O ano de 2021 bateu o recorde de divórcios desde o início da contagem, em 2007. De acordo com o Colégio Notarial do Brasil, entidade que representa 8.580 cartórios de notas do país , 80.573 casais desfizeram a união em 2021.
Apesar de ter se tornado uma prática mais comum e aceita socialmente, muitos casais ainda relutam em enfrentar o processo de separação. O psicólogo André Barbosa responde: o que pode levar um casal a terminar seu casamento? A resposta não pode ser genérica, já que cada relacionamento é constituído por pessoas que têm sentimentos, vontades e atitudes únicas.
André explica que muitos casais postergam a separação mesmo sabendo que o relacionamento não funciona mais, o que pode ter uma grave consequência: a perda de tempo.
“O tempo passa e tempo a gente não recupera. Cada vez que você tem mais certeza que está com uma pessoa que você sabe que já não funciona, é como se você tivesse também aprisionada, tolerando uma vida de migalhas, deixando de viver novas experiências, deixando de comprar uma outra pessoa que te faça mais feliz e ainda não permitindo outro que tem ao lado uma relação também boa, uma relação saudável, de amor, de admiração, de desejos, de simplicidade, de amizade, então assim, a maior consequência perda é perder esse tempo, o tempo não volta”, pondera o especialista.
O especialista também disse que existem formas de acabar com um casamento distintas: a amigável e a que traz prejuízos aos envolvidos.
“Existe o disfuncional de uma relação que não deu certo e de uma relação tóxica e abusiva. Quando uma relação simplesmente não funciona, mas tem a amizade, o respeito, as coisas são resolvidas de forma pacífica. As pessoas têm muito mais dificuldade de separar quando estão em uma relação tóxica e abusiva do que de uma relação que simplesmente não deu certo”, explica.
Por outro lado, o especialista afirma que, muitas vezes, as pessoas que têm uma relação onde não aconteceu nenhum episódio grave, mas simplesmente o sentimento foi se transformando e quebrando a expectativa do que se imaginava ser um relacionamento e precisa chegar ao fim, não aceitam que essa decisão deve ser tomada.
“Pode ser que o relacionamento se transformou em pura amizade. Com o passar do tempo, ao longo do relacionamento, inclusive por questões filogenéticas, a relação vai se tornando nisso mesmo: uma amizade, uma parceria”, pontua.
Já em situações onde as relações são abusivas e tóxicas, há ainda mais dificuldade. “Nessa relação se pressupõe que um dos dois é o abusador e o outro é o dependente emocional. A pessoa que tem uma dependência emocional é como se fosse uma dependência química. Sabe que faz mal, mas continua lá. Ela sabe que em vários momentos aquela relação tá enterrando ela, mas ela têm dificuldade de sair porque o próprio papel do abusador é imputar na cabeça do outro que ela não é nada, que o abusador é o príncipe encantado da vida dela, que o abusador quem está dando uma chance”, diz.
Quando o casal tem filhos a situação parece ser ainda mais complexa. Barbosa afirma que muitos casais alegam não entrar com processo de divórcio por conta das crianças.
“Isso é complexo porque existe uma consequência na formação de personalidade do sujeito nascendo em um ambiente onde os pais não têm uma relação conjugal afetiva e efetiva também, o que pode depender da relação entre o casal e também entre cada um e a criança”, afirma.
Ainda conforme o psicólogo, o primeiro exemplo que a criança tem de uma relação é a que vê dentro de casa e por causa disso, ela provavelmente vai transpor aquilo que ela entendeu sobre o que é uma relação para a vida dela.
“Quando um casal simplesmente não funciona, não tem agressão, não tem ambiente tóxico, mas não tem uma relação entre si e são parceiros pra criar os filhos, ainda assim existem consequências, porquê a criança vai aprendendo um papel frio nos relacionamentos. Isso não é bom. O sujeito se torna uma pessoa mais insegura, mais cética em relação aos relacionamentos. Já em relacionamentos tóxicos e abusivos onde existe agressão, brigas, torturas e pressões psicológicas, a criança pode ter prejuízos incontáveis, podendo até desenvolver um transtorno de personalidade, como o borderline”, finalizou.