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ENTREVISTA

Técnico do Náutico Hélio dos Anjos diz que presidente de clube não tem que cuidar de detalhes: "Tem que fazer tremer"

Em entrevista ao Blog do Torcedor, Hélio dos Anjos falou sobre a saída do Náutico, fez avaliação do seu trabalho na temporada e contou o que planeja para 2022

Cadastrado por

Marcelo Cavalcante

Publicado em 03/12/2021 às 11:34 | Atualizado em 07/06/2022 às 17:42
Hélio dos Anjos renovou contrato e segue à frente do Náutico para a temporada 2022 - CAIO MARQUES/NÁUTICO

O técnico Hélio dos Anjos foi o principal responsável pela mudança de comportamento do Náutico que disputou a Série B de 2020.



Em meio a uma crise, quase caindo para a Série C, Hélio estruturou a equipe, deu confiança aos jogadores e prometeu que não haveria queda. Cumpriu.

Deu sequência ao trabalho em 2021, sendo campeão pernambucano em cima do rival Sport e apresentando um futebol empolgante no início da Série B, ao ponto de manter invencibilidade de 14 partidas. Um recorde.

Mas a queda de rendimento, sua saída do clube e volta um mês depois atrapalharam os planos. Nessa entrevista, Hélio dos Anjos faz avaliação do trabalho e dos planos para 2022.

Hélio dos anjos fala sobre futuro do elenco do Náutico

Blog do Torcedor - O que de positivo na temporada você pretende levar para 2022?

Hélio dos Anjos - O mais importante para mim foi a consistência do trabalho do clube como um todo. O reflexo em campo foi mais positivo.

Principalmente se compararmos com o ano passado, quando o Náutico não teve direito a um calendário cheio de competições. O time fez uma Série B bastante sofrida.

Em 2021, o Náutico teve um modelo de jogo definido no Campeonato Pernambucano, relação boa com a torcida, ganhamos consistência, recuperamos o calendário. Na Série B, fizemos todos sonharem alto.

Mas os percalços da competição... A gente sabia que iam acontecer. Não eram 14 jogos invictos que davam a certeza que a gente ia ganhar tudo.

Não teve nenhum time na nossa frente tenha um investimento menor do que o Náutico. Enfim, tivemos um crescimento. O Náutico não passou perigo de ter um calendário vazio na próxima temporada.

BdT - O que de negativo houve que você se arrepende?

HA - Acho que eu poderia ter um pouco mais de paciência. Poderia ter dado uma segurada para dar sequência ao trabalho.

BdT - Então a sua saída prejudicou a luta pelo acesso. Como estava sua relação com a diretoria?

HA - O momento não era fácil com a diretoria (Nota: Hélio dos Anjos não detalhou o que teria acontecido para tomar a decisão de sair.

Mas é bom lembrar ao torcedor que, para acontecer a sua volta, muitas reuniões com outros alvirrubros foram realizadas para que ele aceitasse o retorno). Questão de formação de elenco...

Muita gente fala muito e não sabe a verdade: nunca enfiei jogador goela abaixo. Nunca bati na mesa. Formação de grupo se discute. Quem decide salário não sou eu. Se pedirem para conversar com o atleta, ajudar no acordo, aí sim, eu converso.

Bdt - Um dos destaques do Náutico na conquista da Série C foi Matheus Carvalho. Mas sob o seu comando, quase não foi utilizado. Porque?

HA - No primeiro jogo do ano, contra o Botafogo-PB, o Jean Carlos estava fora. Coloquei Matheus na função de Jean. Ele sentiu problemas musculares. Ele era um dos jogadores que eu mais conversava.

Tirei a pressão dele, de se cobrar, de querer acertar. Um garoto tranquilo. Mas o treinador trabalha o dia a dia. O atleta tem que provar todos os treinos e no jogo provar novamente.

O Matheus e aos outros ofereci muito trabalho, muita atenção. Ele entrou bem no jogo contra Coritiba. Achávamos que ele iria crescer, mas não aconteceu.

Matheus Carvalho poderia fazer o papel de Jean Carlos ou lado esquerdo de Vinícius. Mas o forte dele era mesmo no meio central, só que Jean era o melhor da posição na Série B.

E aí, entra a situação psicológica. E eu não posso pensar no que o jogador fez em 2019. Pelo passado recente positivo, a gente acaba tendo mais paciência. No entanto, futebol é momento. Em 2022, serei exigido no que eu vou fazer em 2022.

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BdT - Você disse que a divisão de base precisa melhorar 100%, no entanto, usou muitos jogadores da base durante o campeonato. Você mantém o mesmo ponto de vista?

HA - As pessoas interpretam do jeito que querem. Eu tive uma participação direta na renovação de Tássio, por exemplo (o jovem lateral entrou no time na reta final da Série B, jogou bem e estendeu seu contrato por mais duas temporadas).

Quando ele surgiu, poderia ter assinado com qualquer clube. Eu o chamei e disse "gratidão" para ele avaliar, valorizar o clube que o lançou. Em relação à base, é questão de estrutura.

Se melhorar a estrutura, quem sabe que a gente tem o dobro de jogadores que lançamos nesse ano. Mas, no Brasil, se revela atletas na base do milagre de Deus.

E isso pela pela quantidade de jogos. A garotada joga muito pouco. Precisam de calendário. Todos os clubes tem que discutir o processo de revelar jogadores. Ele precisa existir, com apoio dos dirigentes e feito por profissionais. 

BdT - Para 2022, qual sua expectativa? Vai mudar perfil da equipe? Já está de olho no mercado, nos reforços?

HA - O perfil da equipe não vai mudar. A característica de jogo do time foi a grande mudança e tão bem aceita pelo torcedor. Nós temos um tipo jogo que, de fato, chama muito a atenção. Você observa o futebol da Europa...

O Manchester, time calmo, posse de bola, se precisar, roda várias vezes área. Já o Liverpool é o caminhão doido, que massacra.

Eu gosto de futebol e gosto da intensidade do Liverpool, que beira quase o impossível para vencer. Eu prefiro assim.

Muita gente fala "Quem faz linha alta, tem que ter jogadores sensacionais". Eu fiz linha alta com os clubes do nosso mesmo nível técnico. Não fiz tática suicida.

Gostei da minha formação: Matheus Jesus, Raldney e Matheus Trindade. Todo mundo gosta de linha alta, e o Náutico faz isso. Tivemos problemas em situação de jogo, mas que não vou expor, e que fazem parte.

Os jogadores do Náutico adoram jogar assim e isso para mim é muito importante. Então, vamos atrás de atletas que tenham esse perfil. O treinador tem que passar por esse processo de formação de elenco. Independente de estar no Náutico, eu sempre olho o mercado. Falo muito com amigos sobre jogadores.

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BdT - Como você avalia seu comportamento na beira do gramado...você estava mais nervoso?

HA - Olha, o grupo me entende muito bem. Liderança dá liberdade para muita coisa. O jogador sabe que o "vai tomar no ..." é uma reação, não é uma ofensa.

O líder que consegue que os jogadores entendam isso, tem mesmo liderança, o grupo me respeita. Foi m ano de relação boa com o elenco, com a comissão técnica e funcionários do CT.

Quero agradecer a Deus se tiver mais relações assim. Sobre a relação com os árbitros. A ação deles está sendo muito questionada. O quarto árbitro virou um inimigo.

Estou preferindo os árbitros mais antigos, que são polidos. Os mais novos têm o perfil do (Leonardo) Gaciba - ex-chefe da comissão de arbitragem -, que é prepotente.

BdT - Como você vê o cenário político do Náutico e qual a sua expectativa para 2022?

HA - O que eu penso sobre presidente de um clube: a estrutura do trabalho não é para que ele cuide dos detalhes, das coisas pequenas. Ele tem que chegar apenas para decidir.

O presidente está muito acima disso tudo. Os funcionários não podem deixar que os detalhes, as coisas pequenas cheguem a ele. São poucos que fazem com que o presidente seja presidente.

Falar muito com o grupo é ruim. Ele tem que ser pontual. Quando o presidente chega, o clube tem que tremer. Fazer as pessoas comentarem que ele está no clube.

Vejo o cenário político do Náutico como algo muito normal. Ter a disputa é sinal de democracia. Não tomei partido.

Eu não me vejo com direito de apoiar alguém, nem curtir foto na internet, nem comentar. Para mim, qualquer ideia que for boa para o Náutico, eu acho boa.

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