Bolsonaro inclui Coronavac em plano e imunização pode começar em fevereiro

No plano apresentado nesta terça-feira (16), incluiu a Coronavac, desenvolvido pelo laboratório chinês Sinovac e do Instituto Butantã
Estadão Conteúdo
Publicado em 17/12/2020 às 9:12
De acordo com o Ministério da Saúde, cronograma só será estabelecido após aprovação da Anvisa Foto: Reuters/Imago Imagens/Direitos reservados


Considerando pela primeira vez o uso da vacina chinesa Coronovac, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, estimou ontem que o governo deve começar a imunização contra a covid-19 no País em "meados de fevereiro". A nova previsão, que depende do registro e da compra dos imunizantes, foi anunciada em entrevista após o lançamento do plano nacional de imunização, em evento no Palácio do Planalto que marcou mudança de tom do presidente Jair Bolsonaro sobre o tema.
 
Após meses de embate com governadores sobre o enfrentamento da pandemia, Bolsonaro pregou "união" com autoridades estaduais pelo "bem comum" e minimizou "exageros" ocorridos. O governo tem sido pressionado a apresentar soluções, após Reino Unido e Estados Unidos começarem a vacinar. Por outro lado, o Brasil assiste a uma escalada de mortes - ontem, pela segunda vez consecutiva, o País superou 900 registros em 24 horas, segundo dados do consórcio de imprensa coletados com as secretarias de saúde.
 
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No plano apresentado nesta terça-feira (16), incluiu a Coronavac, desenvolvido pelo laboratório chinês Sinovac e do Instituto Butantã, ligado ao governo de São Paulo, comandado por João Doria (PSDB), rival de Bolsonaro.
 
A gestão Helder Barbalho (MDB), do Pará, disse que técnicos do ministério afirmaram, em reunião com governadores, que a pasta prevê fechar esta semana contrato com o Butantã para comprar 45 milhões de doses. Segundo o governo paraense, a previsão informada pelo Butantã seria de 20 milhões de doses até 30 de janeiro. O governador do Piauí, Wellington Dias (PT), também citou que o ministério de doses disponíveis já no mês que vem.
 
Em nota, o Butantã disse que enviou proposta ao ministério para fornecer doses em janeiro, sem falar em datas ou quantidade.
 
Caso a União confirme a compra, prossegue o instituto, o envio do produto ocorrerá tão logo haja registro da Anvisa. Indagado sobre as falas dos governadores, o ministério voltou a dizer que "não há data definida para início da vacinação" e afirmou que o calendário depende de registro na Anvisa.
 
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Para começar em fevereiro, Pazuello disse na entrevista coletiva que Butantã e Fiocruz devem entregar dados finais dos testes clínicos à agência ainda em dezembro. "Aí teremos janeiro para a análise da Anvisa e possivelmente em meados de fevereiro para frente estejamos com essas vacinas." A Fiocruz, vai produzir doses do imunizante da Universidade de Oxford e do laboratório AstraZeneca.
 
Mas os cientistas responsáveis pela vacina de Oxford já reconheceram erros nos testes e a necessidade de ampliar ensaios clínicos para medir a eficácia, o que deve atrasar o registro. Já o Butantã trabalha para o registro da Coronavac e diz que os dados finais chegam à Anvisa no dia 23.
 
Outro discurso
 
O evento teve a presença de governadores da oposição, como os petistas Wellington Dias e Camilo Santana, do Ceará, e Fátima Bezerra, do Rio Grande do Norte. Doria não foi. "Se algum de nós extrapolou, ou exagerou, foi no afã de buscar solução", afirmou o presidente. Em declarações anteriores, ele preferiu o confronto. Em outubro, chamou a Coronavac de "vacina chinesa de João Doria" e disse que não compraria o imunizante. No mês seguinte, comemorou quando os estudos foram interrompidos.
 
A mudança de tom ocorre após queda da avaliação positiva de Bolsonaro, de 40%, em setembro, para 35%, segundo dados do Ibope. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse ao Estadão semana passada que a demora para iniciar a vacinação é o "maior erro político" do presidente e pode afetar o projeto de reeleição. A pressão contra o governo aumentou após Doria prever o início da campanha de vacinação em São Paulo em 25 de janeiro.
 
No evento ontem, Pazuello disse que há "desinformação" sobre a capacidade do Brasil de conduzir a vacinação. "Para quê essa ansiedade, essa angústia? Somos a referência da América Latina (em imunização)", disse. "Todas as vacinas produzidas no Brasil, ou pelo Butantã, ou por Fiocruz ou qualquer indústria, terá prioridade do SUS. Isso está pacificado."
 
Na nova versão do plano, a pasta afirma já negociar cerca de 350 milhões de doses para 2021, o suficiente para imunizar 175 milhões de pessoas no País. Além dos acordos já mencionados na versão anterior do plano, que incluíam as vacinas de Oxford/ (210 milhões), consórcio Covax Facility (42,5 milhões) e Pfizer (70 milhões), o ministério adicionou ao planejamento 38 milhões de doses do imunizante da farmacêutica Janssen, também testado no Brasil. Conforme o governo, 3 milhões de doses dessa vacina seriam ofertadas no 2º trimestre de 2021; 8 milhões, no 3º trimestre; e 27 milhões, no 4º trimestre.
 
Seringas. Paulo Henrique Fraccaro, superintendente da Associação Brasileira de Artigos e Equipamentos Médicos e Odontológicos, garantiu que não faltará seringa. Com pregão para a compra marcado para o dia 29, afirmou que haverá tempo para que as 330 milhões de seringas que o governo quer comprar sejam entregues de modo escalonado. "Não dá para ser entrega única, mas o momento é positivo. Há três semanas não tínhamos ideia de quando seria o pregão."
 
Todas as empresas brasileiras produtoras do material, diz, são capazes de entregar volumes mensais de 10 a 20 milhões. á ainda importadoras devidamente regulamentadas atuando no País.
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