O governo dos Estados Unidos anunciou nesta sexta-feira (3) em um relatório científico que as mudanças climáticas são causadas pela atividade humana e que afeta a vida dos americanos.
O relatório federal, conhecido como Quarta Avaliação Nacional sobre o Clima, é emitido a cada quatro anos.
Trata-se do primeiro documento divulgado durante o mandato de Donald Trump, que nega o aquecimento global, qualificando-o de "piada criada pelos chineses", e que nomeou o defensor dos combustíveis fósseis Scott Pruitt à frente da Agência de Proteção Ambiental (EPA, em inglês).
Com base em "uma ampla pesquisa científica, revisada por colegas", a média global anual da temperatura do ar na superfície aumentou cerca de 1ºC nos últimos 115 anos (1901–2016), assinala o documento.
"Este período é agora o mais quente da História da civilização moderna", constata o relatório.
O documento foi copilado pela NOAA (Administração Oceânica e Atmosférica Nacional), com contribuições da Nasa, do Departamento de Energia e de outras agências federais americanas.
Depois do último relatório deste tipo publicado em 2014, "emergiu uma evidência mais sólida do contínuo e rápido aquecimento de origem humana da atmosfera e oceanos", adverte o documento.
"É extremamente possível que atividades humanas, especialmente emissões de gases de efeito estufa, sejam a causa do aquecimento observado desde meados do século XX", assinala, destacando que "não há uma explicação alternativa convincente".
Depois de examinar os dados sobre o clima de milhares de anos atrás, o relatório constata que "a média de temperaturas nas últimas décadas em grande parte do mundo foi muito mais alta e aumentou muito mais rápido do que em qualquer outro período nos últimos 1.700 anos, ou mais".
O Relatório Especial Científico sobre o Clima (CSSR), parte da Avaliação Nacional do Clima, "é uma análise científica da mudança climática focada nos Estados Unidos", disse a NOAA em comunicado.
"Serve como fundamento para avaliar os riscos associados ao clima e dar respostas para a tomada de decisões", acrescentou.
"As novas observações e pesquisas aumentaram nossa compreensão científica sobre a mudança climática no passado, presente e futuro desde a Terceira Avaliação Nacional sobre o Clima (NCA3) publicada em maio de 2014", afirmou o texto.
As conclusões não surpreenderam os climatologistas.
"Isso não é novo", disse Peter Gleick, presidente emérito do Pacific Institute e membro da Academia Nacional de Ciências americana.
"Isso é notícia somente porque Trump não pode censurar", escreveu no Twitter.
Pruitt, diretor da EPA, escandalizou os cientistas no início do ano ao argumentar em entrevista que o dióxido de carbono não é a principal causa da mudança climática.
Nesta semana, o senador democrata Al Franken, de Minnesota, e oito colegas enviaram uma carta a Trump para perguntar "que salvaguardas ativaram para assegurar" que esses relatórios "proporcionem um resumo científico rigoroso sobre o clima sem interferências políticas".
Em coletiva por telefone, David Fahey, diretor da divisão de Ciências Químicas da NOAA, um dos principais coordenadores do documento, assinalou que "não houve nenhuma interferência política na mensagem científica do relatório".