Estadão Conteúdo
Rivais na semifinal da Copa Libertadores, Palmeiras e Atlético-MG têm semelhanças em seus projetos. Ambos contaram com aportes financeiros milionários de terceiros para se estruturar, voltar a disputar títulos e resgatar o protagonismo no futebol brasileiro. O clube paulista tem o apoio de Leila Pereira, dona das empresas que patrocinam o clube e bancam o maior patrocínio do País. Enquanto a equipe mineira conta com o suporte de Rubens Menin, além do auxílio de outros três empresários: Rafael Menin, Ricardo Guimarães e Renato Salvador.
Os projetos têm aspectos em comum, mas estão em fases diferentes O Palmeiras, já consolidado entre os principais clubes da América do Sul e atual campeão continental e da Copa do Brasil, começou sua reestruturação mais cedo, com o ex-presidente Paulo Nobre, então acionista do Itaú. Já o Atlético quer se igualar a Palmeiras e Flamengo como os mais ricos do Brasil e para isso tem o auxílio do grupo de "mecenas" conhecido como 4 R's, sendo o mais famoso deles o empresário Rubens Menin, maior acionista da MRV, uma construtora brasileira sediada em Belo Horizonte. Rubens Menin é seu acionista majoritário.
> Palmeiras x Atlético-MG: TV Jornal/SBT transmite confronto pela Libertadores
O Estadão conversou com o economista e consultor de gestão e finanças do esporte, Cesar Grafietti, para entender as diferenças e semelhanças entre os modelos de gestão adotados pelos dois clubes a fim de serem protagonistas. "O projeto do Palmeiras já é uma realidade. Já vai para o terceiro presidente diferente. Está consolidado. A diferença do Palmeiras e do Atlético está na origem dos projetos. O Palmeiras primeiro se reorganizou, depois ganhou um contorno de clube sustentável e vieram os títulos", explicou.
"O Atlético meio que errou a mão no começo. Começou a investir mais no elenco e menos em reestruturação, com atraso de salários para parte do grupo. Neste ano, o Atlético muda o foco e começa a colocar a casa em ordem. Entrou dinheiro para pagar dívida, para manter salários em dia e para fazer investimentos", observou o economista.
- Náutico pode terminar 25ª rodada da Série B na quinta posição; confira cenários
- Raio-X Coral: Veja quem pode ficar no Santa Cruz para a próxima temporada
- Veja onde assistir ao vivo Náutico x Londrina pela Série B
- Sport: sem "nevar" este ano, agora é hora de o tempo abrir de vez na Ilha do Retiro
- Presidente do Sport sobre treinador: 'Temos que dar um voto de confiança'
PAULO NOBRE, CREFISA E TÍTULOS - Advogado e investidor, Paulo Nobre presidiu o clube entre 2013 e 2016 e foi fundamental para a equipe se reerguer. Ele emprestou, por meio de dois fundos, cerca de R$ 145 milhões ao clube com a intenção de cobrir a dívida de curto prazo e fazer sua finança andar. Nos primeiros anos da gestão de Paulo Nobre, o Palmeiras retornou da Série B para a elite, passou dificuldades financeiras e quase foi novamente rebaixado. O mandatário, porém, teve sucesso em sua empreitada. O clube foi capaz de zerar os débitos com os bancos, depois reforçou seu elenco e voltou a levantar taças. O montante emprestado pelo dirigente poderia ser devolvido em até dez anos, mas foi quitado bem antes, em 2018, já na administração de Maurício Galiotte.
Paulo Nobre também foi responsável por colocar dinheiro do seu bolso em contratações como Roger Guedes, Yerry Mina e Cristaldo, por exemplo. Além disso, foi ele quem viabilizou em 2015 o patrocínio da Crefisa, cujos donos são Jose Roberto Lamacchia e Leila Pereira. Os dois se tornaram conselheiros e Leila é candidata a suceder Galiotte na presidência do Palmeiras na eleição deste ano.
A partir da chegada da Crefisa, o Palmeiras mudou seus planos, tornou-se o mais rico do Brasil e passou a investir alto em contratações com a ajuda da patrocinadora. Como resultado, voltou a conquistar títulos. De 2015 até este ano, foi campeão brasileiro duas vezes, ergueu mais dois troféus da Copa do Brasil, um do Paulistão e sagrou-se vencedor da Libertadores depois de 21 anos. "O Palmeiras tinha a seguinte linha de raciocínio: organizo a casa, contrato e cresço. O Atlético contratou, reorganizou a casa e agora tenta crescer. Na verdade, está fazendo tudo junto enquanto que o Palmeiras teve estágios de desenvolvimento do projeto", disse Grafietti.
Tudo começou com um patrocínio de R$ 23 milhões. Atualmente está em R$ 81 milhões e no total, segundo Leila, suas empresas já investiu R$ 800 milhões no clube em seis anos de parceria. Em janeiro de 2018, o Palmeiras e a empresa assinaram um termo aditivo sobre o formato da operação utilizada entre ambos para contratar jogadores com recursos vindos da patrocinadora. Em vez de configurar como compras de propriedade de marketing, passou a ser um empréstimo com juros corrigidos pelo CDI. O acordo foi refeito para se adequar a uma exigência da Receita Federal, que multou a Crefisa no fim de 2017 por considerar inadequado o formato utilizado anteriormente.
A parceira empresta valores com juros irrisórios, alguns nem são cobrados, e pega de volta o dinheiro caso o clube negocie o atleta comprado. Nesses moldes desde 2019, a Crefisa tem R$ 160 milhões a receber de atletas que não saíram, como Borja, maior investimento, US$ 10 milhões (hoje R$ 53 milhões), e Lucas Lima, adquirido por R$ 17,5 milhões. Ambos não fazem mais parte do elenco, mas ainda têm contratos presos ao Palmeiras.
"O Palmeiras tem totais condições de cumprir com esses compromissos. Vai cumprir, não tenho dúvida. Uma parte dessa dívida já foi paga, porque ela é garantida pelos ativos, que são os jogadores", minimizou a parceira e conselheira mais votada no último pleito, com 387 votos. A parceira que começou em 2015 foi renovada por mais três anos, até 2024. Até lá, Leila tem a ambição de presidir o clube. Seria a primeira mulher a dirigir o Palmeiras em sua história.
ATLÉTICO-MG CONTA COM OS 4 'R'S' - Se o Palmeiras primeiro reorganizou seu modelo de gestão e se reestruturou financeiramente para depois desembolsar grandes quantias em reforços importantes, o projeto do Atlético-MG é diferente. O clube trouxe contratações caras para ganhar títulos, ampliar seu faturamento e reduzir a dívida de R$ 1,2 bilhão, a maior entre as principais agremiações do País. O clube ganhou a primeira edição do Brasileirão, em 1971, e não ganhou mais. Atualmente, lidera a competição e alimenta a chance de dar a volta olímpica após 50 anos.
O clube mineiro ainda está consideravelmente atrás de Palmeiras e Flamengo no valor arrecadado anualmente, mas corre por fora para bater de frente com os rivais neste quesito. Ainda há uma visível discrepância especialmente na comercialização dos direitos de televisão e nos valores pagos por patrocinadores. Segundo estudo do futebol brasileiro feito pelo Itaú BBA, o Atlético-MG ganhou R$ 21 milhões com publicidade em 2020, enquanto que o Palmeiras obteve R$ 127 milhões, a maior quantia entre todos os times brasileiros.
Mas há um grupo de empresários que quer mudar esse cenário. Rubens e Rafael Menin, Ricardo Guimarães e Renato Salvador já investiram quase R$ 400 milhões no clube de Minas e não vão cobrar juros para ter o dinheiro de volta. "Nós todos, juntos, colocamos aproximadamente R$ 400 milhões. Queremos receber quando for possível. Está no planejamento. Isso é sem juros. Uma dívida de R$ 400 milhões custaria aproximadamente R$ 50 milhões por ano (em condições normais de juros). Mas não tem juros, o que é muito bom ao Atlético", afirmou Rubens Menin em entrevista à Rádio Bandeirantes recentemente.
Para diversificar e aumentar o faturamento, o grande trunfo do Atlético é a Arena MRV. Com o estádio, em construção e com previsão de ser inaugurada em 2023, o clube quer receber R$ 100 milhões por ano a partir do terceiro ano de funcionamento. Isso por meio de bilheteria, eventos, shows e locações corporativas. A conta é a mesma feita por outras equipes, como a de Parque São Jorge, em São Paulo. O Corinthians tem os mesmos planos com sua arena em Itaquera.
"O Atlético-MG entrou em 2021 no ritmo que o Palmeiras tinha em seu começo de gestão, em 2015. Agora estão na fase em colocar o time em ordem, esperar o estádio ser inaugurado para depois dar o salto que o Palmeiras deu lá atrás, com conquistas. Eles começaram errado no projeto, com atraso de salários em novembro de 2020 e um elenco que já era caro, mas hoje estão mais organizados", pontuou o especialista em finanças do esporte. "O desenvolvimento do projeto foi confuso no início, mas houve correção de rotas".
Também existe no clube de Belo Horizonte a meta de alcançar 100 mil sócios-torcedores com a ajuda da arena multiuso, que terá capacidade para cerca de 50 mil pessoas. Atualmente, há pouco mais de 73 mil sócios. Em campo, o time está bem demais. É semifinalista da Libertadores e lidera o Brasileirão, por exemplo. Tem um time com excelentes jogadores, como Hulk e Diego Costa, e é apontado com um dos mais fortes do Brasil. Para ganhar fôlego, da torcida espera que passe pelo Palmeiras e chegue à decisão da competição sul-americana. Na semana que vem, joga em Belo Horizonte, com torcida.