e se aliou ao PFL (hoje União Brasil), criando a União Por Pernambuco.

A relação das lideranças emedebistas só voltou às boas com a esquerda do Estado em 2012, quando a sigla apoiou a eleição de Geraldo Julio (PSB) para prefeito do Recife.

Além disso, Raquel recebeu, ontem, a declaração de apoio do Progressistas-PE, legenda liderada localmente pelo deputado federal Eduardo da Fonte. O partido possui quase 30 prefeitos eleitos e abriga boa parte das principais lideranças religiosas e conservadoras pernambucanas, como os casais Collins e Tércio, que também afirmaram que votam na tucana. Agremiações como o Podemos, Cidadania e lideranças de partidos como o União Brasil, que não faziam parte da Frente Popular, também já disseram que estão com Raquel Lyra.

“Raquel tem capacidade de diálogo com as igrejas, com as comunidades terapêuticas, e espero que ela tenha uma grande política sobre drogas no nosso Estado. Um trabalho que nós fazemos há muitos anos. Essa é a nossa grande preocupação, mas entendemos que Raquel Lyra é a melhor”, declarou o deputado estadual Cleiton Colllins, em vídeo publicado no seu Instagram.

Com a corrida presidencial também disputada em dois turnos, a estratégia de Marília tem sido trazer para o âmbito local a polarização que dominou toda a campanha nacional. Ladeada por um grande número de partidos de esquerda, a deputada optou por associar a própria imagem à do ex-presidente Lula (PT) e a de Raquel à do presidente Jair Bolsonaro (PL), embora a ex-prefeita de Caruaru tenha preferido manter-se neutra nesta fase do pleito.

A presidente do PSDB, por sua vez, já vinha desde o primeiro turno ligando Marília às gestões do PSB, altamente mal avaliadas pelos pernambucanos. A expectativa é que, com a visita de Lula ao Recife e consequente pacificação entre a candidata e os socialistas, Raquel intensifique a tentativa de colar a rejeição de Paulo Câmara à adversária.

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